Catarinense da cidade de Salete, o técnico Odair Hellmann está plenamente adaptado ao mundo árabe, onde comanda o Al Raed, da Arábia Saudita. Aos 48 anos, completados nesta quarta-feira (22), está na sua oitava temporada como treinador profissional e ultrapassou os 300 jogos na casamata. 

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Em conversa com o NSC Total, Odair falou sobre o futuro e contou curiosidades sobre o futebol local. Por causa do intenso calor, muitos treinamentos são realizados após às 21h, por exemplo. O treinador diz que prefere não usar um tradutor para comandar os atletas e já teve um papo acalorado com o inglês Steven Gerrard, treinador do Al-Ettifaq.

Recentemente, o comandante classificou o Al Raed para se semifinais da Copa do Rei com uma vitória nos pênaltis sobre o Al Jabalain. A partida teve um fato inusitado: o goleiro titular André Moreira se lesionou durante as cobranças e foi substituído. O reserva Meshary Sanyor defendeu duas penalidades e foi um dos heróis da classificação.

A Arábia Saudita se tornou um nicho importante no futebol mundial ao receber astros do tamanho de Cristiano Ronaldo (Al Nassr), Neymar (Al-Hilal), e Benzema (Al-Ittihad), por exemplo. O Al Raed é o 12º colocado na liga saudita, que tem o Al-Ittihad como líder. 

Odair iniciou a carreira profissional como treinador do Inter, em 2018. Também passou por Fluminense e Santos no país. Pensa em voltar para o Brasil? Há possibilidade, mas não para agora. 

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NSC Total – É o seu terceiro trabalho no mundo árabe e acabou de se classificar para a semifinal da Copa do Rei. Quais suas metas no clube?

Odair – Sim, é o terceiro trabalho no mundo árabe. É um mercado que eu consegui consolidar bem o meu trabalho, o meu nome. Sobre o Raed, a gente conseguiu classificar agora numa campanha histórica para a semifinal da Copa do Presidente. E o objetivo é ir para a final e ser campeão. Mas a semifinal é só em primeiro de abril. Agora, a gente tem a liga (Campeonato Saudita). É concentrar na competição para melhorar a nossa posição na tabela.

Como é comandar um clube árabe? Usa tradutores pra ajudar? 

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Eu acho que o mais importante é buscar a adaptação o mais rápido possível. Não só no lugar onde vive, mas também adaptação à cultura, às diferentes situações que acontecem no dia-a-dia em relação aos profissionais, aos jogadores. E eu já estou muito adaptado a esse mundo árabe. Então, pra mim hoje é normal como treinar qualquer outro clube no mundo. 

Aqui no Al Raed, eu tenho usado o tradutor algumas vezes, porque alguns jogadores ainda não falam, não entendem tão bem o inglês. Então, tenho usado o tradutor na preleção, principalmente. Mas com o tempo que eu já estou aqui, eu já consigo essa comunicação e o futebol também dá uma comunicação universal. Esse foi um plus aqui que tem acontecido em relação ao tradutor já que um dos pilares do meu trabalho é a comunicação. Mas eu prefiro a minha comunicação direta com os jogadores, mesmo que não seja em um inglês perfeito. Acho que é melhor e o jogador também consegue entender. 

Oitava temporada como treinador profissional

2018-19 | Internacional
2020 | Fluminense 
2021 | Al Wasl-Emirados Árabes 
2023 | Santos 
2023 | Al Riyadh-ARA
2024 | Al Raed-ARA

Alguma curiosidade ou dificuldade a mais?

Em relação a curiosidades, são várias. O que eu posso dizer é, por exemplo, de o treino aqui ser à noite. Quando está muito calor a gente trabalha quase às 21 horas. Tem também a situação do Ramadã (9º mês do calendário islâmico), que a gente tem que respeitar o momento e a cultura e são diferentes situações que a gente passa nesse período. São curiosidades que acontecem aqui, mas que são de fácil entendimento e adaptação.

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Como está o nível do futebol saudita atualmente?

