Cardeais enclausurados na Capela Sistina se aproximam hoje da escolha do novo papa. A partir de agora, serão quatro votações ao dia – duas pela manhã e duas à tarde. Neste momento histórico para a Igreja Católica, no qual há a possibilidade do nome do novo pontífice ser divulgado, dois cardeais brasileiros teriam se estranhado na reunião pré-conclave. Na segunda votação do conclave a fumaça também foi preta.
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Segundo o jornal italiano La Repubblica, o catarinense dom João Braz de Aviz teria feito um ataque pessoal ao ex-secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcísio Bertone, ao questionar especialmente as finanças. Segundo o vaticanista Marco Tosatti, ouvido pelo Jornal Nacional na última reunião de congregação, dom Aviz teria falado claramente do seu descontentamento com o Banco do Vaticano e com a Cúria Romana, mas o gaúcho dom Odilo Scherer teria defendido a Cúria. Tosatti disse que, em princípio, dom Odilo perderia votos com isso, mas depois o vaticanista repensou e passou a acreditar que o gaúcho continua forte na disputa.
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A reportagem do jornal italiano relata que Bertone não teria gostado nada das críticas e teria aproveitado para acusar Aviz de “vazar informações para a imprensa italiana”. Aviz, na discussão, teria usado diante do colégio de cardeais a expressão “a Cúria no banco dos réus” e ainda questionado o que chamou de “falta de transparência” e “centralização da Secretaria de Estado do Vaticano”. Mesmo com a defesa pró-Cúria, encabeçada pelo gaúcho dom Odilo Scherer, os aplausos religiosos, em sua maioria, teriam sido para o catarinense de Mafra. Teria sido ovacionado, segundo o La Repubblica.
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O cardeal catarinense de 65 anos tem no currículo uma tradição de combate à corrupção e a defesa da transparência. No fim dos anos 1990, o religioso catarinense liderou em Ponta Grossa (PR), onde foi bispo, o Movimento Ética e Cidadania, que cobrava transparência e combate à corrupção. Como arcebispo metropolitano de Brasília, destacou-se como um dos mais atuantes integrantes do Movimento Contra a Corrupção e, mais recentemente, chegou a arrebanhar 15 mil assinaturas para o que, depois, virou a Lei da Ficha Limpa, ao mobilizar as igrejas do Distrito Federal.
Fumaça preta no primeiro dia de conclave
Mal-estar à parte, ontem, em duas horas e 10 minutos de votação, nenhum cardeal recebeu o número de votos para ser eleito – mínimo de 77 dos 115 votantes. Em frente à Basílica de São Pedro, mais de 50 mil pessoas acompanharam, sob frio intenso, chuva e queda de granizo, o resultado da votação de ontem. Ao cair da noite em Roma, às 19h42min (15h42min no Brasil), os quatro telões instalados no largo da praça exibiram a chaminé fumegante da Capela Sistina.
Por mais improvável que seja o consenso já no primeiro escrutínio, o público, quase em uníssono, reagiu com surpresa ao primeiro indício de fumaça: Ooohhh! A dispersão foi imediata. Angelo Scola, o cardeal mais influente entre os 28 italianos, ingressou na Capela Sistina com as maiores chances de sair papa. O nome dele, ontem, continuava o mais forte e ganhou ainda mais vigor com o início do conclave, avalia a imprensa italiana.
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Mas dom Odilo continua emparelhado com ele como o segundo nome, apesar do confronto com seu compatriota.
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Mosaíco: quem são os 115 cardeais responsáveis pela eleição do novo papa