Casos de raiva voltaram a ser registrados em animais domésticos de Santa Catarina, em 2023, após quatro anos. O último paciente havia sido diagnosticado em 2019, quando uma mulher de 58 anos morreu após ser mordida por um gato infectado.
Continua depois da publicidade
Neste ano, ao menos três casos já foram contabilizados desde janeiro — sendo dois deles confirmados pelas prefeitura e não somados, até esta quinta-feira (13), pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive). Esta é a primeira vez em 17 anos que Santa Catarina registra mais de um caso anual, conforme dados do órgão.
Receba notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp
A raiva é uma doença que atinge tanto animais quanto humanos, e pode levar infectados à morte em até sete dias. No Estado, neste ano, os registros foram feitos em um gato doméstico de Orleans, no Sul catarinense, e em dois morcegos — sendo um deles em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, e outro em Jaraguá do Sul, no Norte. Conforme a Dive, não há casos suspeitos em investigação.
De acordo com o Ministério da Saúde, a doença pode ser caracterizada como uma encefalite grave, com letalidade em quase 100% dos casos. Transmitida para humanos por meio da saliva de animais infectados, principalmente por mordida e arranhões de cães e gatos, a raiva é prevenida apenas pela vacinação.
Continua depois da publicidade
Segundo o veterinário Argemiro Luciano dos Passos, a volta dos registros de raiva em humanos, cães e gatos deve-se, justamente, à falta de preocupação com a imunização dos animais. A doença não tem cura e nem tratamento.
SC confirma caso de raiva bovina e emite alerta a produtores rurais
— Na clínica vejo muitas pessoas tentarem deixar a vacina de raiva de lado. “Ah, raiva não tem mais aqui, né?” E eu falo que não temos porque em determinado momento de nossa história, fizemos nosso dever de casa e vacinamos muitos dos nossos animais — diz.
A transmissão da raiva acontece após o contato com a pele lesionada, quando o vírus entra no corpo e chega ao cérebro, causando inchaço ou inflamação. Conforme explica a médica veterinária da Dive, Alexandra Schlickmann Pereira, a doença pode não apresentar sintomas durante um intervalo de 45 dias e permanecer incubada — a depender da profundidade da mordida.
Anos atrás, conforme complementa Argemiro, a raiva era vista mais frequentemente em cães, nos espaços urbanos, além dos gatos. No entanto, a mudança de características do ambiente dos cachorros (estando mais dentro de casa atualmente) diminuiu o contato deles com morcegos, tendo crescido assim os casos em gatos — que costumam caçar e brincar com os morcegos.
Continua depois da publicidade
— É importante não se aproximar, tocar ou mexer em animais que você não conhece, ainda mais quando estiverem se alimentando ou dormindo. Assim como as pessoas não devem tocar, nem manusear os morcegos, por exemplo, que também podem transmitir a doença — alertou Alexandra.
Veja o histórico dos casos de raiva em SC
2006
- Xanxerê (2 casos — um cão e um gato)
- Itajaí (1 caso — registrado em um cachorro)
2016
- Jaborá (1 caso — em cão)
2019
- Gravatal (1 caso — uma mulher mordida por um gato infectado)
Antes desta morte humana, o Estado só havia registrado caso de raiva em pessoas em 1981.
2023
- Orleans (1 caso — registro em gato)
- Chapecó (morcego identificado com raiva, não contabilizado pela Dive)
- Jaraguá do Sul (morcego identificado com raiva)
Casos bovinos de raiva
Santa Catarina registrou neste ano quatro casos de raiva bovina. Os casos da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola do Estado (Cidasc) foram registrados em Alfredo Wagner, na Grande Florianópolis, e em três cidades do Sul do Estado — Jaguaruna, Treze de Maio e Sangão.
Em junho do ano passado, quatro cidades catarinenses registraram ao menos um caso de raiva bovina cada uma — Angelina, Lontras, Pedras Grandes e, também, Treze de Maio.
Continua depois da publicidade
O que a raiva provoca
Transmitida por um vírus mortal, a doença envolve o sistema nervoso central, levando pacientes ao óbito em aproximadamente 100% dos casos, conforme o Ministério da Saúde. Os sintomas, porém, se diferem em casos humanos e animais.
Raiva humana:
No início, os sintomas são característicos: inquietude, perturbação do sono, alterações na sensibilidade, queimação, formigamento e dor no local da mordedura. Pode-se ainda ser registrado um quadro de alucinações, acompanhado de febre e crises convulsivas periódicas.
- Mal-estar geral;
- Pequeno aumento de temperatura;
- Perda de apetite;
- Dor de cabeça;
- Náuseas;
- Dor de garganta;
- Fraqueza;
- Irritabilidade;
- Inquietude;
- Sensação de angústia.
O que fazer ao ser mordido por um animal
- Lavar imediatamente o ferimento com água e sabão;
- Procurar com urgência o Serviço de Saúde mais próximo;
- Não matar o animal, e sim deixá-lo em observação durante 10 dias, para que se possa identificar qualquer sinal indicativo da raiva;
- O animal deverá receber água e alimentação normalmente, num local seguro, para que não possa fugir ou atacar outras pessoas ou animais;
- Se o animal adoecer, morrer, desaparecer ou mudar de comportamento, voltar imediatamente ao Serviço de Saúde;
- Nunca interromper o tratamento preventivo sem ordens médicas;
- Quando um animal apresentar comportamento diferente, mesmo que ele não tenha agredido ninguém, é necessário acionar o Serviço de Saúde.
Continua depois da publicidade
Raiva em animais
Nos cães, o latido torna-se diferente do normal, parecendo um “uivo rouco”, e os morcegos, com a mudança de hábito, podem ser encontrados durante o dia, em hora e locais não habituais.
- Dificuldade para engolir;
- Salivação abundante;
- Mudança de comportamento;
- Mudança de hábitos alimentares;
- Paralisia das patas traseiras.
Animais que podem transmitir raiva
- Espaço urbano: principalmente cães e gatos;
- Rural: principalmente bovinos, equinos, suínos e caprinos;
- Silvestre: raposas, guaxinins e, principalmente, morcegos.
Existe variante de raiva?
As variantes do vírus da raiva são encontradas apenas em cães e morcegos. São ao todo sete, conforme explica o veterinário Argemiro Luciano dos Passos. Segundo ele as classificações dão pista de onde o animal teria se infectado, e todas são letais. Para o especialista, o gato tem um papel importante e principal na transmissão do vírus, já que ele caça o morcego, diferente do cão, por exemplo, ou outros animais, que precisam ser mordidos.
Continua depois da publicidade
Leia também
Operação Mensageiro: prefeito de Pescaria Brava combinou propina antes de ser eleito, afirma MP
Operação Mensageiro: com três prefeitos réus, confira os próximos passos da investigação
Empresário de Blumenau abre mão do trabalho e manda equipe inteira para ajudar em creche