O caso Suzane von Richthofen se tornou um dos crimes mais conhecidos do país nas últimas décadas. Com a estreia dos filmes produzidos pela Amazon Prime que contam a história do assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen, o crime voltou a ser um dos assuntos mais comentados. E agora, com o novo filme prestes a ser lançado, os depoimentos que causaram a condenação dos acusados, novamente são buscados.
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Dividido em duas produções, a versão cinematográfica apresenta diferentes pontos de vista: o de Suzane von Richthofen, filha do casal, e de seu namorado na época do crime, Daniel Cravinhos.
A necessidade de dois filmes se deu em vista dos depoimentos dos acusados, que apresentavam diferentes versões para o crime. A seguir, conheça melhor o caso Suzane von Richthofen, os depoimentos e a comparação entre realidade e ficção.
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O crime
Foi na madrugada do dia 31 de outubro de 2002, que o engenheiro Manfred Albert e a psiquiatra Marísia Von Richthofen foram assassinados a golpes de barra de ferro enquanto dormiam em sua casa, localizada em um bairro nobre de São Paulo.
O crime foi planejado e executado pela filha mais velha do casal, a estudante de direito Suzane von Richthofen. Na época com 18 anos, a jovem contou com a ajuda do namorado, Daniel Cravinhos, e do irmão mais velho, Cristian Cravinhos.
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O motivo do crime teria sido a desaprovação do relacionamento de Suzane e Daniel pelos pais da jovem. Além disso, o desejo de usufruir da herança. As investigações chegaram ao fim quando, uma semana depois, Cristian confessou o crime, sendo seguido por Daniel e Suzane. Andreas, filho caçula de Manfred e Marísia e que tinha 15 anos na época, não teve envolvimento com o crime.
O Julgamento
O caso Suzane von Richthofen teve a cena do crime modificada para que indicasse tratar-se de um latrocínio – roubo seguido de morte. Contudo, as evidências levaram a investigação para outro caminho.
O dinheiro que estava na casa foi dado a Cristian, e o mesmo utilizou para comprar uma moto alguns dias após o assassinato. O fato despertou a suspeita da polícia, que ao investigar o jovem, constatou seu envolvimento após sua confissão.
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Os três assassinos confessos foram presos em 2002. Com a necessidade de remarcar a audiência, o julgamento do crime foi realizado somente após 4 anos, em 17 de julho de 2006, com duração de 5 dias de depoimentos e debates.
Quatro anos após o crime, Suzane e Daniel deixaram de ser namorados para se tornarem inimigos. Isso porque, enquanto os advogados da jovem alegavam que ela teria sido manipulada por Daniel, a defesa dos irmãos Cravinhos afirmava que o crime teria sido planejado por Suzane, e Daniel teria se envolvido por amor.
Depoimento dos irmãos Cravinhos
No primeiro dia de interrogatório os irmãos Cravinhos mudaram a versão do crime. Eles desmentiram os depoimentos prestados até então, em que diziam que ambos teriam matado o casal.
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A nova versão garantia que apenas Daniel tinha participado do assassinato. Como forma de inocentar Cristian, o irmão afirmou que Cristian teria ficado paralisado próximo à janela do quarto.
Contudo, a versão foi rejeitada pela perita criminal do caso, Jane Marisa Bellucci. Além disso, antes da necessidade de uma acareação entre os irmãos, Cristian pediu para depor novamente e assumiu mais uma vez a participação no crime, sendo o responsável pela morte de Marísia von Richthofen.
A promotoria acredita que o irmão mais velho decidiu mudar seu depoimento após ouvir a mãe, Nadja Cravinhos, testemunhar, pedindo que a justiça fosse proporcional com o crime de cada um deles. Assim como a mãe, o pai Astrogildo Cravinhos, diretor de cartório aposentado na época, afirmava que Daniel era um menino dócil, e que amava o irmão Cristian.
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A mãe ainda afirmou em seu depoimento que Suzane manipulava o filho, e que Daniel nunca precisou do dinheiro da família da namorada, visto que tinha uma boa renda com a construção de aviões para prática de aeromodelismo.
O depoimento de Andreas von Richthofen
Entre os depoimentos das testemunhas de acusação e defesa, o filho mais novo do casal von Richthofen foi ouvido. Andreas, com 19 anos na época do julgamento, se referiu à irmã como uma pessoa calculista, chantagista e manipuladora.
Além disso, o jovem afirmou que nunca a perdoou pela morte dos pais, além de acusá-la de chantageá-lo em relação à herança em algumas de suas visitas à irmã na cadeia.
