“Foi em questão de 10 minutos”. É assim que a catarinense Marcela da Silva Amandio, de Turvo, no Sul do Estado, descreve os momentos de medo e pavor durante a enchente que atingiu a Europa esta semana. Até esta sexta-feira (16), ao menos 120 mortes foram registradas e outras milhares de pessoas estão desaparecidas. 

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Desde setembro do ano passado, Marcela vive na Alemanha junto com o marido e a filha de 7 anos, na cidade de Bad Neuenahr-Ahrweiler, capital do distrito de Ahrweileir e que fica próxima à região da Colônia, uma das mais atingidas pela enchente no país. Só na cidade, segundo autoridades alemãs, 1,3 mil pessoas são consideradas desaparecidas. 

— Foram momentos de desespero. Na hora de sair de casa, eu tropecei e machuquei o pé. Fiquei a noite toda com frio, porque estava com a roupa molhada.

No dia da enchente, Marcela estava em casa com a familía. Ela conta que recebeu uma mensagem no grupo de mães da escola da filha avisando que, por causa da previsão de alagamento, não haveria aula no dia seguinte. 

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— Nós achamos que ia alagar as ruas e não as casas. Isto era umas 20h. Já às 23h, aconteceu a enchente. Em questão de 10 minutos encheu toda a casa e o bairro — relembra. 

As imagens da casa dela mostram o rastro de destruição causado pela chuva. A água invadiu o local e destruiu o que viu pela frente. Móveis ficaram cobertos de lama e o carro, que foi adquirido há dois meses, sumiu em meio a lama. 

“Força divina”

Marcela relembra que tudo aconteceu muito rápido. A mãe, Christiani Alves da Silva, conta que a filha estava deitada quando a vizinha bateu na porta. 

— Ela me contou que estava deitada quando a vizinha abriu a porta e disse para ela pegar os documentos e sair de lá. Como a água estava vindo devargarinho, a Marcela achou que não ia acontecer nada. Mas, de repente, a água veio e só deu tempo de ela pegar a Olívia, os documentos e uma biblía — explica a mãe da catarinense. 

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Com a ajuda de vizinhos, Marcela relata que, por conta da água, a família teve que buscar abrigo em um lugar mais alto, no apartamento de outra vizinha. Desesperados, ela diz que não sabe como conseguiu forças para subir até o outro andar. 

— Na minha vez [de subir] eu não estava conseguindo, mas meu marido, não sei de onde tirou forças, me empurrou. Eu achei que ia cair na água, mas me prendi na laje e consegui subir. Realmente foi uma força divina — conta. 

Fundos da casa de Marcela um dia após a passagem da enchente
Fundos da casa de Marcela um dia após a passagem da enchente (Foto: Arquivo pessoal)

Em SC, o alívio da mãe após o desespero 

Do outro lado do mundo, em Turvo, Christiani entrou em desespero ao ver as primeiras notícias sobre a enchente na Alemanha. A situação piorou quando ela não conseguiu contato com a filha. Mas, no dia seguinte, o alívio. 

— Foi então que consegui fazer uma ligação de vídeo e vi que eles estavam bem. Neste momento, a sensação é de impotência de não estar lá com eles — relembra a mãe que há um ano não vê a filha. 

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Nesta sexta-feira (16), Marcela, o marido e a filha estavam acolhidos na casa de um amigo, que também é brasileiro e mora na Alemanha. Devido à falta de energia e internet, eles têm se revezado para usar o celular e mandar mensagens aos familiares. Além da casa, o restaurante onde o marido da catarinense trabalha também ficou destruído com a enchente. 

Para tentar ajudá-los, a família fez uma vaquinha virtual para arrecadar fundos que possam ser repassados ao casal. 

— Nós estamos felizes por ter a oportunidade de falar com ela, de ver que eles estão bem, ainda mais com tantas mortes. O trauma nós sabemos que vai ficar, mas o importante é que eles estão vivos — complementa Christiani. 

Rua ficou elameada após a passagem da enchente na Alemanha
Rua ficou elameada após a passagem da enchente na Alemanha (Foto: Arquivo pessoal)

Tragédia na Europa 

Além da Alemanha, as chuvas também afetaram a Bélgica, onde 20 pessoas morreram e cerca de 20 estão desaparecidas, além da Holanda, França, Suíça e Luxemburgo. As regiões mais afetadas são os estados da Renânia do Norte-Vestfália e Renânia-Palatinado, ambos no Sudoeste da Alemanha, próximo às fronteiras com outros países.

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A chanceler alemã Angela Merkel, que está nos Estados Unidos, disse que os últimos dias vividos na Alemanha retratam desespero e sofrimento:

— Ofereço minha empatia e meu coração está com as pessoas que perderam entes queridos. Incluo aqueles na Bélgica, em Luxemburgo e na Holanda.

— Uma catástrofe — resumiu Malu Dreyer, primeira-ministra do estado.

De acordo com o apurado pelo G1, este é o mario número de mortos no país desde 1962, quando uma enchente no Mar do Norte deixou cerca de 340 mortos. Também é a maior quantidade de chuva no país em um século. 

Chuva já deixou um rastro de destruição em cidades da Europa
Chuva já deixou um rastro de destruição em cidades da Europa (Foto: Sebastien Bozon, AFP)

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