O verde da mata fechada misturado ao vermelho dos créditos inicias já revelam o que o espectador de “A vida invisível” verá na tela: um filme cheio de brasilidade, mas duro, forte e intenso. Em uma sessão especial no Paradigma Cine Arte, as catarinenses Nina Kopko, diretora-assistente, e Mariana Coelho, produtora-executiva, debateram as escolhas da produção, falaram sobre as premiações e deixaram claro: o filme mostra a força das mulheres, silenciadas pelo machismo, para a história seja cada vez mais transformada.
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A transformação do livro com o mesmo nome, da escritora brasileira Martha Batalha, foi proposta pela cineasta Nina Kopko. Ao devorar a história em apenas dois dias, ela sabia que tinha descoberto uma grande história para as telonas. A catarinense sugeriu a aquisição dos direitos de adaptação e viu a sua ideia transformar-se na aposta do Brasil ao Oscar. Desejo que ela carregava da época que saiu de Porto União, no Norte do Estado, para cursar a Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Quem também cruzou os corredores da universidade catarinense foi Mariana Coelho. Natural de Joinville, ela foi responsável por uma das funções mais duras da produção. Dos dados financeiros ao figurino, da divulgação aos projetos de exibição. Mariana executou a única atividade que, em levantamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine) , as mulheres aparecem em maior número que os homens, representando 39,7% das equipes exclusivas.
Confira o bate-papo com Nina Kopko e Mariana Coelho
O filme mostra cartas escritas entre as irmãs. As atrizes escreveram estas cartas? Como foi essa parte da preparação de elenco?
Nina Kopko – Foi uma ideia que eu tive delas escreverem, elas começaram com um diário. Essa foi a parte que mais trabalhei. O processo da sala de ensaio ele tem alguns improvisos de cena, e isto serve para o processo de criação de personagem. Eu tinha que fazer duas mulheres que não se conheciam, se apaixonassem uma pela outra a ponta de uma não viver sem a outra. (…) Então, o processo começava com elas escrevendo 10 eventos da vida para cada uma. Elas escreviam em casa e elas faziam uma improvisação daqueles momentos. Elas descobriam então no corpo os sentimentos de medo, de briga, de amor. E isso eu poderia acessar durante o set, durante os momentos de ausência de cada uma delas. Depois, elas escreviam as cartas. Como elas se separam, quando as atrizes se viam no set, elas queriam contar o que filmavam e eu cuidava que quando elas tivessem juntas, elas matassem essa saudade.
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Como foi a relação com o diretor Karim Aïnouz, já que o filme tem toda essa potência feminina?
Nina Kopko – Ele ouve muito, ele ouve para questionar o que está fazendo. E eu provocava muito ele, e isso impactava muito. E o filme foi muito cercado de mulheres, a gente tinha uma regra que entre dois profissionais, se um dele fosse mulher, sempre ela seria escolhida. Mesmo que ela não tivesse experiência. Isso foi um diretriz do Karim.
Não é sobre ter um olhar feminino, porque eu não acredito nisso, acho que existem olhares. Mas tem o olhar do meu lugar de mulher. E isso impacto em como ela vai filmar a cena de sexo, como será a relação com a atriz no momento de nudez.
Mariana Coelho – É sempre muito difícil, por ser mulher, por ser mais nova. E eu nem me considero tão nova, tenho 31 anos. Mas a gente passa diretamente por esse processo, ainda mais dentro do cinema. (…) Pensei que ia demorar um tempo para ele me escutar, imagina ele não vai me escutar. O mais genial é que ele estava muito aberto e ele tem muito disso, qualquer pessoa que falar com ele, sobre qualquer processo do filme, ele vai sempre escutar.
Para muitas estudantes de cinema tudo que vocês estão vivendo parece distante: ter uma carreira de sucesso, ter um filme em Cannes e possivelmente no Oscar. O que vocês têm para dizer para as estudantes de cinema?
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Mariana Coelho – Eu trabalhei muito durante a faculdade, mas tem esse conselho que é muito valioso que é assistir a muitos filmes. Além disso, tem aquela de bater na porta mesmo, pedir uma oportunidade, enfim. É impressionante como esse mundo de referências que você possui quando vê muitos filmes, estuda sobre, ele te leva a lugares, são conversas, são ideias que surgem, isso é muito válido.