Morando em Israel, no Oriente Médio, desde seus dois dias vida, a catarinense Shiran Arnon se identificou com os relatos de jovens que sonham em encontrar a família biológica no Brasil. Pelas páginas do DC na internet onde leu as reportagens entendeu que era hora de também procurar pela sua família. Desde pequena sabia que foi adotada, em seus documentos consta que nasceu em 6 de setembro de 1985 na cidade de Blumenau, em Santa Catarina e que sua mãe se chama Maria Flores Neves. Além disso, restam-lhe apenas suposições. Por email Shiran pede ajuda para localizar a mãe biológica.
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Loira, olhos claros e traços germânicos, a catarinense vive na cidade de Haifa, maior cidade do norte de Israel. Casada e recém mamãe, sempre se questionou sobre sua origem. Seus pais lhe contaram que a adotaram no Brasil com ajuda de uma mulher conhecida na década de 1980 por cumprir pena por tráfico de crianças e formação de quadrilha. No Rio de Janeiro, Shiran foi entregue aos pais adotivos. O interesse em conhecer o Brasil despertou em Shiran a vontade de aprender o português e desde pequena assiste programas brasileiros, o que lhe traz familiaridade com a língua.
Shiran não é a única brasileira vivendo no exterior a procura da família no Brasil. Desde agosto de ano passado o DC vem relatando história de jovens foram vítimas nas mãos de quadrilhas que lucravam com a venda de bebês. Com a maioria dos documentos falsificados eles dificilmente conseguem êxito na busca. Durante a execução de matérias e com a ajuda de Ongs como Desaparecidos do Brasil e Filhos Adotivos do Brasil, alguns conseguiram localizar a família e hoje estreitam relações mesmo com a barreira da distancia. Shiran foi criada por uma família numerosa e considera que não lhe faltou amor e carinho, mas sente que precisa conhecer a mãe biológica, mesmo sem a aprovação dos pais adotivos.
– Eles pensam que talvez eu possa encontrar uma prostituta ou um viciado em drogas, ou então, eu simplesmente possa ficar desapontada. Mas o que eu acho é que assim é o meu destino. Eu não estou à procura de uma nova família, mas eu tenho o direito de saber por que me deram- resume.
TV em Israel repercute histórias de jovens brasileiros
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Na cidade de Rehovot, em Israel, a determinação de Lior Vilk, 28 anos, em encontrar a mãe Isabel Alves dos Santos continua motivando outros jovens. Na última sexta-feira, o canal 10, da tv Israelense dedicou 13 minutos em rede nacional para contar a história de Lior. A TV também repercutiu em Israel as matérias divulgadas pelo Diário Catarinense, há um ano, quando ele contou sua história de adoção ilegal junto com demais jovens e que tiveram repercussão nacional. Apesar das promessas do Governo Brasileiro, a ajuda não chegou. Agora as histórias repercutem também em Israel. Vencer a vergonha da exposição de um passado obscuro era a principal barreira para Lior. Agora, com o retorno de outros jovens, ele sente que tomou a decisão certa. Na reportagem Lior conta que nasceu em 1985 e com 21 dias de vida foi entregue no aeroporto de Israel para sua mãe Tova Vilk. Há oito anos ele procura pela família biológica no Brasil, mesmo sem alcançar o objetivo, esteve no Brasil, fez amizades e e tem tido contato com mães que procuram pelo filho.
Espera por respostas
Em Israel, os jovens ainda esperam a ajuda prometida do Governo Brasileiro. Após a repercussão do caso dos órfãos em Israel, a Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República formou ainda em 2012 uma comissão envolvendo as pastas da Justiça e das Relações Exteriores, a fim de discutir soluções para auxiliar as vítimas de tráfico de pessoas. O grupo decidiu que uma cartilha com orientações na busca pela família biológica seria produzida, mas o material prometido para o mês de agosto de 2013, ainda não foi lançado. Em entrevista ao DC em agosto deste ano, a ministra do Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que pretendia conversar com alguns dos jovens por uma vídeo conferência para buscar uma solução. Segundo a assessoria da SDH, a entrevista ainda não tem data a ser marcada.
– Queremos que o Governo Brasileiro nos ajude a construir um banco de DNA para cruzar as informações, é a única forma de nos ajudar a reencontrar com nossas famílias. Temos este direito- lembra Lior.