Josiane Beyer de Lima, 34 anos, ficou praticamente um ano tentando arrumar emprego. Não conseguiu e a saída para a moradora de São José, na Grande Florianópolis, foi virar empreendedora. A renda de trabalhos de locução em comércios e eventos ajuda, mas não garante alívio no orçamento da casa. Para diminuir as despesas, ela trocou o carro por uma moto, que consome menos combustível, e redobrou os cuidados com gastos de energia.

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A torneira elétrica agora só é ligada com água fria. O filho que ela e o noivo tanto querem teve que ficar para mais tarde, quando a condição financeira da família melhorar.

– A pandemia veio também para afetar bastante a renda familiar das pessoas. No meu caso foi o que aconteceu – diz ela.

O cenário não é isolado. Pesquisa Ipec contratada pela NSC revela que 39% dos catarinenses tiveram pouca ou muita perda de renda nos últimos 12 meses. Para 36% nada mudou e para 22% aumentou um pouco ou muito. Entre os 800 entrevistados, 14% revelaram que fizeram empréstimo, enquanto 12% adquiriram ou viram as dívidas crescerem. São situações que abrem caminho para a indesejada inadimplência, segundo especialistas.

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Quando o cobertor fica mais curto, não resta outra alternativa a não ser apertar o cinto. De acordo com a pesquisa, 29% dos entrevistados disseram que precisaram economizar para reduzir contas básicas como água, luz e gás. Outros 28% revelaram ter diminuído as compras no supermercado. Freio nas despesas com viagens, lazer e cultura foram citados por 12%, mesmo percentual dos que admitiram que mudaram marcas que costumavam consumir (veja mais no gráfico).

– Essas são as contas que mais impactam na cesta básica das famílias. Então é aí que elas terão que mexer – avalia Tatiane Vargas, economista e professora da Univerisdade Regional de Blumenau (Furb).

As transformações nos hábitos de consumo são consequência de uma conta desproporcional entre inflação e salário, analisam especialistas. Apesar da deflação de 0,68% em julho, o IPCA, indicador oficial de preços no Brasil, ainda acumula alta de 10,07% nos últimos 12 meses. A escalada de preços tem raízes em mais de um fenômeno, considera Pablo Bittencourt, economista-chefe da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc).

– O primeiro deles, sem dúvida, são os efeitos da pandemia, com as quedas das cadeias de produção no mundo todo. Isso é um elemento central para entender por que os preços subiram – pondera Bittencourt.

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A falta de insumos provocada por esse desarranjo, acrescenta, reduz a oferta, o que se reflete na ponta. A crise sanitária ainda hoje produz esse tipo de efeito, mas Bittencourt acredita que a situação deve se equilibrar nos próximos meses e principalmente a partir de 2023. Sobre as altas nos preços de alimentos, que pesam mais no dia a dia das famílias, o especialista lembra que a economia vem de safras ruins e que a guerra na Ucrânia também afeta o cenário.

Salários não acompanham o ritmo 

Os vencimentos dos trabalhadores, por outro lado, não acompanharam o mesmo ritmo da inflação. Dados do boletim Salariômetro apurados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostram que, entre janeiro e abril deste ano, somente quatro das 26 categorias profissionais pesquisadas em Santa Catarina tiveram aumento do salário-base acima da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), indicador semelhante ao IPCA. Outras 12 apenas conseguiram a reposição do índice, mas 10 ficaram abaixo disso, perdendo poder de compra.

Mesmo diante de um quadro de aperto nas contas, o catarinense, de modo geral, está de bem com a vida. A pesquisa mostra que 80% dos entrevistados ser consideram satisfeitos ou muito satisfeitos com a atual condição. Embora o cenário possa parecer contraditório, a economista e professora da Furb Tatiane Vargas tem uma tese.

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Para ela, isso pode ter relação com os índices econômicos de Santa Catarina, que estão acima da média nacional. No Estado, a taxa de desocupação é de 3,9%, segundo o IBGE, bem menor que a brasileira, que atingiu 9,3% no segundo trimestre do ano. 

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– Mesmo que as pessoas tenham que se apertar, muitas ainda dão conta da necessidade básica. Isso talvez seja específico do nosso Estado – avalia.

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Economista-chefe da Fiesc, Pablo Bittencourt tem opinião parecida. Ele cita a diversidade da economia de Santa Catarina, um trunfo sempre lembrado quase se analisa a oferta de vagas no mercado de trabalho no Estado. Também lembra que maioria das cidades catarinenses são de médio porte e sofrem pouco com as grandes mazelas sociais que atingem as metrópoles e os grandes centros urbanos do país.

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A pesquisa Ipec também perguntou aos catarinenses qual deve ser a prioridade do próximo governador de Santa Catarina, considerando uma lista de cinco eixos mapeados pelo projeto “SC Ainda Melhor”, da NSC. Quase metade dos entrevistados (47%) respondeu investimento em saúde a longo prazo.

O resultado contrasta com a queixa mais comum entre entidades representativas e ligadas ao setor produtivo, que é o investimento em infraestrutura. Para a economista e professora da Furb Tatiane Vargas, a preocupação com a saúde ainda está muito viva na memória dos catarinenses em função dos impactos da pandemia de Covid-19. Além disso, o crescimento de casos da varíola dos macacos também tem despertado aflição. 

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Já Pablo Bittencourt, da Fiesc, faz uma conexão entre os dois assuntos. Ele lembra que o empresariado tem uma visão de que investimentos em saúde e em outras áreas como educação podem crescer se a economia do Estado tiver mais competividade para aumentar a produtividade e ampliar mercados. Esse aumento na geração de receitas passaria principalmente por melhoras na infraestrutura logística. 

– Com isso gera mais arrecadação, que possibilita investimentos em outras áreas – compara Bittencourt.

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