A absolvição do vigia branco George Zimmerman, acusado de matar o jovem negro Trayvon Martin na Flórida, reabriu feridas raciais nos Estados Unidos.
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Depois de milhares de pessoas irem às ruas em Nova York, Los Angeles, Chicago e Atlanta, no domingo, outros protestos estão marcados para ocorrer nos próximos dias em cem cidades.
Ontem, houve prisões em atos perto do prédio da rede CNN, em Hollywood, e outras 15 em Nova York por desordem, segundo a polícia. O julgamento, que terminou no sábado em Sanford, centro da Flórida, dividiu o país entre os que acreditam que Zimmerman, um americano de mãe peruana, agiu em legítima defesa e aqueles que pensam que o vigia foi motivado por preconceito racial contra Martin. O vigia foi acusado de perseguir e atirar no jovem, que estava desarmado, durante uma briga entre os dois na noite de 26 de fevereiro de 2012.
No ano passado, o caso já havia provocado manifestações em massa em várias cidades do país, que fizeram o presidente desabafar:
– Se tivesse tido um filho, ele seria parecido com Trayvon.
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À época, Obama convocou um debate sobre racismo e a lei de armas da Flórida, que ampara a defesa pessoal.
– Haverá manifestações neste sábado em cem cidadese diante de prédios federais, para pressionar o governo e defender nossos direitos cívicos – anunciou Al Sharpton, líder da Rede de Ação Nacional (National Action Network, NAN), organização de defesa dos direitos cívicos.
Ele se declarou confiante de que o governo federal vá rever o caso.
Em contrapartida, o veredicto de sábado foi aplaudido por defensores das armas, por todos aqueles que apoiam a lei conhecida como “Stand Your Ground” (“Defenda sua posição”, em tradução livre). Essa lei permite o uso de armas por parte de quem se sentir ameaçado de morte.
No domingo, após a explosão dos protestos, o presidente Obama pediu calma. “Sei que esse caso provocou intensas paixões. No dia seguinte ao veredicto, sei que essas paixões podem se intensificar. Mas somos um Estado de direito, e um júri falou”, afirmou Obama, em nota à imprensa.
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As juradas que absolveram Zimmerman da acusação de assassinato em segundo grau – com a possibilidade de pena de prisão perpétua – e homicídio culposo – pena máxima de 30 anos de prisão – não explicaram as razões de seu veredicto, porque isso implicaria revelar sua identidade publicamente. O tribunal respeitou a escolha das integrantes do júri de manter o anonimato.
A decisão das juradas se baseou nas 27 páginas de instrução entregues pela juíza Debra Nelson, que incluíam duas seções com uma opção para declarar o réu inocente: uso justificado de força letal e dúvida razoável.
Flórida é o Estado com maior número de armas
Antes do início das deliberações, na sexta-feira, a juíza disse ao júri que, segundo a lei da Flórida, o “homicídio de um ser humano é justificável e lícito, se for necessário, quando se resiste a uma tentativa de assassinato ou se comete um crime grave em relação a George Zimmerman”. A Flórida é o Estado com maior número de pessoas armadas nos Estados Unidos.
Durante quase três semanas, as seis integrantes do júri ouviram dezenas de depoimentos que podem ter criado uma “dúvida razoável”.
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– George Zimmerman não é culpado se existe uma “dúvida razoável” de que agiu em legítima defesa – disse o advogado Mark O’Mara ao júri na sexta-feira, antes de sua deliberação final. O advogado afirmou que Zimmerman voltará a portar armas.
A tese da defesa
Como ocorreu o crime:
– Trayvon Martin foi morto a tiros em 26 de fevereiro de 2012, aos 17 anos, quando voltava para a casa dos pais em um condomínio fechado em Sanford, na Flórida, depois de ter saído para comprar refrigerante e um pacote de balas.
– O vigia George Zimmerman (foto) alegou que seguiu o rapaz – que estava desarmado – por considerá-lo suspeito e disparou contra ele em autodefesa, após ter sido supostamente agredido.
– O vigia foi preso seis semanas após a morte, sob forte pressão social.
– No sábado, Zimmerman foi considerado inocente por um júri popular (composto por cinco mulheres brancas e uma de origem hispânica).
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– O Departamento de Justiça anunciou que irá revisar as provas para determinar se novas acusações serão apresentadas.