O olhar atento de Mauro Schramm em frente ao computador enquanto analista de sistemas na Furb, em Blumenau, também se mostrou eficaz na observação do mundo que fica “ao lado de fora” da universidade, onde trabalha há 35 anos. Depois de se frustrar por não conseguir fazer bons registros da filha em apresentações da época de escola, ele decidiu estudar fotografia.

Continua depois da publicidade

Mauro só não imaginou que a ideia — sem qualquer relação com a profissão atual — fosse se tornar um talento até então desconhecido para o homem da área de TI. Tampouco que esse novo hobby resultaria em uma coleção de 600 espécies de pássaros já registradas por ele enquanto se aventura pelo Brasil com uma câmera em mãos (confira na galeria abaixo).

Inscreva-se e receba notícias pelo WhatsApp do Vale do Itajaí

Mesmo praticando a arte da fotografia desde 2011, o morador de Blumenau ainda se considera amador no ramo. À época, o interesse surgiu por causa da pequena Ana Clara Wehmtuh Schramm, que, atualmente, já tem 21 anos e faz faculdades de Arquitetura e Licenciatura em História, conforme conta o pai, orgulhoso.

— A maior motivação foi porque eu queria fazer registros das apresentações da minha filha na escola e eles sempre ficaram ruins. Aí eu precisava achar um jeito de melhorar isso — explica o “papai coruja”.

Continua depois da publicidade

Mauro com a filha, Ana Clara, e a esposa, Viviane (Foto: Arquivo pessoal)

A partir daí, Mauro começou a fazer cursos e descobriu um fascínio pela fotografia da natureza. Dos pássaros às estrelas, ele observa com cuidado o universo que remete à infância que teve, quando ainda vivia na cidade natal, em Gaspar.

Assim, para o homem que, hoje, tem 53 anos de idade, o novo hobby apareceu como uma forma de se reconectar com o passado, já que há mais de duas décadas Mauro se mudou para Blumenau e teve de deixar para trás o “respiro” em meio à natureza.

— A fotografia da natureza volta à minha infância e adolescência, já que eu fui criado em uma área rural, mas acabei perdendo um pouco dessa ligação na vida adulta — ressalta.

Veja fotos já feitas por Mauro

Continua depois da publicidade

Em aproximadamente 10 anos, o profissional conta que já flagrou cerca de 600 espécies diferentes de pássaros desde a primeira ave que fotografou. O número, por si só, já surpreende, mas fica ainda mais impressionante depois que se tem conhecimento de toda a dificuldade que há por trás de cada imagem.

Isso porque, mesmo com um equipamento especializado e a técnica necessária, não basta apenas clicar no botão da câmera para fazer o registro. Antes disso, há outro desafio que precisa ser superado, conforme explica Mauro: conseguir encontrar as espécies para, enfim, fotografá-las.

Mas, afinal: como faz para flagrar tantos pássaros “diferentões”?

No início, quando entrou para a prática do novo hobby, o blumenauense conta que costumava registrar pássaros comuns que via pelos arredores de onde mora. Conforme foi se especializando, porém, Mauro concluiu que poderia aproveitar as viagens de férias com a esposa Viviane Wehmuth para tentar localizar novas aves também em outros locais do Estado e regiões do Brasil.

Nos roteiros, ele confessa que procura incluir lugares estratégicos para ver se “esbarra” com um pássaro e consegue mais um registro para incluir no “álbum virtual” — o chamado “WikiAves”, que é um site voltado para divulgação de informações sobre diferentes espécies e que conta com a participação da comunidade.

Continua depois da publicidade

Em uma das últimas viagens que fez, Mauro aproveitou para fotografar aves no Rio Grande do Sul. Antes disso, porém, o gasparense conta que já havia se deslocado até o Sul de Minas Gerais só para registrar espécies específicas que vivem em Uberaba. O local teria sido o mais distante que já foi por causa da fotografia, menciona ainda.

