Filha de pescador, criada no mar, Josiane Lima, 34 anos, foi buscar na água eternizada em tantas recordações da infância um sopro novo de vida após um grave acidente, sofrido em 2004. Queria nadar, mas foi aconselhada a remar. Aprendeu rapidinho a navegar com o remo adaptado e virou representante de toda uma classe: a das mulheres para-atletas. Na festa organizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro, nesta segunda-feira, dia 21, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, a catarinense vai receber o título de melhor atleta paraolímpica de 2009:
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– Para mim foi uma grande vitória. É um reconhecimento que me dá força, porque me mostra que eu estou no caminho certo – comemora a remadora, que tem o mar nas veias.
Nascida e criada na Praia de Sambaqui, em Florianópolis, desde pequena ela se acostumou a sair para pescar com o pai:
– O mar é meu quintal de casa. Estou no lugar certo e no momento certo, por toda a minha história de vida. Sempre pesquei com o meu pai, desde os quatro anos de idade. Como não tinha creche na época e minha mãe trabalhava, meu pai me levava com ele. Colocava lá uma caminha no barco, uns peixinhos num baldinho para eu me divertir, e eu ia com ele – lembra.
Hoje, o convívio com os barcos tem outra cara, a da superação. No dia 5 de janeiro de 2004, trafegava de motocicleta com uma amiga por uma estrada de chão estreita, no bairro onde mora, quando bateu em um caminhão.
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A moto pressionou e esmagou a perna no pneu do caminhão. Perdeu muito sangue, teve perda óssea acentuada e ruptura de artéria. Foi para a sala de cirurgia para ter a perna esquerda amputada. Como era atleta, a musculatura forte sustentou a perna e evitou que fosse retirada no acidente:
– Até neste sentido o esporte salvou a minha vida – lembra.
Josiane ficou 31 dias internada e um ano com uma gaiola de ferro na perna, o fixador externo Ilizarov. Passou por sete cirurgias e quebrou a perna de novo em janeiro de 2006, brincando nas ondas na beira da praia. Aí, teve que colocar parafusos no osso fraturado e a lesão provocou uma atrofia na perna esquerda.
A catarinense mancava muito, sentia dores na perna e nas costas. Perna que ficou travada e só flexiona a 40 graus. Não conseguia mais correr nem jogar futebol. Resolveu procurar a Associação Florianopolitana de Deficientes Físicos (Aflodef) para saber que esporte poderia praticar para aliviar as dores incomodas. Pensou em natação, mas perguntaram se ele não gostava do remo.
Foi o início de uma nova história na vida de Josiane. Uma história tão importante que essa foi a súplica quando entregou ao treinador Guilherme Soares, antes do treino de sexta-feira, as medalhas guardadas com carinho em uma caixinha com o símbolo da Olimpíada de Pequim:
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– Toma cuidado que aí está tudo o que eu tenho de mais precioso na minha vida, depois da minha família, claro, que vem em primeiro lugar, sempre.