A professora Adriane era a única integrante da família Engel, de São Bento do Sul, que estava acordada na madrugada do último domingo, quando o ônibus em que eles viajavam sofreu um acidente na rodovia Régis Bittencourt, em São Paulo.
Continua depois da publicidade
A família viajava para o Rio de Janeiro, onde passaria o Natal, quando o ônibus de número 6002, da empresa Nossa Senhora da Penha, saiu da pista e caiu em uma ribanceira, deixando 16 mortos e 22 feridos. Adriane está em Joinville para visitar as filhas, internadas no Hospital São José desde a última terça-feira, e conta o que aconteceu naquela noite.
Eles estavam viajando no andar de cima do ônibus, em duas filas de poltronas. Adriane e a filha Amanda lado a lado, enquanto o marido Nelicio e a filha Alana estavam juntos na fileira da frente. Por volta das 2h30 da madrugada, Adriane era a única integrante da família de olhos abertos. Os outros três permaneciam dormindo, quando o ônibus caiu na ribanceira.
-A impressão que tive foi que o motorista dormiu. Ele não freou e não bateu em nada, apenas navegou para o precipício-, conta Adriane.
O ônibus ainda capotou algumas vezes por, aproximadamente, dez metros. Quando parou, o andar de cima estava praticamente destruído. Alana e Nelicio, que morreu no acidente, foram projetados para fora do ônibus, enquanto Amanda e Adriane ficaram presas entre os bancos.
Continua depois da publicidade
-Eu só tinha lugar para respirar e colocar a mão para fora e acenar-, lembra.
Segundo ela, as pessoas gritavam que o ônibus ia pegar fogo porque havia vazamento. O socorro não demorou muito a chegar ao local e tranquilizar as vítimas. Depois do atendimento, Adriane foi levada a um pronto-socorro com ferimentos leves e as duas filhas para um hospital em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.
As duas ficaram internadas na cidade paulista até a noite de terça-feira, quando foram transferidas para o Hospital São José, em Joinville. Amanda, 21 anos, com uma fratura no braço, e Alana, 18 anos, com fratura na bacia e na coluna.
Segundo a mãe, apenas a violinista Amanda vai precisar passar por cirurgia. As duas meninas estão bem psicologicamente, mas Adriane continua dando apoio emocional à elas por causa da perda do marido no acidente.
-É um pai que vai fazer falta, porque não era um pai qualquer. Era um protetor e um parceiro.
Adriane pretende processar a empresa de ônibus
Ao contar tudo que aconteceu no acidente, Adriane destaca sua indignação com a empresa de ônibus Nossa Senhora da Penha e diz que vai processá-la. Segundo ela, a empresa não estava pronta para dar suporte na hora do atendimento aos passageiros depois do acidente.
Continua depois da publicidade
-Eu quero falar em nome de todas as pessoas envolvidas no acidente. Nós temos que ser tratados como gente e eles faltaram com humanidade com todas aquelas pessoas-, alega.
Adriane conta que o acordo com a empresa dizia que seriam duas aeronaves fretadas para transportar as duas filhas do Hospital Pirajussara, em Taboão da Serra, para o Hospital São José, em Joinville. No entanto, apenas uma levou as duas meninas para a cidade.
-A aeronave tinha capacidade apenas para um paciente. A Amanda voou como paciente e a Alana como acompanhante-, conta.
Segundo Adriane, ela ainda foi obrigada pela empresa a assinar um termo em que ela ficava responsável por qualquer coisa que acontecesse na viagem.
Continua depois da publicidade
-Eles disseram “ou você assina ou nós não vamos”. Isso é uma violência psicológica.
Contraponto
A empresa Nossa Senhora da Penha disponibilizou um canal de comunicação para informações sobre o acidente e, através dele, foi procurada para dar explicações a respeito das acusações de Adriane.
No entanto, a atendente informou que não havia ninguém para falar sobre o assunto e que as únicas informações sobre o suporte dado pela empresa às vítimas são as publicadas no site oficial.
No comunicado, a empresa explica que os passageiros que não sofreram lesão, bem como aqueles que receberam alta médica foram encaminhados aos seus respectivos destinos com integral auxílio econômico e logístico da empresa Penha.
Também informa que disponibilizou acomodações em hotéis, despesas com deslocamentos aéreos e terrestres aos parentes dos passageiros que se encontravam sob intervenção médica.
Continua depois da publicidade
Além disto, segundo a nota, foram disponibilizados equipe de psicólogos, assistentes sociais e funcionários para prestar atendimento aos passageiros e seus familiares nas cidades de Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo.