O Som ao Redor, que teve pré-estreia no final de semana passado e agora entra na programação de cinema da Capital, já ostenta no currículo os títulos de filme brasileiro mais premiado e animadamente recebido, por público e crítica, dos últimos anos.
Continua depois da publicidade
O primeiro longa-metragem do pernambucano Kleber Mendonça Filho foi o 9o filme (e o melhor entre os latino-americanos) em top 10 dos filmes de 2012 do jornal The New York Times. No meio de um enredo em que o som e a cidade se sobressaem, o ator Gustavo Jahn, diretor de outros filmes, é um dos que mais aparecem em cena. Nascido em Florianópolis e hoje na Lituânia, ele falou com o DC por telefone.
Sua relação com o cinema é, prioritariamente, de diretor, não ator. Quando passou a atuar?
Gustavo Jahn – Comecei a atuar nos meus próprios filmes. Saí de Florianópolis em 1999, fui pra Porto Alegre e comecei a fazer filmes lá. Em 2006, fiz um curta que chama Éternau, que foi o primeiro em que atuei. Eu estava insatisfeito com a diferença de envolvimento que eu via entre o diretor e o restante da equipe. No Éternau, então, propus que todo mundo atuasse. A ideia era que todos da equipe, de sete pessoas, aparecessem na frente da câmera, inclusive eu. Me senti muito confortável, gostei da relação com a câmera do outro lado. Depois isso passou a ser uma constante nos filmes que faço.
Continua depois da publicidade
Como você entrou em contato com o filme O Som ao Redor?
Jahn – Conheci o Kleber (Mendonça Filho) em 2007, no festival luso-brasileiro de Santa Maria da Feira. Como a cidade é pequena, os realizadores acabam se conhecendo. Em um passeio, eu e a Melissa (Dullius) saímos com o Kleber e ele ficou nos fotografando, dizendo que éramos muito fotogênicos. Naquele momento ele não pensou em fazer um filme comigo, mas já teve essa primeira relação com a câmera junto. Em 2010, já com o roteiro, ele foi para Berlim e me convidou para participar do filme.
Como você descreve seu personagem, o João?
Jahn – João pertence a uma família que é, digamos, dona do bairro. Mas ele lida com as coisas de uma forma crítica. Não um crítico revoltado. Ele é um crítico cordial, jamais levantaria a voz, por exemplo. Ele vai ao jantar da família, tudo o mais. Mas sente falta de uma beleza, de uma poesia na vida.
Pra você, por que o filme tem sido recebido com tanto entusiasmo por público e crítica?
Jahn – Acho que, quando acontece de as pessoas verem e comentarem o filme, é porque se identificam com ele de alguma forma. Lançar o filme para além do circuito de festivais também é algo que merece ser dito. A maioria dos filmes chamados “de autor” ainda é muito restrito ao circuito de festivais, onde quem assiste são outros realizadores. Esse trabalho do Kleber, de fazer com que o filme seja visto pelo maior número de pessoas possível, é algo que respeito muito e que acho que está abrindo um caminho para outras pessoas. O filme está alcançando tanta visibilidade quanto produções que têm um orçamento de R$ 2 milhões só para o marketing. O Som ao Redor não tem isso. É tudo Facebook e boca-a-boca.
Continua depois da publicidade
Muitos críticos estão comentando que o filme lembra o cinema argentino por ser muito baseado em roteiro. Você concorda?
Jahn – Discordo. Acho que a imprensa inventou esse mito de um cinema argentino. Acho inclusive que alguns filmes de lá são muito engessados. O filme do Kleber tem uma coisa forte de roteiro, sim. Mas também tem uma coisa forte de realização, que talvez as pessoas só estivessem acostumadas a ver em blockbuster. Essa comparação é como se dissessem: finalmente um filme com qualidade.
Você é de Florianópolis e até 2006 morava em Porto Alegre. Agora vive em Berlim.
Jahn – Eu vim porque estava querendo novas ideias, buscar novas coisas. Quando vim, falei que ficaria por sete anos. Agora faz seis, mas acho que vou ficar por mais algum tempo.
Continua depois da publicidade