O processo judicial sobre a colisão frontal entre um Jaguar e um Fiat Palio que matou duas jovens na BR-470, em Gaspar, caminha a passos lentos. Há exato um ano a tragédia interrompeu as histórias de Amanda Grabner Zimmermann, 18, e Suelen Hedler da Silveira, 21, além de mudar a vida das outras três ocupantes do carro. O motorista do carro de luxo, Evanio Prestini, que estava embriagado, aguarda o andamento em liberdade.
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Prestini foi preso em flagrante no dia do acidente após realizar o teste do bafômetro. Ele teve a preventiva decretada, mas deixou o Presídio Regional de Blumenau cinco meses depois. A juíza Camila Murara Nicoletti, de Gaspar, definiu que ele vai a júri popular por dois homicídios e tentativa de três homicídios, além de responder pelo crime de trânsito por dirigir embriagado.
A defesa de Prestini contestou a decisão e agora os desembargadores do Tribunal de Justiça, em Florianópolis, devem avaliar se manterão o júri ou não. Ainda não há uma data para a votação do recurso. Porém, a assessoria do relator, o desembargador Alexandre D’Ivanenko, informou que a equipe já estuda o caso. A avaliação deve ocorrer “em breve”, ainda no primeiro semestre deste ano. De qualquer forma, caberá novo recurso de ambas as partes à última instância, o Superior Tribunal de Justiça (STJ).
— O processo segue o caminho normal. Há prioridade em casos em que o acusado está preso, mas isso não significa que este (processo do Evanio Prestini) esteja parado — defende um dos advogados do condutor do Jaguar, Nilton Machado.
Foi o Ministro do STJ, João Otávio de Noronha, que concedeu liberdade provisória a Prestini em julho do ano passado. A medida foi publicada em uma sexta-feira, às 18h48min, em regime de plantão. O acusado deixou a unidade prisional no mesmo dia, no carro dos advogados. Deste então, tem de cumprir medidas cautelares. Não frequentar bares, nem sair da cidade por mais de 30 dias sem avisar e permanecer em casa, em Guaramirim, das 20h às 6h (ou em período integral quando não estiver trabalhando) são algumas das exigências.
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Questionamento do Ministério Público
A última movimentação no processo contra Prestini é uma ação penal que o acusa de descumprir umas das medidas cautelares. Conforme a denúncia do Ministério Público, Evanio teria sido visto em uma piscina de um condomínio de Balneário Camboriú no dia 21 de janeiro, mesmo local onde ele havia solicitado autorização judicial para passar as festas de fim de ano. À época, o pedido fora negado pela Justiça.
No dia 21, a Polícia Militar procurou por Prestini na casa dele e na empresa onde trabalha, mas ele não estava. A irmã do acusado teria dito aos policiais que ele “havia deixado a empresa para ir a uma reunião, não sabendo informar o local que ocorreria”, conforme registro da promotora Andreza Borinelli. Ela pediu as imagens das câmaras de segurança do prédio do litoral para confirmar a denúncia, que chegou de forma anônima. A disponibilização das imagens tem de ser autorizada pela juíza, que não se manifestou sobre o assunto até o momento.
Os advogados de Prestini contestaram a visita da PM. No processo, responderam que o motorista do Jaguar “não se encontra em prisão domiciliar, não tendo qualquer restrição de deslocamento, inclusive para outras cidades, desde que respeitado o horário limite compreendido entre às 6h e 20h”.
À espera do júri
Entre as famílias das vítimas e as próprias sobreviventes do acidente, o sentimento é semelhante: todos aguardam o dia do júri popular, esperando que a justiça seja feita. Thainara Schwartz, 22 anos, que estava no carro com as amigas, conta que frequentemente sonha com acidentes de trânsito.
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— Essa semana sonhei que alguém veio e me disse que o júri vai ser dia 4 de abril. Falei para minha mãe: “tomara que seja um sinal”. Eu queria que ele (Prestini) assumisse o que fez. Que esse júri aconteça para as famílias poderem virar a página — deseja a jovem.
Melhor amiga de Suelen, que perdeu a vida no acidente, Thainara quase não sai mais de casa. Perdeu a vontade de ir às festas, bares e até de fazer compras simples. Antes, todas as atividades eram divididas com a amiga. Semanalmente elas dormiam uma na casa da outra. Eram inseparáveis. Thainara buscou tratamento psicológico para superar o trauma, a perda, a depressão e ansiedade que desenvolveu após a tragédia.
Maria Eduarda Kraemer, que estava no banco de trás, teve ferimentos graves. Com muita fisioterapia e ajuda psicológica, conseguiu voltar a andar depois das fraturas no fêmur, na região do quadril, além de diversos ferimentos pelo corpo. Os médicos ainda tiveram de fazer um procedimento de reconstrução da bexiga e do nariz. “Esta semana está sendo muito difícil para todos, nosso psicológico está abalado. Foi um ano que não vivemos, apenas sobrevivemos”, resumiu a mãe de Maria, Roseli.
— Nossa família está despedaçada. Espero que ele seja julgado, condenado e que pague pelo que fez — diz o pai de Suelen, Olampio Silveira.
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Até o momento, nenhum processo de pedido de indenização dos familiares foi concluído. Exceto o custeio de um dos tratamentos de Maria, Prestini não teria pago qualquer outra despesa às demais ou às famílias das jovens mortas. A reportagem tentou conversar com os advogados que representam Prestini nas ações civis, mas ninguém atendeu.