A sexta-feira é de tristeza em Indaial. Entre as vítimas do incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo, no Rio de Janeiro, está um jovem atleta que já começava a ser motivo de orgulho para a cidade. Bernardo Pisetta, 14 anos, era goleiro da categoria de base do Flamengo e está entre as 10 vítimas fatais do incêndio confirmadas pelo Corpo de Bombeiros.
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Bernardo havia matado as saudades de casa há pouco tempo. Passou as férias em Indaial. Treinou por três semanas com o ex-goleiro e hoje supervisor da Fundação Municipal de Esportes da cidade, Elton John Cavali da Silva, para manter a condição física antes de se reapresentar ao Flamengo.
Na sexta-feira passada deveria haver o último treino. Mas Elton decidiu dar folga e sugeriu que Bernardo aproveitasse o tempo com amigos e a família, já que depois ficaria longe durante a temporada.
— Agora tudo passa pela nossa cabeça. Parece que eu sugeri a folga para que ele pudesse se despedir — conta o preparador.
No sábado, Bernardo assistiu e comemorou o título do time Cachorrões, no Torneio de Futsal de Indaial. Ainda em janeiro, foi ovacionado pela torcida ao ser anunciado no intervalo de um dos jogos da competição. Era com a camisa do Cachorrões, aliás, que ele gostava de treinar quando estava em Indaial.
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— Domingo eu estive com ele,que ia para o RJ na segunda-feira e estava feliz. Esta semana, com a inauguração do novo CT, falou que eles iam na próxima semana para as instalações que eram dos profissionais. Segundo ele, uma estrutura melhor. Infelizmente, o sonho do nosso menino se encerrou nessa tragédia — recorda o primo Alexandre de Lima.
Na segunda-feira, Bernardo estava de volta ao Rio para o que deveria ser mais um ano de sonhos e evolução na carreira, mas que acabou abreviado pela tragédia desta sexta-feira. Era um garoto conhecido pela simplicidade e pela educação. “Um príncipe”, como define a recepcionista responsável pela matrícula dele no Colégio Adventista, onde o garoto estudou de 2014 a 2017.
Os ex-treinadores elogiam a formação dada pela família e o jeito humilde de Pisetta, que mesmo depois de ganhar espaço nas categorias de base de grandes clubes do país, continuava grato aos primeiros treinadores das quadras e gramados de Indaial.
Tímido, costumava só falar mais abertamente sobre as experiências nos gramados e as ambições de ser jogador quando perguntado. Os primeiros passos foram dados com o treinador Marinho. Em seguida, começou a jogar no campo da Associação Unidos, no bairro Tapajós, ao lado da escola em que a mãe trabalhava como professora.
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Mesmo no sub-9, Bernardo já chamava a atenção pela altura e envergadura. À tarde, treinava futsal com o técnico Ruy Alexandre Pauli. Mas foi no gramado que ele seguiu chamando a atenção de olheiros. Logo conseguiu uma vaga no Athletico-PR. Em agosto do ano passado, veio o convite do Flamengo e realização precoce de jogar no time do coração já aos 14 anos. A conquista fez até o pai, Fluminense, vestir com orgulho a camisa rubro-negra.
– Todos vestiram a camisa do Bernardo – conta o primo Marcelo Lanznaster.
Depois do incêndio, o pai de Bernardo viajou ao Rio de Janeiro e mãe dele permaneceu na cidade, onde foi consolada por familiares. Ele era o mais jovem dos dois filhos do casal. Os ex-treinadores contam que o pai, representante comercial, sempre fez de tudo para dar ao garoto a estrutura e as condições para continuar brilhando no esporte.
Na escola em que Bernardo estudou, um laço preto foi colocado em uma sexta-feira mais silenciosa que o normal. Bernardo ia bem no futebol, mas também era dedicado nas aulas. Chegou a ser destacar na escola do Flamengo onde continuou os estudos.
– Ele buscava sempre um algo mais – conta o professor de Matemática, Rubens Rueda, que viu o ex-aluno pela última vez durante o Torneio de Indaial.
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Na quarta-feira, Bernardo chegou a trocar mensagens com amigos tranquilizando-os depois que um forte temporal atingiu o Rio de Janeiro. Nesta sexta, a última mensagem foi visualizada por ele por volta das 2h da madrugada. A confirmação do óbito aos pais de Bernardo ocorreu por volta das 10h45min.
– Foi um sonho que todos sonharam juntos. Todos vestiram a camisa. É um sonho destruído, mais um dos bons que se vai. Dói demais, mas Deus convocou ele para a seleção do céu – lamenta o primo Marcelo.