Da experiência dos encontros, Andrea Eichenberger reflete sobre a existência humana. Mas ela queria saber do Brasil, queria descobrir o que pensam e fazem os brasileiros, as pessoas comuns que são parte desse país em transformação e desenvolvimento mas que ainda protagonizam altos índices de desigualdade. A fotógrafa catarinense de 37 anos reuniu então sua bagagem artística e poética como artista e o olhar crítico e político de antropóloga para percorrer o Brasil de Norte a Sul no projeto de fotografia documental Translitorânea, contemplado com o Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais 2013.

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Translitorânea é um nome pouco conhecido da BR-101, rodovia federal que acompanha o litoral brasileiro em seu sentido longitudinal. O projeto de Andrea começou ainda em 2012, quando ela e o companheiro, o francês Alex Bresson, realizaram o primeiro trecho a bordo de um carro alugado, partindo de Florianópolis até São José do Norte (RS), último ponto da BR no Sul. Em 28 de dezembro do ano passado, ela embarcou para a última etapa, até a cidade de Touros (RN).

Na transitoriedade de uma estrada como a BR-101, Andrea reflete sobre o conceito de “não-lugar”, proposto pelo antropólogo francês Marc Augé para se referir a lugares transitórios, e o desconstrói a medida em que percebe a continuidade e o cotidiano das pessoas que não só passam, mas que ficam. Assim, ela fotografa pessoas e paisagens, documentando visualmente e em texto as impressões desses brasileiros que literalmente vivem na margem. A estrada se transforma em palco de uma road-trip, com cenas reais da diversidade geográfica, econômica, social e cultural brasileira.

Curiosidade pelo Brasil

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A razão que levou Andrea Eichenberger a enfrentar a rodovia da morte – ela, que mora parte do ano em Paris e outra parte em Florianópolis – foi a curiosidade pelo Brasil.

– Curiosidade de parar e olhar para ele. Recebemos tantas imagens da mídia que eu queria saber outras coisas. Queria olhar para a contemporaneidade, saber o que as pessoas comuns acham disso tudo, das mudanças no país.

Para captar essas impressões, Andrea usou câmera analógica, uma Hasselblad dos anos 1950, que ela comprou usada mas parece nova. O visor da câmera localiza-se em cima do equipamento, não sendo necessário colocá-la na frente dos olhos.

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– Isso proporciona uma interação com a pessoa que está sendo retratada – comenta.

A abordagem das pessoas é feita muito na beira da estrada ou nas cidades que estão próximas da rodovia.

Andréa conta que ao longo da viagem, muitas pessoas a usaram como porta-voz de seus problemas ao saberem do projeto.

– Outras me falavam de coisas muito particulares. Mostravam-me suas vidas, as pequenas plantações atrás de suas casas. Ou então contavam a história do lugar.

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As fotografias, vídeos e textos são postados no blog www.translitoranea.wordpress.com, que serve como um de diário de viagem. E no dia 13 de março já está agendada uma exposição com as imagens realizadas durante o projeto no Museu da Escola, em Florianópolis.