Impedido de voltar aos Estados Unidos desde 2010, quando foi deportado do país por não portar o visto de residência, o catarinense Donizete Machado, 32 anos, luta na Justiça pelo direito de reencontrar a filha. Ava tem seis anos e mora com a mãe, a norte-americana Shauna Linn Hadden, 33 anos, em Springfield, no Estado de Massachusetts.

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Faz três anos que eles se comunicam apenas pela internet. A oportunidade do reencontro surgiu com a promessa de visita de mãe e filha ao Brasil. Donizete pagou as passagens e esperava por Ava em Florianópolis, de onde seguiriam até Criciúma, cidade em que vive a família Machado. Mas ela não chegou. Shauna mudou o rumo da viagem e, com a filha a tiracolo, decidiu passar as férias em Fortaleza, no nordeste brasileiro.

Passaportes de mãe e filha foram apreendidos

Com uma ação movida na Justiça Federal, Donizete conseguiu que os passaportes de Shauna e Ava fossem confiscados pela polícia, o que as impede de retornar aos EUA. A determinação tem caráter liminar.

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Mãe e filha retornariam no dia 11 de junho, mas como estão sem documentação desde o dia 6, permanecem no Ceará, hospedadas na casa de um amigo. O advogado de Shauna, Fábio Zech, encaminhou nesta sexta-feira um pedido para que os passaportes sejam imediatamente devolvidos. Ele alega que a sua cliente corre o risco de perder o emprego, única fonte de renda das duas.

Especialista diz que justiça brasileira descumpriu convenção internacional

Rafaela Martins da Rosa, juíza federal em Criciúma e que cuida do caso, não quis se pronunciar. Mas para o especialista em Direito Internacional, doutor pela Universidade de São Paulo, o advogado André Lupi, a decisão de reter os passaportes vai de encontro com o que estabelece a Convenção de Haia. Ele explica que, pelo tratado internacional, o local para decidir questões relacionadas à criança é a cidade onde ela vive.

– A Justiça brasileira deveria ter sido mais comedida porque nesta questão internacional a competência não é do Brasil – esclarece Lupi.

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A última vez em que Donizete esteve com Ava, ela tinha três anos. Foi em um parque de Springfield – mesma cidade onde, em 2006, conheceu a ex-mulher, Shauna. Ele trabalhava como serviços gerais em um restaurante e ela atendia no bar. Donizete foi deportado após a separação, depois de denúncia da ex-mulher à polícia norte-americana.

“Não quero tirar a guarda da Shauna” – Donizete Machado, pai de Ava

Deportado dos Estados Unidos em 2010, após denúncia da ex-mulher à polícia norte-americana, o pintor Donizete Machado mantinha contato com a filha pela internet. Ele garante ter pago as passagens e diz que a viagem ao Brasil seria a única oportunidade de encontrar a menina.

Diário Catarinense – O que o senhor e a mãe da menina combinaram antes da vinda delas ao Brasil?

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Donizete Machado – Combinamos que elas viriam a Florianópolis. Eu paguei as passagens e não acho justo a mãe da minha filha usá-las para visitar outras pessoas. Eu falei com a Ava pela internet, ela estava preparada para visitar o pai, não ir para a casa de um desconhecido. Esperávamos com uma festa linda, com decoração de princesa. Fiz um empréstimo para conseguir custear esse encontro, um encontro que não acontece há três anos.

DCE por que o senhor não vai até Fortaleza?

Machado – Eu fui ameaçado pelo novo namorado da Shauna, temo pela minha integridade física. Eu iria, mas precisaria estar seguro. E o combinado não era esse. Sem contar que esta seria a oportunidade de Ava conhecer a minha família, que também é a família dela.

DC – O que o senhor quer com esse processo?

Machado – Eu só quero ver a minha filha. Não quero tirar a guarda da Shauna, que sempre cuidou bem da nossa filha.

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“Tenho medo que ele tome Ava de mim” – Shauna Linn Hadden, mãe de Ava

A norte-americana Shauna Linn Hadden, mãe de Ava, contesta a versão do ex-marido. Ela alega que comprou uma webcam, enviou dos Estados Unidos para o Brasil, e durante esses três anos pagou o serviço de internet de Donizete Machado, para que ele não perdesse o contato com a filha. Shauna e Ava estão hospedadas na casa de um amigo, em Fortaleza, desde o dia 22 de maio.

Diário Catarinense – Por que o pai da menina pagou as passagens da viagem ao Brasil?

Shauna Linn Hadden – Nos Estados Unidos o acordo era que ele pagaria pensão, mas com a deportação não houve pagamento algum. Eu viria ao Brasil em férias, para visitar uns amigos em Fortaleza, e pensei que seria uma boa oportunidade de Ava encontrar o pai. Era eu quem iria custear tudo, mas ele fez questão de pagar porque não contribuía com nada para a filha. Agora estou aqui, desde o dia 6 de junho passaporte, faltando o único trabalho que sustenta a minha filha e dependendo de favor dos amigos até para nos alimentarmos.

DC – O que aconteceu na chegada ao Brasil?

Shauna – Quando cheguei no Rio de Janeiro, para a conexão até Fortaleza, fui informada que a minha passagem era para Florianópolis. Eu me desesperei. Liguei para o Donizete e disse a ele que não iria de jeito nenhum. E ele respondeu: “agora você está no meu país, sou eu quem mando”. Me parece que ele quis se vingar por tudo o que aconteceu nos Estados Unidos.

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DC – Você permitiria um encontro entre pai e filha?

Shauna – Claro, fui eu que sugeri. Quando o Donizete foi deportado eu comprei webcam, enviei ao Brasil e paguei a conta do serviço de internet para que eles não perdessem o contato. Disse a ele que viesse encontrar a filha, propôs pagar a passagem dele e até os dias que ficaria sem trabalhar, mas ele não quis. Eu não vou a Santa Catarina, tenho medo que ele tome Ava de mim. Donizete me ameaçava com isso antes de ser deportado.