A empresária e designer de acessórios catarinense Ana Konder chegou à Inglaterra sozinha com um currículo que poderia ser bom para o Brasil, mas inexpressivo para os britânicos. Por aqui, começou a trabalhar aos 17 anos, e, aos 21, graças ao apoio do então marido, Derly Anunciação, já tinha a própria empresa, uma consultoria em marketing e publicidade. Mas o negócio nunca deslanchou como ela esperava.

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– Cheguei em Londres como todo brasileiro. Você acha que fala inglês por ter concluído cursos no Brasil, mas lá percebe que não fala nada. Comecei literalmente do zero e trabalhei duro. Nos primeiros meses, trabalhava para pagar as contas – comenta.

Ana começou como vendedora em uma loja de joias e, depois, na Harrods – uma das mais luxuosas lojas de departamentos do mundo. Foi lá que o lado artístico da jovem despertou. Na época, foi algo que surgiu espontaneamente sem ela sequer perceber que tinha talento para designer. Mas, ao revisitar a infância de Ana, encontra-se o dom para o desenho. Na escola e em casa, a menina chamava atenção pelo traço bem feito e pelos desenhos criativos.

De dia, Ana trabalhava na Harrods, à noite – e adentrando a madrugada -, desenhava peças com pedras brasileiras, principalmente agatha. Nas férias, quando viajava ao Brasil, comprava as pedras, mas pedia às fábricas cortes mais arrojados.

– No Brasil, usamos essas pedras de maneira simplificada. Mas na Europa elas são muito valorizadas. O que eu fiz foi sofisticar os cortes – comenta.

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Numa dessas coleções, a designer incorporou o uso de pele de raposa para dar uma conotação invernal. A coleção foi considerado vanguardista para a época, início dos anos 2000, e fez sucesso. As peças foram fotografadas diversas vezes para a Vogue inglesa e, com isso, a marca Ana Konder passou a ser vendida em várias lojas de renome como a própria Harrods e a Selfridges, em Londres. Com o portfolio debaixo do braço, a catarinense procurou as principais maisons da Europa. Karl Lagerfeld foi quem lhe abriu as portas e, no desfile primavera/verão da Chanel, em 2003, as bijuterias tinham a assinatura dela. A colaboração para a grife francesa mudou sua carreira. Ela nunca mais parou. No auge desta fase, vendia coleções para 13 países diferentes, nas melhores lojas internacionais como Bergdorf Goodman e Henry Bendel, em Nova York, Lane Crawford, em Hong Kong, e Barney’s, no Japão.

– Eu tenho uma natureza empreendedora e tive sorte de encontrar pessoas que acreditaram em mim, como o próprio Derly (segundo marido). Minha autoconfiança me ajudou bastante, afinal, ninguém bate à porta da Chanel se não acreditar no trabalho que oferece. Eu literalmente bati na porta de todas as grandes grifes, sem deixar nenhuma de fora. Em tudo que eu conquistei, tem muito suor – analisa.

As coleções com peles fizeram tanto sucesso que Ana expandiu a produção para outros acessórios e depois para casacos, até chegar ao que agora é o xodó dos seus negócios, a butique Ana Konder. Hoje ela não desenha mais. Dirige os criadores de sua marca e gerencia as empresas.