Nem todo mundo nasce com vontade de ser pai. Há quem se torne por destino, por descuido ou por concordar em satisfazer o desejo de outra pessoa. E existe quem se dedica à paternidade por vocação, como é o caso do empresário catarinense Francisco Luis Koch, que adotou cinco filhos nos últimos sete anos.

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Francisco nunca escondeu seu desejo. Com 42 anos, o morador de São José, na Grande Florianópolis, encara a paternidade com a naturalidade de quem nasceu para criar filhos: adotou três irmãos biológicos há oito meses, sete anos depois da primeira adoção, quando levou para casa os irmãos Cristiano e Cristine, hoje com 22 e 16 anos.

Em processo de adaptação com as crianças de 7, 8 e 11 anos, o empresário intercalou exclusivamente, até poucos dias, a rotina de trabalho com o cuidado dos filhos, já que quando chegava em casa "nem conseguia tomar banho". Agora já concilia outras atividades diárias, como um curso à distância ou uma ligação telefônica mais estendida:

— Eles estão evoluindo bem rápido. Já estão mais integrados, mais confortáveis, não estranham tanto a casa. Já ficam mais tempo brincando sozinhos, sem a necessidade da minha intervenção.

Ao terminar a frase, por telefone, é possível ouvir um choro ao fundo, confirmado por Francisco: "está vindo um chorando aqui". Ele pede um minuto para resolver o problema e não demora mais do que isso. Com bom humor, justifica:

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— Eles queriam tomar banho no meu banheiro.

A leveza com que trata as situações de atrito dentro de casa pode ser uma soma de fatores: o apoio familiar, preparo com estudo e terapia, além de referências da infância, quando tinha liberdade de escolher futebol ou brincar de casinha a qualquer tempo, junto com seus irmãos.

Francisco e os filhos
Francisco e os filhos (Foto: Diorgenes Pandini)

Um ponto final e uma nova história

Embora Francisco demonstre tranquilidade em relação à responsabilidade de criar sozinho cinco filhos, conta sobre a aflição sentida logo que chegou à vida adulta, quando se preocupou em encontrar meios de se tornar pai:

— Eu quis ser pai desde quando nasci, mas tinha uma preocupação latente dentro de mim. Quando eu estava com uns 23 anos descobri que poderia adotar e, então, desestressei com isso, fui viver de forma mais leve. Resolvi que adotaria perto dos 35 anos e comecei a planejar.

Nos 11 anos que se passaram entre a descoberta da adoção até o dia em que deu início ao processo de ampliação da família, já com 34 anos, Francisco encontrou um cônjuge. Mas, um ano antes de receber a tutela dos dois primeiros filhos, o empresário terminou o relacionamento.

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— Ele não queria e este foi o principal motivo para eu me separar — revela, reforçando que o desejo pela paternidade sempre foi prioridade.

"Discutir a paternidade é refletir sobre as masculinidades", diz especialista

Para o mestre em psicologia David Tiago Cardoso, que atua na área de masculinidade, a paternidade não é algo inato, mas uma construção social.

— Ainda que haja um movimento da sociedade para que uma "nova paternidade" seja valorizada, há um longo caminho a percorrer, pois o lugar do pai na família ainda é, em sua maioria, um lugar "fora de casa", aquele do sustento financeiro e não o da afetividade — explica.

Assim, segundo o especialista, a paternidade se constrói por meio dos discursos sobre masculinidades. Conforme Cardoso, se o homem precisa ser forte e não mostrar emoções, o pai será esse reflexo com os filhos.

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— Não porque quer ser assim, mas porque foi construído para assim ser — justifica.

Segundo Cardoso, o pai é uma figura de referência e um dos principais laços socio-afetivos das crianças, por isso, tão importante. Funciona como uma "figura protetiva", que vai do provimento das necessidades básicas das crianças à formação da personalidade.

— Se um pai é violento com a filha, quando adulta ela poderá naturalizar a violência que recebe do seu companheiro. Se é violento com o filho, quando adulto ele compreenderá que a violência é uma forma de cuidado — compara.

Paternidade foi planejada por Francisco
Paternidade foi planejada por Francisco (Foto: Diorgenes Pandini)

Amor parental

Para o empresário catarinense, o amor é algo que se constrói. Ele não romantiza a paternidade, assim como acha importante não romantizar a maternidade.

— Algumas pessoas criam a expectativa, mas o amor você vai construir a partir do momento em que tiver convivência com aquela criança. Quando ele vai ficando parecido contigo, demonstrando afeto — afirma.

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O psicólogo David Tiago Cardoso concorda e afirma que o amor acontece na relação com os filhos e na abertura que se dá para viver a experiência afetiva.

— É necessário romper com os rótulos "paternal" e "maternal", ou construir outro mais acolhedor um "amor parental", ou simplesmente amor, para que não seja estranho ou supervalorizado um homem cuidar dos filhos, que seja apenas o exercício de cuidado de uma pessoa para com aqueles que ama.

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