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Depoimento de Suzane von Richthofen
No caso Suzane von Richthofen, a jovem seguiu à risca as orientações dadas por seus advogados de defesa durante o depoimento. Eles instruíram a jovem a mostrar um bom relacionamento com a família, e que a relação só começou a desmoronar após a jovem ter conhecido Daniel Cravinhos.
O depoimento de Suzane durou duas horas e meia. A jovem insistiu na tese de que era manipulada e dominada por Daniel, que foi iniciada nas drogas por ele, e que foi ideia do jovem matar seus pais para aproveitar a herança.
Suzane alegou que foi com Daniel que perdeu a virgindade, e que o ex-namorado era financeiramente dependente dela, contradizendo o depoimento de Daniel ao juiz. Segundo o jovem, Suzane já era usuária de drogas antes mesmo de conhecê-lo, e já tinha perdido a virgindade.
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Suzane afirmou que para se encontrar com Daniel se afastou da mãe, sendo obrigada a mentir. Deixou de ir às aulas de caratê e faltava a algumas aulas no colégio e no cursinho.
A jovem ainda contou que Daniel exigia que ela pagasse suas contas, e que pagava as viagens que fazia escondido dos pais com o ex-namorado. A jovem repetiu diversas vezes em seu depoimento que apenas obedecia às ordens do ex-namorado.
A estratégia de Suzane foi mostrar ao juiz e aos jurados que nasceu e cresceu em uma família bem-estruturada e normal, negando a ideia de executar os pais. Afirmou que, um dia antes do crime, pegou luvas cirúrgicas e as meias, utilizadas no assassinato, e colocou na bolsa a mando de Daniel.
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Segundo relato, a jovem encontrou com Daniel na noite do crime, como fazia quase todos dias, e o ex-namorado afirmou que tinha que ser naquela noite. Suzane contou que utilizou muita maconha no dia, motivo pelo qual ela estaria totalmente atordoada.
Suzane von Richthofen disse que a mãe começou a impor restrições ao namoro depois que ela começou a gastar todo o dinheiro que tinha com ele. Ainda no depoimento, afirmou que quando ela e o ex-namorado consumiam drogas, ele sugeria como a vida seria melhor sem os pais dela.
A jovem afirma que dirigiu o carro com Daniel e Cristian até sua casa, recebeu ordens no portão para verificar se os pais estavam dormindo, e voltar para deixá-los entrar. De acordo com sua afirmação, negou que tivesse feito qualquer sinal para que os irmãos subissem até o quarto em que os pais dormiam.
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Segundo a jovem, após o assassinato, Cristian desceu para pegar uma jarra de água na cozinha, enquanto Suzane pegava um saco de lixo na dispensa e, em seguida, fou procurar uma mala com roupas para que os dois se trocassem. Após o crime, teria deixado Cristian em casa e seguido para um motel, onde passou a noite com o ex-namorado.
A pena
Na fase final do julgamento do caso Suzane von Richthofen, o promotor Roberto Tardelli pediu aos jurados a condenação dos três réus por duplo homicídio triplamente qualificado, com 50 anos de prisão para cada um.
A sentença dos três jovens acusados pela morte do casal Richthofen foi anunciada no dia 22 de julho de 2006. Suzane e Daniel tiveram a condenação a 39 anos de reclusão, mais seis meses de detenção. Já Cristian, a 38 anos de reclusão, mais seis meses de detenção. A pena máxima pedida pelo Ministério Público não foi aplicada pelo juiz Alberto Anderson Filho para evitar um novo julgamento.
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O que é real e o que é ficção?
Assim como as contradições entre os depoimentos, os filmes que relatam o caso Suzane von Richthofen apresentam as versões afirmadas por ambos. Contudo, como forma de dramatizar a história do crime frio que chocou o país, alguns fatores foram incluídos nas versões. No entanto, sempre mantendo de alguma forma insinuações realizadas durante o julgamento:
- Suzane religiosa: real, a jovem se tornou evangélica dentro da prisão para evitar problemas com outras presas;
- Planejamento do crime: ficção, apesar de Daniel afirmar que Suzane teria criado ideias, o crime não foi planejado por longos meses;
- Abusada pelo pai: ficção: ainda que tenha afirmado a Daniel que era abusada pelo pai, Suzane desmentiu a versão, informação também negada pelo irmão Andreas;
- Casos extraconjugais: real, Suzane e a mãe sabiam que o pai era infiel, no entanto, a insinuação de casos extraconjugais por parte da mãe, como é relatado no filme, é ficção;
- A negativa de Christian na participação do crime: real, Christian não queria participar do crime e ameaçou revelar tudo ao pai. No entanto, Suzane afirmou que era abusada por Manfred, motivo que levou o jovem a topar seu envolvimento no crime por amor ao irmão.