Acho que os olhos do mundo estão voltados para o futebol árabe. É bom salientar que o futebol árabe sempre foi muito competitivo, sempre foi muito forte porque sempre teve estrangeiros. E há uma paixão muito grande do povo pelo futebol, então sempre teve muitos torcedores no estádio, o futebol sempre foi uma paixão, então a base do futebol árabe sempre existiu, sendo muito forte e competitiva.

Agora, o que aconteceu foi um investimento muito grande em jogadores de altíssimo nível, o que traz holofote, mais qualidade e aumenta o nível da competição. A federação abriu mais vagas para estrangeiros, são oito. Aumenta a competitividade e a qualidade, o que faz com que a liga saudita seja uma das mais fortes do mundo atualmente.

Ano passado, você enfrentou o time de Cristiano Ronaldo e Mané. Como  é enfrentar craques desse gênero em nível mundial?

Eu enfrentei Cristiano, Otávio, Mané, mas também enfrentamos outras equipes que também têm grandes jogadores. São atletas de renome internacional, de muita qualidade, que nem todo mundo tem um holofote neles.

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Mas como eu disse, cada equipe pode jogar com oito estrangeiros e todas as equipes têm muito bons jogadores, o que acaba fazendo com que os times sejam muito fortes e competitivos. Claro que atuar contra essas estrelas internacionais sempre chama muita atenção, é sempre muito difícil porque eles têm muita qualidade e estão ainda em alto nível.

E é sempre um prazer também, sempre uma oportunidade de você conseguir mostrar seu trabalho e fazer grandes jogos, o que tem acontecido com a gente até agora nessa caminhada.

Você teve uma discussão com o Gerrard ano passado. O que realmente aconteceu?

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A discussão com o Gerrard foi discussão do dia do jogo. E futebol, o que acontece no campo, fica no campo. Isso é o que é mais importante. No final, a gente acabou discutindo, mas ficou tudo bem. E faz parte, ele defendendo o melhor para o time dele e eu defendendo o melhor para o meu time.

Com visão fora do Brasil, como você vê a valorização do treinador brasileiro?

Eu vejo o treinador brasileiro sempre com muita qualidade, com muita competência, em primeiro lugar. É claro que há muitos anos atrás os treinadores brasileiros tinham um espaço, bom espaço no exterior e aqui no mundo árabe também, mas não só aqui, como no Brasil, como em todo mundo, tudo mudou, o mundo mudou, a vida não é igual há 15, 20 anos.

Os mercados se abriram para todos os profissionais e acabou que as oportunidades estão para todos, independentemente da nossa nacionalidade. O que a gente está fazendo aqui é tentando retomar esse mercado também de uma forma de apresentar bons trabalhos, como o próprio Péricles Chamusca (treinador do Al Shabab) tem feito aqui no mundo árabe.

Então, eu acho que isso também faz com que abram portas para outros profissionais, como acontece hoje no mundo árabe, vai acontecer em outros mercados e como está acontecendo hoje no Brasil com profissionais estrangeiros. Eu acho que isso faz parte do momento que a gente vive e aí vai se estabelecer a competência e não o passaporte e a nacionalidade.

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Pensa em voltar para o futebol brasileiro?

A volta para o futebol brasileiro está sempre na mente, no coração. Mas meus trabalhos têm o longo prazo como característica. Tem acontecido aqui nesse mercado onde eu consegui me consolidar e então assim, não é fácil financeiramente pelos contratos que tem e também para voltar para o Brasil, para boas oportunidades.

Então, tem que conciliar todas as coisas para que essa volta aconteça, mas no coração e na mente, o Brasil está sempre em pensamento, em possibilidade.

Você é catarinense de Salete. Cogita retornar para o seu estado natal? Mantém amigos na região?

Sou de Salete, Santa Catarina, mas a minha vida atualmente está estabelecida em outros locais. A minha volta a Santa Catarina hoje é para rever familiares e visitar a família.

E continuo tendo amigos, familiares. Sempre que o futebol proporciona uma possibilidade, tento voltar, visitar, mas voltar a viver na minha cidade não passa hoje pela minha cabeça.

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Em Santa Catarina, no estado, eu não posso falar porque o futebol é dinâmico, mas hoje a perspectiva, a ideia de médio prazo é continuidade no mundo árabe, outros caminhos. E aí o futuro a Deus pertence.