Para escrever sobre quem escreve, é preciso ler – de preferência, nada menos do que a obra integral de cada autor a ser entrevistado. Assim começam os perfis literários do site Isto não é um Cachimbo, assinados pelo jornalista e escritor catarinense Luiz Nadal.

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Se isso não seria possível em uma redação de jornal diário, vira procedimento básico para a publicação autoral e autônoma dos perfis, que misturam técnicas de reportagem, crônica e literatura ficcional.

– É do choque entre o que leio nos livros e o que o escritor revela na entrevista que o texto é escrito – explica Nadal.

Lançado em maio deste ano, o site funciona como um periódico mensal de perfis de escritores brasileiros contemporâneos. Em seis edições, já perfilou Ricardo Lisias, Veronica Stigger, Andrea Del Fuego, Lourenço Mutarelli, Marcia Tiburi e Marcelino Freire – em dezembro e janeiro próximos, deve publicar Carola Saavedra e André Sant’Anna.

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O nome da página, tirado da obra do pintor surrealista René Magritte, sugere o tom dos perfis: a mistura – a confusão – entre realidade e traços de ficção. Nos textos, fica clara a opção de Nadal por um gênero híbrido entre o jornalismo e a literatura. A técnica de apuração é, sobretudo, a reportagem. Porém, na escrita, predominam recursos literários como descrições, inversões, figuras de estilo e até alguns trechos inteiramente inventados.

A página vem rendendo bons frutos ao autor: de sugestões e pedidos encarecidos – escritores querem ser perfilados pelo catarinense – ao interesse de editoras em publicar uma coletânea dos perfis mais recentes, o que deve acontecer em 2013.

Nadal – que nasceu na pequena Caibi, no extremo Oeste de Santa Catarina, e cresceu em Florianópolis – também foi escolhido recentemente para integrar a coletânea de novos escritores História Íntima da Leitura, da Editora Vagamundo. O livro já foi lançado em São Paulo e, no dia 8 de dezembro, chega ao Rio de Janeiro.

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Do outro lado do perfil

“Luiz Nadal queria ter sido Truman Capote ou Madame Bovary”, escreve o autor do site Isto não é um Cachimbo – Perfis Literários em uma espécie de “quem sou eu” minimalista e definitivo.

– Truman Capote fez o que de melhor poderia ter sido feito com a literatura e o jornalismo naquele momento. E Madame Bovary é o motivo de um grande escândalo na literatura – explica Nadal.

As semelhanças que unem os três – Nadal, o escritor de A Sangue Frio e a personagem de Flaubert – são várias. De Capote, o escritor catarinense aproveitou a mistura de técnicas literárias e jornalísticas para criar um texto de não-ficção que, no entanto, se aproxima da escrita ficcional.

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Já o escândalo provocado por Madame Bovary na literatura do século 19, Luiz Nadal o utiliza como analogia para sua própria presença no interior dos perfis que traça. O livro, escrito por Gustav Flaubert na França de 1857, causou grande alvoroço ao abordar, de forma simples e direta, o tema do adultério.

Quando chamado para dar explicações sobre o comportamento da personagem, o autor disse a célebre frase: “Madame Bovary c’est moi.” Sobre isso, Nadal resume:

– O narrador do Isto não é um cachimbo é tão culpado quanto Madame Bovary. E eu sou tão inocente quanto Flaubert.

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Biblioteca de Luiz Nadal: dividida em duas partes – uma, na casa da infância, reúne os livros já lidos; a outra, no bairro da Consolação, em São Paulo, onde mora hoje, abriga aqueles que ainda falta ler.

Leitor ideal: aquele que sente saudades do personagem quando a história chega ao fim.

Leia mais em www.istonaoeumcachimbo.com