Correr atrás dos sonhos sempre foi uma necessidade para o menino pobre nascido em uma favela de Palhoça e que cresceu nas ruas. A vida nunca foi solidária com Diogo Trindade. Pelo contrário. Hoje, aos 29 anos, ele não precisa de medalhas para saber que é um vencedor. Mas ele as tem e não se cansa de buscar mais. Nesta terça-feira, 31 de dezembro, o corredor estará nas ruas de São Paulo atrás de mais um sonho: levar Santa Catarina ao lugar mais alto do pódio na Corrida de São Silvestre.

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Pela sétima vez nos últimos oito anos, Diogo correrá os 15km da prova mais famosa e tradicional do Brasil e a da América do Sul. Desta vez o primeiro lugar está mais perto, pela primeira vez ele disputará a prova na categoria de deficientes auditivos.

– Perdi 60% da audição quando tinha uns oito anos após um acidente. Mesmo assim, sempre competi com “pessoas normais” – conta ele, que em 2013 resolveu mudar para ficar mais perto de outro sonho.

– Quero índice para disputar os Jogos Pan-Americanos em 2015. É a minha grande meta nos próximos anos – completa o atleta, que treina de três a quatro vezes por semana e se sustenta apenas com o dinheiro que recebe dos poucos patrocinadores e em premiações.

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Ele conta com a vitória na São Silvestre para alavancar de vez a carreira e conseguir novos parceiros. Para isso, pretende completar a prova em 52 minutos – a média na categoria é de 1h10min de prova.

Diogo sempre foi um grande corredor, mesmo antes de saber o que era atletismo. A infância conturbada fez com que tivesse de correr por si desde muito pequeno quando levou surras do pai que era alcoólatra, motivo que levou sua mãe a o levar a um orfanato onde também foi alvo de violência. Aos 10 anos, quando a mãe foi assassinada, Diogo passou a viver nas ruas e quase teve seus sonhos destruídos pelas drogas.

– Vivia nas ruas e não tinha como fugir. Mas chegou uma hora em que tinha que mudar ou ia acabar no fundo do poço – lembra, emocionado.

A partir de um projeto social, Diogo, ainda jovem, voltou a estudar e conheceu pessoas que o ajudaram a escrever uma nova história. Foi quando o esporte entrou de vez em sua vida. Após completar o Ensino Médio, ele passou a dar aulas de Educação Física em escolas na favela Frei Damião e a correr com mais frequência. Em 2005, começou a competir.

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– Minha vida mudou. Descobri uma nova paixão e ganhei um rumo – diz ele.

A paixão virou profissão e fonte de renda. O rumo ainda está sendo traçado. Diogo quer o primeiro lugar na São Silvestre devido ao consequente reconhecimento que pode ajudá-lo a realizar o maior sonho de todos: abrir uma escolinha de atletismo para crianças carentes.