Enfrentar temperaturas negativas, terreno de gelo e acidentado e umidade relativa próxima a zero, em um ambiente onde não existe noite e o sol contrasta com o vento gelado. Tudo isso para correr 42.195 metros na Antártica, tomar contato com um ambiente adverso e cumprir um objetivo que vai muito além da superação de obstáculos. Essa foi a odisseia do catarinense Sérgio Lopes, 46 anos, que completou no dia 20 de novembro a Maratona no Gelo na 13º posição entre 56 competidores de 21 países e hoje nos dá detalhes desta experiência extrema.
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Diário Catarinense – O que você guarda de mais forte dessa sua experiência na Antártica?
Sérgio Lopes – Meu encontro com a Antártica foi algo incrível que transcendeu a questão física. Eu considero até um encontro espiritual porque o lugar é mágico, para onde você olha você fica anestesiado. Um lugar de coisas simples como o vento, a neve, o frio, as montanhas, mas que possuem um poder incrível. Ao sair do avião, ventos de quase 100 km/h nos e um frio intenso, já dizendo o que nos esperava. E de fato o lugar é hostil, lá você não tem margem para erros, senão você se prejudica.
DC – E a maratona deixou marcas…
Lopes – De fato. Com toda a adversidade da corrida, o suor acaba congelado e eu tive dois dedos da mão direita foram atingidos por um processo conhecido como frostbite (queimadura). Não foi nada grave, uma lembrança que ficou na maratona no gelo.
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DC – Como foi para dormir em um lugar que não tem noite?
Lopes – Nós não tivemos tempo para adaptação. Nós chegamos em Punta Arenas (Chile), que fica a 4h30min da Antártica, para uma aclimatação. Em Punta Arenas eram 21h, 21h30 e o sol estava se pondo. Isso fez com que a gente sentisse como seria a recepção na Antártica, onde é dia as 24 horas, sem o período da noite para poder descansar. A técnica foi dormir com os olhos vendados.
DC – O que o motivou a participar desta prova?
Lopes – Conhecer a Antártica já era um sonho antigo. Depois que eu vim para o triatlo e aprimorei a condição física e emocional, resolvi investir no desejo de conhecer a Antártica e aproveitar o fato de poder praticar um esporte que eu gosto que é correr naquela adversidade. Além disso, tive outras coisas que herdei da minha infância, como o espírito aventureiro e da disciplina, que herdei do meu avô. Ele pescava e caçava, era um hobby dele e ele sempre me levava junto. E meu avô foi uma referência muito forte na minha vida. A parte esportiva eu herdei de um tio querido. Foi um mix de coisas que me fez desenvolver uma personalidade que faz com que eu enfrente coisas adversas e as aventuras mais extremas.
DC – Quais são seus planos?
Lopes – Eu tenho um desafio muito grande que começou no início dessa semana que é curtir com meus filhos em Florianópolis, curtir as praias e um pouquinho do calor. Porque o treinamento para participar da maratona do gelo foi muito intenso: 10, 11 meses. Para conquistar algumas coisas, a gente abdica de outras. E dentro desse contexto estão os filhos, a família, os amigos. E quero destreinar um pouco, ficar só na manutenção, sem buscar a performance para qualquer competição. Depois a gente pensa em uma coisa mais efetiva. Mas algumas possibilidades existem, gostaria de ter uma ultramaratona no meu currículo de esportista, mas não sei onde e quando farei isso. É um desejo, um sonho.
Confira a galeria de fotos da viagem do atleta: