Primeiro aparece uma ferida. Não dói, não coça, não arde. Depois de um tempo, em média três semanas, o problema some. Você pensa que passou e que poderia ser só uma alergia ou uma picada de inseto. Sem se dar conta, algum período após a contaminação, chega o diagnóstico: é sífilis.
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A doença voltou a ser considerada uma epidemia pelo Ministério da Saúde há dois anos. Os dados de Blumenau dão uma dimensão do que motivou o alerta do governo federal. Em cinco anos, o número de pessoas adultas que descobriu estar com a infecção causada pela bactéria Treponema pallidum passou de 18 ao longo de 2014 para 141 somente no primeiro semestre de 2018. O crescimento é de 683%, segundo o Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Prevenção (Cedap).
A doença sexualmente transmissível é silenciosa e por isso os índices podem não corresponder a realidade, apontam especialistas. Para eles, os números são maiores e muitas pessoas nem sabem que estão infectadas. Um perigo para a propagação da doença e um alerta de que a porta está aberta para outras patologias, como o HIV.
O infectologista Amaury Mielle defende a necessidade urgente de uma mudança de comportamento, de que é preciso haver entendimento de que se não tiver proteção nas relações o diagnóstico de sífilis não vai cessar. Para ele, os reflexos reais do descuido de hoje só virão em 20 ou 30 anos, tempo que a doença pode levar para se manifestar de forma mais agressiva e fazer com que a pessoa busque ajuda médica.
– Naquele paciente que não teve o diagnóstico ou não tratou a sífilis, ele pode ter no futuro problemas neurológicos graves, psiquiátricos e isso é muito preocupante – pontua o especialista.
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O médico do Cedap, José Carlos Pereira Galvão, ressalta que o diagnóstico e o tratamento são rápidos e eficazes, com sucesso na cura. Entretanto, é preciso que os pacientes tenham consciência da gravidade da doença e se previnam, para não se recontaminar, bem como não contaminar os parceiros.
– A gravidade é possibilidade de neurossífilis, que pode levar a lesões no cérebro, transtornos físicos, que podem até mesmo comprometer a capacidade de caminhar – explica Galvão.
CASOS EM GESTANTES E BEBÊS TAMBÉM SUBIU
A situação é preocupante também com as crianças. A sífilis congênita, como é conhecida a transmissão da mãe para o bebê, segue crescendo. O número de casos notificados subiu 625% de 2014 para 2018, em Blumenau. A quantidade de gestantes com o diagnóstico também aumentou. Em 2014, foram quatro casos notificados. Em 2018, nos seis primeiros meses, foram 29.
Em 2016, foram notificados mais de 20 mil casos de sífilis congênita no Brasil. Desses, 185 vieram a óbito. Eis a necessidade de tratar a mulher durante a gestação e garantir que o bebê nasça sem contaminação. Caso contrário, Galvão alerta sobre as possibilidades:
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– Se essa mãe não fizer o tratamento adequadamente durante a gestação, se o companheiro dela não for tratado, fatalmente a criança, quando nascer, vai ter valores de exames positivos, levando o recém-nascido a ficar, muitas vezes, internado durante 10 dias, tendo que fazer punção para ver se ele tem neurossífilis – explica o médico.
ONDE BUSCAR AJUDA
Em Blumenau, é possível fazer o teste rápido de detecção da sífilis no Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Prevenção (Cedap). O espaço – situado na Rua Paraíba, 380, no Centro – atende das 8h às 16h30min, de segunda a sexta-feira. O exame é gratuito. O resultado sai em 30 minutos e em casos positivos o paciente é encaminhado imediatamente para tratamento.
A cura se dá com aplicações periódicas de penicilina benzatina. O médico do Cedap, José Carlos Pereira Galvão, destaca a importância de a pessoa saber com quem se relacionou e que pode ter contraído ou transmitido o vírus, para que todos recebam o médico.
ESTÁGIOS DA DOENÇA
Sífilis primária
* Ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais da pele), que aparece entre 10 a 90 dias após o contágio. Essa lesão é rica em bactérias.
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* Normalmente não dói, não coça, não arde e não tem pus, podendo estar acompanhada de ínguas (caroços) na virilha.
Sífilis secundária
* Os sinais e sintomas aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento e cicatrização da ferida inicial.
* Podem ocorrer manchas no corpo, que geralmente não coçam, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés. Essas lesões são ricas em bactérias.
* Pode ocorrer febre, mal-estar, dor de cabeça, ínguas pelo corpo.
Sífilis latente – fase assintomática
* Não aparecem sinais ou sintomas.
* É dividida em sífilis latente recente (menos de dois anos de infecção) e sífilis latente tardia (mais de dois anos de infecção).
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* A duração é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária.
Sífilis terciária
* Pode surgir de dois a 40 anos depois do início da infecção.
* Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.
Fonte: Ministério da Saúde