A condenação do ex-chefe de campanha do presidente Donald Trump e a declaração de culpa de seu ex-advogado pessoal na terça-feira aliviaram o procurador especial Robert Mueller, cada vez mais pressionado politicamente para terminar a sua investigação sobre a suposta ingerência russa na campanha eleitoral de 2016, que já dura 15 meses.

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Os casos de Paul Manafort e Michael Cohen não vão acabar com as críticas de Trump à investigação de Mueller, que ele chama de “caça às bruxas”, em um esforço furioso destinado a socavar qualquer tentativa de levá-lo à Justiça.

Mas os especialistas dizem que cada vitória conta para o procurador especial, que graças ao seu crescente histórico de êxitos aumenta a chance de assegurar a cooperação de futuros depoimentos.

Com a aproximação das cruciais eleições legislativas, marcadas para novembro, Trump está desesperado para convencer os eleitores de que a investigação tem prejuízos políticos, com a esperança de proteger a maioria republicana tanto no Senado como na Câmara de Representantes.

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A sua primeira reação aos resultados de ambos os casos judiciais na terça-feira foi insistir mais uma vez que não existe base para a investigação de Mueller.

“Não me envolva. Não tenho nada a ver com o conluio com a Rússia. Continuamos com a caça às bruxas”, afirmou Trump.

Nesta quarta-feira, o presidente voltou a se expressar sobre o tema no Twitter, criticando Cohen e elogiando Manafort.

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Enquanto assegurou que seu ex-advogado havia “inventado os fatos para obter um acordo” de negociação para reduzir sua pena, escreveu que sentia “um grande respeito por um homem corajoso”, se referindo ao seu ex-chefe de campanha.

– Batalha difícil –

Mueller tem uma difícil batalha para provar as acusações de que houve conluio entre a campanha de Trump e a Rússia durante as eleições de 2016, e que o presidente tentou obstaculizar a sua investigação.

No caso de Manafort, o primeiro que a equipe de Mueller levou a julgamento, o júri considerou o ex-chefe de campanha de Trump culpado de oito acusações de evasão fiscal, fraude bancária e omissão de declaração de renda no exterior.

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Embora a evidência seja sólida, o caso se centrou nas transações de Manafort separadas da campanha de 2016 e não diretamente relacionadas com a Rússia.

O caso de Cohen tampouco tinha um ângulo de conluio com os russos.

Cohen se declarou culpado de fraude bancária e fiscal em seu negócio pessoal, e de violações de financiamento de campanha relacionado com pagamentos ocultos a duas supostas ex-amantes de Trump.

Nessa última acusação, envolveu o presidente em um crime, declarando que o próprio Trump ordenou os pagamentos para influenciar o resultado das eleições.

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Embora não seja relacionado com um conluio, os dois casos destacaram que Mueller não vai atrás de acusações superficiais, como afirmam seus críticos.

“A condenação de Manafort demonstra que a investigação de Mueller está longe de ser uma caça às bruxas”, declarou o congressista democrata Adam Schiff.

“Também mostra que a campanha e administração (de Trump) estiveram cheias de pessoas com um histórico de negócios sem escrúpulos e vínculos com interesses estrangeiros”, acrescentou.

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– Mover-se rápido –

Os dois casos demonstraram que Mueller, ex-diretor do FBI de 74 anos, está trabalhando de maneira rápida e eficiente. Desde que foi nomeado, em maio de 2017, não fez comentários públicos sobre o progresso de sua investigação nem respondeu aos ataques quase diários do presidente.

Mas acusou 33 pessoas, 25 delas russos, e três empresas.

Cinco negociaram declarações de culpa por acusações reduzidas, incluindo o ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump Michael Flynn; o ex-vice-chefe de campanha e ajudante de Manafort, Richard Gates; e o ex-assessor de Política Exterior George Papadopoulos.

Comparativamente, o procurador especial Ken Starr demorou quatro anos para apresentar uma acusação contra o então presidente Bill Clinton, nos anos 1990.

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Michael German, ex-agente do FBI que agora está no Brennan Center for Justice, disse que o veredicto de culpa no julgamento de Manafort foi um importante passo para Mueller.

“Cada vitória é importante para o resultado da investigação”, assinalou.

“É mais fácil obter a cooperação das testemunhas ou assegurar declarações de culpa se estiver buscando estabelecer um registro de sucesso. Coloca mais pressão sobre as pessoas para que cooperem com a investigação”, acrescentou.

– Pressão da Casa Branca –

Ainda assim, a Casa Branca diz que Mueller está sendo muito lento.

“Acho que fomos muito claros de que não apenas nós, mas todos os americanos, queremos que isso acabe”, declarou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, na semana passada.

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O ex-procurador federal Renato Mariotti declarou que há uma ameaça constante e implícita de Trump de acabar sumariamente com a investigação, mesmo que isso desatasse uma crise constitucional.

“Mueller tem que estar preparado sobre se ele permitirá acabar com a sua investigação”, apontou.

* AFP