A vida nova de Ícaro Alexandre Pereira no Litoral de Santa Catarina estava começando a ser escrita. Seis meses após a mudança de São Paulo para Balneário Camboriú o menino ainda se ambientava com as ruas, o bairro e a rotina da casa nova quando, no dia 9 de fevereiro de 2016, sua história foi interrompida. Desde a tarde daquele dia o menino com olhos grandes e expressivos não foi mais visto. Um ano depois, não há sequer pistas sobre o sumiço do pequeno de sete anos.

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– No desaparecimento de crianças, quando há o indício muito forte de familiares envolvidos, o caso se torna difícil de resolver. A polícia precisa mudar o rumo da investigação e aí se perde um tempo precioso. No caso Ícaro, há suspeita grande em cima do Alois Gebauer (padrasto do menino), mas nós não temos mais elementos para provar à Justiça que ele é o responsável – afirma o delegado da Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas de Santa Catarina, Wanderlei Redondo.

O padrasto de Ícaro – único suspeito do desaparecimento do menino – chegou a ser preso em março do ano passado, mas foi liberado um mês depois. Na época do sumiço, computadores e celulares foram recolhidos para perícia, mas segundo o advogado da família, Frederico Goedert Gebauer, o trabalho não teria sido concluído.

– A família ainda está aguardando o resultado de algumas diligências. Em tese, a defesa do Alois, que deveria querer o caso arquivado, é a única que quer que ele continue. Enquanto não souberem o que aconteceu com o Ícaro, para a opinião pública – até porque a polícia metralhou ele durante a investigações, ele é o único suspeito e qualquer coisa que ele fale as pessoas vão achar que é mentira, ressalta o advogado ao informar que o cliente não se manifesta mais sobre o caso.

O rosto do menino está na lista oficial de desaparecidos no Estado, mas há seis meses não se tem novidades sobre o caso.

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Família mudou de endereço

A família ainda alimenta esperanças de encontrá-lo com vida, mesmo que aos poucos “eles tenham se acostumado com a ideia de não ter mais o Ícaro em casa”, segundo Gebauer. Mãe e padrasto acreditam que houve um rapto ou sequestro:

– Se tivesse um crime de homicídio a polícia teria encontrado algo durante as investigações e nas perícias que foram feitas na casa, nos carros e nas roupas – salienta, ao confirmar que a família não mora mais na casa onde ele foi visto pela última vez.

O delegado acredita que a chance de Ícaro estar vivo é mínima. Pela experiência dele, a exemplo dos outros dois casos registrados no Estado desde setembro de 2013, quando a Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas em SC foi criada, o envolvimento de familiares dificulta as investigações:

– O que era necessário nós fizemos. Duas agentes foram designadas para acompanhar o caso. Posteriormente recebemos informação de que a criança poderia ter sido jogada em Camboriú, fizemos buscas, mas não tivemos êxito. É um caso aberto, como temos alguns de 20 anos. Estamos sempre em busca de informações mesmo que só tenha 1% de chance de encontrar ele com vida – conclui.

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Relembre o caso

Fevereiro

Dia 9 – Menino desaparece em Balneário Camboriú

Ícaro Alexandre Pereira, sete anos, desapareceu no início da tarde em Balneário Camboriú. O menino ficou sozinho por volta das 15h e quando a família retornou, por volta das 18h, não localizou mais a criança na casa da Rua 3.450.

Março

Dia 1º – Suspeito do sumiço de Ícaro é preso

Falta de coerência e o comportamento do padrasto de Ícaro, Alois Gebauer, foram os motivos alegados pela Divisão de Investigações Criminais (DIC) de Balneário Camboriú para pedir a prisão temporária dele por até 30 dias. O mandado foi cumprido na casa da família, 20 dias após o desaparecimento de Ícaro.

Abril

Dia 1º – Conselheiros vestem camisetas com foto de Ícaro

Os conselheiros tutelares de Balneário Camboriú e Camboriú, além dos integrantes do Núcleo de Pessoas Desaparecidas da região, começam a usar camiseta com o rosto do menino, na tentativa de conseguir novas informações sobre o caso.

Dia 7 – Ação em campo

Uma operação conjunta entre a Polícia Militar e os Bombeiros rastreou a mata no bairro da Barra, em Balneário Camboriú, e do Barranco, em Camboriú, em busca de vestígios de Ícaro, mas sem sucesso.

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Maio

Dia 9 – Polícia conclui inquérito sem pistas

O desaparecimento de Ícaro completa 90 dias. Sem provas que apontem um responsável pelo paradeiro da criança, a Polícia Civil encerra o inquérito como inconclusivo. O relatório foi entregue ao Judiciário.

Dia 10 – Pai faz apelo ao MP e à polícia

Em busca de respostas sobre o desaparecimento de Ícaro, o pai dele, Jonathas de Lima Rocha, e os avós paternos do garoto vieram a Balneário Camboriú para conversar com as autoridades que investigaram o caso. A intenção era pedir que as apurações continuassem.