A catarinense Victoria Lorenzetti Vidal, 22 anos, viveu cenas de terror e desespero ao ter a casa atingida por um míssil em Israel durante o recente conflito do país com a Palestina. Ela e o marido estavam dentro do apartamento, em um bunker antibomba. Por isso, não se feriram, mas a casa ficou completamente destruída.

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— Se estivéssemos em qualquer outro cômodo, teríamos morrido — revela ela.

Natural de São José, na Grande Florianópolis, Victoria morava há 10 meses com o marido Higor Vidal, 24 anos, que é jogador de futebol, em Petah Tikva, a 15 km da capital Tel Aviv. Ela está grávida de seis meses. Por conta dos ataques, os dois retornaram ao Brasil e estão na casa dos pais de Higor, em Campo Largo, no Paraná.

Desde a segunda-feira da semana passada (10), quando começaram os ataques entre Israel e o grupo extremista Hamas, que atua na Faixa de Gaza, o casal viveu momentos de medo e precisou se abrigar no bunker dentro do apartamento.  

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Todas as cidades de Israel têm sirenes que avisam quando um ataque vai começar. Victoria conta que, recentemente, o país criou uma lei exigindo que todos os prédios novos ou reformados precisam ter um abrigo antibomba.

Os apartamentos antigos têm um bunker comunitário no subsolo do prédio e há ainda edifícios pela cidade com bunkers para as pessoas que estão na rua se abrigarem.

— Quando começaram os ataques na segunda-feira (10), a gente não estava nada preparado. O quarto que era o bunker do nosso apartamento era como um quarto de tralha. Jamais pensamos em usar — relata a catarinense.  

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Victoria e Higor estavam morando em Petah Tikva, Israel
Victoria e Higor estavam morando em Petah Tikva, Israel (Foto: Victoria Lorenzetti Vidal/Arquivo Pessoal)

Queda do míssil 

No segundo dia de ataques, na terça-feira (11), o casal já havia preparado o quarto para quando as sirenes tocassem novamente.  

— Os terroristas costumam avisar que vão atacar e, naquele dia, eles falaram que iam atacar a área central. Como era o segundo dia, a gente já tinha organizado o quarto com água e comida, porque dormimos lá no primeiro dia. Tocaram as sirenes e como a nossa região era um pouco longe da Faixa de Gaza, a gente tinha um minuto e meio para correr para o abrigo. A sirene é bem alta e ela fica soando até que o ataque pare — descreve ela.

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Assim que os ataques foram anunciados, o casal correu para o bunker anti bomba. Eram por volta das 19h de terça-feira (12). 

— Tocou a primeira, deu uma pausa e ficamos lá esperando. Tocou a segunda e aí a gente já estava falando no telefone com os pais do Higor, porque eu estava muito nervosa e eles estavam tentando me acalmar. Quando tocou a terceira, mais ou menos à 1h da manhã, a gente ouviu o míssil vindo como se fosse a queda de um avião e explodiu tudo. 

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— O bunker em si, não mexeu, ele é muito forte, mas a gente sentiu tremer a parte externa, e escutamos aquela explosão absurda. Deu um vácuo bem grande na porta do bunker e vimos um pouco de pó que passou em baixo. E aí eu entrei em desespero. Comecei a gritar, a chorar e falei pro Higor: ‘Foi aqui, caiu na nossa casa!’ — relata Victoria. 

Israel tem um sistema antimíssil, chamado Domo de Ferro, que permite que mais de 90% dos foguetes, vindos de Gaza, não atinjam o território israelense. A tecnologia calcula a trajetória do míssil que está chegando e intersecta o foguete no ar, fazendo com que ele não caia no solo. No entanto, o arsenal naquela terça-feira era tão grande que não foi possível parar todos os mísseis, explica Victoria.

Estragos no apartamento

Todas as janelas e portas da casa foram destruídas. Móveis, eletrodomésticos, televisão também ficaram danificados. Victoria conta que o único móvel que ficou intacto foi o guarda-roupa, porque o quarto do casal ficava do lado oposto onde o míssil caiu. 

— Nós conseguimos salvar todas as nossas coisas pessoais que estavam dentro do guarda-roupa, mas a parte da sala e cozinha foi toda destruída. Televisão, lembranças que eu tinha comprado pra trazer pro Brasil, a geladeira parecia que tinham dado uma marretada — descreve.

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Victoria e Higor moravam em um apartamento alugado pelo clube que contratou o marido. Segundo a catarinense, todos os prejuízos em caso de crime de guerra são bancados pelo governo de Israel. 

— Qualquer dano que você tiver por conta de guerra, o governo repara totalmente o teu apartamento, vai te dar todo o suporte psicológico e médico que você precisar. Tanto que quando a gente abriu a porta do bunker, o dono do apartamento já estava lá, os bombeiros também. Foi noticiado muito rápido. Ele falou: ‘nem olha pro apartamento, o foco é vocês, isso que importa’. Porque se a gente tivesse em qualquer outro cômodo do apartamento, teríamos morrido — declara. 

Sala e cozinha do apartamento ficaram completamente destruídos
Sala e cozinha do apartamento ficaram completamente destruídos (Foto: Victoria Lorenzetti Vidal/Arquivo Pessoal)

Retorno ao Brasil 

A catarinense conta que o contrato com o time Hapoel Petah Tikva já havia terminado e Higor tinha apenas alguns jogos para encerrar. Horas depois do acidente, o clube comprou as passagens para o casal retornar ao Brasil e no mesmo dia eles já estavam no avião. 

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Grávida de seis meses, Victoria conta que estava muito preocupada com o bebê e não teria condições psicológicas para ficar lá enquanto os conflitos continuam. No entanto, ela diz que gostou muito de morar em Israel e o casal pensa em voltar no futuro: 

— Meu maior medo era prejudicar o bebê. Mesmo com o desespero, eu me controlava pra não dar nada no meu corpo. Então agora a gente não tem nem psicológico pra ficar lá, mas a gente não descarta nenhuma possibilidade de voltar. É um país muito seguro. O que aconteceu com a gente é raríssimo. Aconteceu uma guerra e a gente tava lá. 

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Conflitos entre Israel e Gaza 

Os conflitos entre Israel e a Faixa de Gaza, na Palestina, reiniciaram na segunda-feira (10) e ganharam a atenção do mundo novamente. Ataques aéreos e mísseis lançados contra os dois países já deixaram mais de 200 mortos. 

Na noite de terça-feira (11), o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, disse ter disparado mais de 130 foguetes em direção à cidade israelense de Tel Aviv, em resposta a um ataque aéreo realizado por Israel em um prédio de 13 andares na Palestina. 

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A nova onda de violência entre os dois países é fruto do conflito não resolvido entre judeus e mulçumanos que perdura há anos. 

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