Mauro com a câmera em mãos (Foto: Arquivo pessoal)

É comum, porém, que ele também visite as regiões de Dr. Pedrinho e Rio dos Cedros, já que são cidades em que há bastante mata e, por isso, as chances de encontrar pássaros em lugares mais acessíveis são maiores.

A verdade, porém, é que qualquer oportunidade em meio à natureza pode render uma boa foto se estiver na hora certa e no local adequado, segundo Mauro. Em simples caminhadas que faz pelo Parque Ramiro Ruediger, em Blumenau, por exemplo, o homem já enxerga a possibilidade de conseguir novos registros e ganhar ainda mais conhecimento.

— De vez em quando eu levo a minha câmera comigo e aproveito para fazer algumas fotos — comenta.

Registro de uma borboleta (Foto: Mauro Schramm, Divulgação)

Mauro ressalta, no entanto, que não tem qualquer formação na área da biologia, tampouco se considera um ornitólogo — ciência dedicada ao estudo das aves. Por isso, para que ele consiga identificar as espécies durante as viagens, o analista de sistemas explica que geralmente conta com o auxílio de guias turísticos que entendem do assunto e costumam ter a resposta para as perguntas dele na ponta da língua.

Continua depois da publicidade

Quando não há a ajuda desses profissionais, Mauro esclarece que tenta reconhecer os pássaros por fotos, recorrendo a livros ou sites específicos para tirar qualquer dúvida.

— Mas, normalmente, quando a gente vai para algum lugar, já sabemos quais espécies estarão lá e o que pretendemos fotografar — complementa.

Por outro lado, algumas aparições também podem surpreender o fotógrafo com cerca de 10 anos de experiência. Para ele, cada caminho percorrido para ir atrás de uma foto vira uma verdadeira aventura, já que nunca se sabe o que aquele destino realmente lhe reserva.

Fotografia tirada no Deserto de Atacama, no Chile (Foto: Mauro Schramm, Divulgação)

— Eu costumo dizer que eu estou nesse negócio da fotografia não pelo fim, mas pelo meio. Ou seja, se der uma foto boa é um bônus, mas a real motivação é estar próximo à natureza, conhecer pessoas e lugares. Isso que é o legal — diz.

Continua depois da publicidade

A pergunta que não quer calar: qual o segredo para tirar fotos tão boas?

Os inúmeros registros feitos em momentos perfeitos — como quando duas araras voam uma ao lado da outra ou um pequeno pássaro é flagrado construindo o próprio ninho — rendem curiosidades quanto aos bastidores dessas fotos.

Além das aves, que são cuidadosamente encontradas pelo analista de sistemas, Mauro também compartilha o interesse por outro aspecto da natureza que faz — literalmente — os olhos dele brilharem: a via láctea.

Com a câmera direcionada para as estrelas, ele tenta captar a beleza daquilo que está mais distante e, por vezes, passa despercebido pelo dia a dia do ser humano. Para Mauro, esse tipo de registro se torna ainda mais especial por depender de outros fatores para ser feito, como a iluminação da lua e um clima adequado.

Continua depois da publicidade

Mas não para por aí. De uma delicada borboleta até uma aranha de quatro olhos, Mauro também consegue captar diferentes detalhes de animais que não seriam perceptíveis a olho nu, por exemplo. Seja de perto ou de longe, as fotos não decepcionam.

Questionado quanto ao “segredo” para conseguir imagens tão extraordinárias, no entanto, o analista de sistemas não hesita em confessar, aos risos:

— É que eu só publico as melhores, na verdade — revela o fotógrafo.

Mas que são boas, são.

*Sob supervisão de Augusto Ittner

Leia também

Jovem de SC troca a roça por vida de glamour e se surpreende com sucesso: “Parei na Vogue”

Poeta de Blumenau com escritório na Rua XV emociona pessoas em busca de “sonho impossível”