“Na hora de fazer não chorou. Não chamou a mamãe, por que está chorando agora?” Além de aguentar as dores do parto, muitas mulheres, prestes a terem um bebê, ainda ouvem isso, dentro de um hospital público ou privado.
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Xingamentos, humilhações e ironias, por parte dos profissionais da saúde, acontecem com uma a cada quatro brasileiras, que deram à luz em hospitais. O dado é de um estudo, feito em agosto de 2010 pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc, e que ouviu 2.365 entrevistadas.
A pesquisa e a violência no parto serão debatidos na Câmara Municipal de São Paulo (SP) na próxima quarta-feira, 6 de abril. A bióloga e moradora de Florianópolis, Ligia Moreira Sena, estará presente. Ela participará do encontro depois que mães, que defendem o parto humanizado, juntaram-se para pagar todas as despesas da viagem.
– Nós fazemos parte de uma lista de discussão, por e-mail, com cerca de 200 mães que apoiam um parto mais humano. Comentei sem pretensão alguma que se tivesse dinheiro participaria do evento, e todas se juntaram para pagar a passagem para mim – relata.
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Em São Paulo, Ligia irá distribuir um documentário sobre parto humanizado e domiciliar, produzido em Florianópolis. A bióloga, especialista em farmacologia, entrou na discussão, depois de tentar dar à luz em casa. Desde então, tem lido e pesquisado sobre o assunto.
– Está comprovado que, pelo fato de ser em casa, um ambiente mais acolhedor, a mulher produz mais endorfina, o que diminui a dor. Além disso, ficamos longe de todas aquelas intervenções, que em muitos casos são desnecessárias – ressalta.
No grupo de discussão, muitas mulheres relataram terem sofrido humilhações em hospitais, por primeiro terem tentado ter o filho em casa. De acordo com Ligia, elas ouviram que eram irresponsáveis por optarem por um parto domiciliar. Outras, reclamaram que ficaram horas numa cama, esperando atendimento, e sendo examinadas por dezenas de profissionais.
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– A violência no parto é traumática. A depressão pós-parto costuma desenvolver mais em mulheres, que de alguma maneira foram desrespeitadas – observa.
O estudo
O jornal Folha de S. Paulo, que teve acesso ao estudo, revelou alguns dados de maus-tratos no parto. Foram entrevistadas 2.365 mulheres, com mais de 15 anos, de 176 municípios em 25 unidades da federação.
– 27% disseram ter sofrido violência no parto na rede pública
– 17% na rede particular
Tipos de Violência
– Exame de toque de forma dolorosa 10%
– Negou ou não ofereceu algum tipo de alívio para a dor 10%
– Gritou 9%
– Não informou sobre algum procedimento 9%
– Negou atendimento 8%
– Xingou ou humilhou 7%
Frases ouvidas
23% disseram ter escutado alguma frase humilhante, destas:
15% “Não chora não que ano que vem você está aqui de novo”
14% “Na hora de fazer não chorou. Não chamou a mamãe, por que está chorando agora?”
6% “Se gritar eu paro que estou fazendo. Não vou te atender”
5% “Se ficar gritando vai fazer mal para o seu neném. Seu neném vai nascer surdo”