O assassinato do guardião da floresta Paulo Paulino Guajajara, 26 anos, na noite desta sexta-feira (1) no interior da Terra Indígena Araribóia, no Maranhão, é consequência do momento difícil, obscuro e crucial que vivemos no país. A observação é da catarinense Lúcia Gianesini, vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), braço da Igreja Católica na defesa dos direitos dos índios brasileiros.

Continua depois da publicidade

Para a religiosa, a violência também resulta do processo de corrosão das políticas públicas, especialmente aquelas voltadas às populações historicamente massacradas e dos discursos de ódio contra os povos indígenas que de acordo com as palavras do próprio presidente Jair Bolsonaro no atual governo não terão "um centímetro" a mais de terras.

— No ano passado tivemos 135 assassinatos, mais do que os 110 do ano anterior. Apesar do massacre imposto, não queremos perder a esperança por acreditar que a hora da retomada irá chegar — diz a missionária nascida em Brusque, e que pertence à Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas.

Eleita em setembro, a religiosa que mora em Blumenau deve ficar quatro anos à frente da entidade presidida por dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, Rondônia. Um período que parece desafiador tendo em vista os problemas atuais.

— Os nossos povos indígenas enfrentam um substancial aumento da grilagem, do roubo de madeira, do garimpo, das invasões e até mesmo da implantação de loteamentos em seus territórios tradicionais. A disputa crescente por estas áreas atinge um nível preocupante, já que coloca em risco a sobrevivência de diversas comunidades indígenas no Brasil.

Continua depois da publicidade

Além disso, observa a irmã, o desmantelamento de serviços como da Funai e do Ibama deixaram as áreas ainda mais vulneráveis. A militância de Lúcia na área se iniciou nos anos 1980, quando fez curso de Serviço Social na PUC de Porto Alegre. Tão logo se formou, assumiu o serviço social em Rondônia, onde foi fundado o Cimi-RO.

— É claro que temos mais índios na região de Mato Grosso e Norte do país, mas as consequências da falta de respeito ao que está pregado na Constituição Federal atinge os Guarani, Kaingang e Xokleng que vivem em nosso estado. Com a falta de terras, cada vez mais eles vão para as áreas urbanas em busca de melhores condições de vida — diz.

Em Santa Catarina existem 28 terras indígenas, o equivalente a 0,8% do território. Estima-se em 18 mil os indígenas no Estado.

É preciso denunciar quem incentiva e permite invasões nas terras indígenas

A respeito do assassinato do líder indígena, a vice-presidente do Cimi considera que não cabe apenas exigir a apuração do fato em si, mas denunciar quem incentiva e permitem invasões nas terras indígenas e que passam por atentados, ameaças, esbulhos, incêndios criminosos. A tensão nas áreas indígenas vem crescendo.

Continua depois da publicidade

Entre janeiro e setembro deste ano foram 160 casos de invasão a 153 terras em 19 estados, aponta o Relatório Violência contra Povos Indígenas no Brasil, do Cimi . Por isso há entendimento de que a tragédia ocorrida na Terra Indígena Araribóia se insere no contexto das violências.

Leia também

Índios denunciam uso de drones sobre aldeias e incêndio em casa de reza em Araquari

Auxílio combustível a auditores e demarcação de terras indígenas geram polêmica em SC

Bolsonaro dribla Congresso e tira demarcação indígena da Funai

Ainda não é assinante? Assine e tenha acesso ilimitado ao NSC Total, leia as edições digitais dos jornais e aproveite os descontos do Clube NSC.