A superlotação do pronto-socorro do Hospital Santo Antônio, em Blumenau, fez a gerência da unidade retomar ações de conscientização sobre a prioridade de atendimento a casos graves. Os gestores do hospital consideram que, conforme dados obtidos pela triagem entre janeiro e abril do ano passado, 67,09% dos pacientes que estiveram no Santo Antônio deveriam ter procurado postos de saúde ou ambulatórios gerais.
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Os dados levam em consideração a classificação de Manchester, que divide os pacientes em cinco categorias: atendimento não urgente, pouco urgente, urgente, muito urgente e emergência. Os grupos podem ser observados nas pulseiras que as pessoas recebem após a triagem e interferem diretamente no tempo de espera, pois a instituição justifica que apenas os casos de urgência e emergências deveriam ser atendidos no hospital.
Entre os adultos, os casos classificados como pouco urgentes representaram 63,07% dos atendimentos do hospital em 2018. O contingente é somado ao não urgente (4,02%) para identificar os casos de baixa complexidade. Já as situações urgentes, que exigem atendimento em 60 minutos, responderam por 24,49% dos atendimentos, enquanto casos muito urgentes tiveram 2,9% e emergências, quando há risco iminente de morte, 0,28%.
O número de atendimentos não prioritários é ainda maior no caso da pediatria, mas pode ser explicado pelo Santo Antônio ser o único hospital que atende as crianças pelo SUS. Pacientes em estado não urgente e pouco urgente representaram 76,99% dos casos, enquanto 10,98% foram urgências, 2,9% situações muito urgentes e 0,24% emergências.
Além de representar a maioria dos casos, os pacientes não prioritários também elevaram o número de atendimentos totais, conforme a gerência do Hospital Santo Antônio. Entre 2014 e 2018 os números de pacientes no setor passaram de 59.262 para 78.235, crescimento de 32,02%. A média diária é de 200 a 250 pacientes na unidade.
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A gerente geral do Hospital Santo Antônio, Izabel Casain, explica que a unidade não tem problema financeiro ou falta de profissionais, mas enfrenta aumento na demanda enquanto não há crescimento do espaço físico para atender cada vez mais pacientes. Ela considera que falta conscientização da população para buscar os postos de saúde em caso de doenças consideradas mais simples, como gripe ou dor de cabeça.
— As pessoas recebem essa informação, mas vêm para o hospital porque podem fazer exames, como raio-x e exame de sangue, algo que eles não vai encontrar nos postos de saúde. Mas às vezes eles nem precisam disso, apenas de uma receita para se medicar e repousar — lamenta Izabel Casain.
Uma das ações tomadas pela unidade para contornar a situação, além do fechamento parcial do pronto-socorro, é utilizar os leitos de retaguarda. Como houve muita procura nos últimos dias, os tratamentos que não exigem tanta complexidade estão sendo encaminhados para internação no Hospital da Vila Itoupava.
Izabel Casain ainda cita que o hospital tem recebido uma demanda crescente de moradores de outras cidades. Ela alega que o Santo Antônio não é referência regional para pronto atendimento, pois há outros hospitais de médio porte na região que podem atender grande parte dos casos. Porém, os pacientes optam pelo Santo Antônio.
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Classificação dos atendimentos no Hospital Santo Antônio entre janeiro e abril de 2018
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Dirigente cita construção de UPAs como possível solução
Entre as ações que poderiam ser feitas para melhorar a situação da saúde pública em Blumenau, a criação de Unidades de Pronto Atendimento (UPA) é a mais importante na opinião de Izabel Casain. Ela explica que esse modelo seria importante para fazer o atendimento intermediário entre os postos de saúde e o hospital, já que poderia resolver os casos de baixa complexidade e encaminhar os pacientes em estado grave.
— Nem se criassem mais 10 postos de saúde resolveria esse problema (de lotação do Hospital Santo Antônio). Seriam necessárias ao menos três UPAs em Blumenau, como já há em Joinville e Florianópolis, para fazer esse atendimento e desafogar a lotação do hospital — afirma Izabel Casain.
Por nota, a Secretaria de Saúde afirmou que não há planejamento de implementar no município uma UPA no padrão definido pelo Ministério da Saúde. A pasta alega que o modelo se mostrou ineficiente em outras cidades e o município entende que com os três pronto-socorros, as 66 equipes da Estratégia Saúde da Família e os sete ambulatórios gerais há cobertura de assistência em saúde no município.
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A secretaria entende que a necessidade neste momento é o uso racional e correto dos serviços de urgência e emergência. Além disso, que é o momento dos hospitais, em específico do Santo Antônio, cobrarem “mais investimentos por parte do governo do estado e do pagamento de valores históricos em atraso junto a essas entidades e à Secretaria de Promoção da Saúde de Blumenau”.