Catarinense de 16 anos é aposta do boxe na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016

Dia 23 de abril de 1996. Ainda na maternidade, o comerciante José da Silva, enxerga pela primeira vez o filho recém nascido. Com 51 centímetros e 3,6 quilos, o bebê se destaca diante do corpo franzino de um colega de incubadora. Aficionado por boxe, José não se conteve:

– Ele parece o Mike Tyson da cintura para cima!

Hoje, aos 16 anos, aquele bebê se transformou em promessa olímpica para a Rio-2016. Com 1m80cm e 82 quilos, ombros e pescoço largos, braços musculosos e orelhas castigadas pelos treinos de artes marciais, Kevin Silva é o atual campeão brasileiro de boxe na categoria cadete, para lutadores até 80 quilos, repetindo o feito de outro catarinense, o blumenauense Adriano Cruz, em 2009.

O título foi conquistado no último mês de junho, em Aracaju (SE), apenas três meses depois de o adolescente começar a treinar os golpes da modalidade, com o técnico Kelson Pinto, medalhista de prata dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, no Canadá, em 1999, e representante do Brasil em Sydney-2000 nos pesos médios ligeiros. Curiosamente, o boxe parece estar no sangue do campeão.

Com dois anos de idade, Kevin ganhou o primeiro par de luvas do pai, José, que vencia o cansaço no trabalho para entrar madrugada a espera das lutas relâmpago de Mike Tyson nos anos 90. Mais alto, o irmão ficava de joelhos na sala, enquanto o pequeno Kevin brincava de socá-lo com as luvas. Três anos mais velho, Zeca acusava os golpes e revelada aos pais que o caçula tinha uma força desproporcional para a sua idade. Mas por enquanto, era apenas uma brincadeira de criança.

Veio a idade escolar e Kevin começou a aprontar. Com uma agressividade à flor da pele, logo ganhou a fama de brigão. Os pais José e Gerciane foram chamados na escola pela direção logo no primeiro dia de aula. Kevin havia quebrado o dente de um coleguinha. Para diminuir a agressividade do filho, os pais foram recomendados a inscrevê-lo em uma academia de artes marciais. Deu certo. As ruas do bairro Passa 20, em Palhoça, perderam um brigão e o Brasil ganhou um atleta.

MMA desperta o talento

O muay thai foi a primeira opção dos pais de Kevin, até pela disponibilidade da academia mais próxima. Mas veio a febre do MMA (Artes Marciais Mistas), e o adolescente vislumbrou nas lutas que assistia na televisão, ao lado do pai, um novo caminho para seguir.

Com 14 anos, Kevin começou a frequentar as aulas de jiu jitsu do lutador Thiago Tavares. Logo assimilou os conceitos da “arte suave” até obter a atual graduação, de faixa azul. Os primeiros golpes de boxe também vieram na sequência, mas a fama do jiu-jitsu como arte marcial imbatível ainda atraía mais a atenção de Kevin que, por sua vez, despertava a atenção dos professores pela dedicação nos treinos.

A vinda de dois mestres de renome nacional para Florianópolis deram um novo impulso para o sonho do jovem lutador a partir de 2011. Integrante da famosa equipe Braziliam Top Team, o carioca Marcos Maciel Bicudo viu qualidades para transformá-lo em um lutador completo. Procurado pelo pai de Kevin, Bicudo passou a ensinar o wrestling (equivalente a luta livre olímpica) e deu continuidade ao jiu-jitsu.

– O moleque está no caminho certo. Ele tem trabalhado com a gente todos os fundamentos de lutas e os resultados estão aparecendo _ conta Bicudo.

O lutador do Ultimate Fighting Championship (UFC), Thiago Tavares, decidiu acolhê-lo no seu projeto de incentivo ao surgimento de novos talentos, o Instituto Thiago Tavares.

– Ele é habilidoso, tanto quando trabalha os estilos para o MMA, como no boxe. Com ele, não tem para onde correr – brinca Tavares.

Com tantos estilos para treinar e se aperfeiçoar, Kevin tem uma programação semanal repleta. Pela manhã, das 11h às 12h, todos os dias, ele treina jiu-jitsu e wrestling na Academia Top One. Os treinos de boxe são realizados à tarde, de duas a três vezes por semana. Ainda sobra tempo para um treinamento físico específico para MMA coordenado por Guiga Meirelles, preparador físico responsável pelos treinos de Thiago Tavares.