Até 30 dias atrás, Muhmad Maher Helal Othman, 29 anos, trabalhava na produção em placas e de toldos (toldeiro) na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, pequeno território de cerca de 5 mil quilômetros quadrados e que junto com Gaza luta para o reconhecimento do Estado da Palestina. O catarinense, nascido em Imbituba, e desde os dois anos vivendo com a mãe, era um dos 3,2 milhões de moradores do território árabe que faz fronteira com Israel (leste) e Jordânia (oeste).

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Com os bombardeios em Gaza, os quais, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU) já mataram cerca de 10 mil palestinos e mil israelenses, a vida de Muhmad mudou. Na quinta-feira (2), ele desembarcou em Florianópolis com mais três catarinenses repatriados para o Brasil, num total de 32 passageiros de mais uma etapa da Operação Voltando em Paz, desencadeada pelo governo brasileiro. A viagem foi feita na aeronave presidencial e houve três paradas técnicas — uma em Roma, na Itália, em Las Palmas, na Espanha e a última em Recife.

Na noite de sexta-feira (3), mais seguro e relaxado, Muhmad conversou com a reportagem do NSC Total. O rapaz está com o pai, Maher, e a nova família, em Capivari de Baixo, no Sul de Santa Catarina.

— Eu vivo com minha mãe e irmã em Ramala. Tenho amigos em Israel, e inclusive meu patrão é judeu, convivemos bem e nunca tive problemas. Mas o medo de que um conflito maior aconteça fez com que aceitasse o pedido do meu pai e viesse passar um tempo em Santa Catarina — explica.

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Medidas para evitar ataques

Muhmad conta que os últimos dias na Cisjordânia foram de grande preocupação. Mesmo sem familiares em Gaza, acompanhava com atenção as notícias dos ataques que deixaram feridos e mortos, principalmente, crianças. Conforme o Fundo das Nações Unidas (Unicef), 3.500 meninos e meninas já morreram e pelo menos 6,8 mil feridos, desde o 7 de outubro, quando o Hamas atacou Israel, matando 1.400 pessoas e ainda hoje mantendo cerca de 240 detidos em Gaza.

Os dias que antecederam a liberação do voo de Amã, a capital da Jordânia, foram marcados por angústia. A nova repatriação ocorreu após atuação do Ministério das Relações Exteriores, por meio do Escritório de Representação do Brasil na cidade Palestina de Ramala, e das embaixadas em Amã, na Jordânia, e Tel Aviv, em Israel. Não foi uma travessia simples e o medo de um ataque acompanhava as pessoas que partiram de locais diferentes e se reuniram em Jericó.

Por questão de segurança, os nomes dos passageiros foram enviados para os governos de Israel e da Palestina, assim como o trajeto, e os veículos identificados com bandeiras do Brasil. O Itamaraty providenciou veículos e garantiu a passagem dos brasileiros que viviam na Cisjordânia por posto de fronteira administrados por Israel e Jordânia, na ponte Allenby/Rei Hussein, além do traslado, em segurança, a partir dos diferentes pontos na Cisjordânia, até o aeroporto internacional Marka.

— Quero agradecer imensamente a embaixada do Brasil em Ramala e ao governo brasileiro. Foi uma espera com muita expectativa, mas fomos tratados com muita atenção e com assistência divina. No final, tudo deu certo — reconhece.

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Vinte e sete anos fora do Brasil, Muhmad está sendo estimulado pela família a sentir-se acolhido e confortável. Maria das Dores, a esposa do seu pai, conta que tem incentivado o rapaz a se alimentar e dormir bem. A tarefa não é tão simples, pois ele lembra da mãe e da irmã, as quais permanecem na Cisjordânia. Os contatos pela internet ajudam a minimizar o impacto da distância.

Até o momento, a Cisjordânia, ainda que com maioria palestina, não está envolvida no conflito entre Hamas e Israel. Porém, o grande número de assentamentos israelenses são causa de conflitos frequentes. Para moradores que precisam sair para estudar e trabalhar, como é o caso de Muhmad, a situação tornou-se de maior vulnerabilidade.

— Até eu deixar a minha cidade, não havia ocorrido bombardeio próximo. Eu tenho esperança de um cessar-fogo e que essa situação seja resolvida e possamos retomar nossas vidas. Eu gostaria de voltar para a Cisjordânia — diz.

Santa Catarina recebe quatro repatriados da Cisjordânia

Por conta da guerra, o catarinense Muhmad Maher Helal Othman voltou para SC (Foto: Arquivo pessoal)

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