Dois anos e meio se passaram desde que Gabriel e Mônica Carrara foram chamados para buscar a filha em um centro de educação infantil da zona Norte de Joinville, com um aviso de que a menina de 18 meses havia caído de um escorregador, mas passava bem.
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O quadro não era o que eles encontraram ao chegar à escola: o bebê tinha manchas e arranhões por todo o corpo, em machucados incompatíveis com um tombo. No entanto, a negligência da instituição – que demorou a assumir o que realmente havia acontecido – nunca foi punida em um processo de ação cível que ainda aguarda julgamento no Fórum de Joinville e pode não chegar aos responsáveis na época.
Os pais ainda recordam daquela noite com aflição. Diante do pedido do CEI, que a menina frequentava havia cerca de quatro meses em uma turma do berçário, Gabriel adiantou o horário para buscá-la, mas não pôde retirá-la na antessala onde os pais sempre esperavam as crianças.
– Ela estava isolada na sala de aula, só de fralda, com uma funcionária da limpeza tomando conta. Era como se estivesse escondida para que os outros pais não a vissem – conta Mônica.
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Nem a diretora, nem as professoras da escola apareceram para conversar com os pais ou dar explicações. O contato com a proprietária da escola foi feito apenas cinco dias depois, por telefone, quando ela insistiu na versão da queda para explicar as marcas. A criança já havia sido atendida no Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria e um laudo fora produzido comprovando que os ferimentos eram causados por mordidas – 21, pelo menos.
– Até o médico recomendou que fôssemos para a delegacia fazer boletim de ocorrência – lembra Gabriel, que também fez exame de corpo de delito, com o mesmo resultado.
Gabriel e Mônica entraram com pedido de processo penal, mas, como não era possível responsabilizar o autor dos ferimentos – outra criança do berçário -, o caso foi encerrado e um processo contra a instituição foi iniciado.
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A menina, que ainda aprendia a falar, chegou a dar o nome de um coleguinha com histórico de agressão como o responsável. Um pedido foi encaminhado ao Conselho Tutelar para que desse início a uma investigação.
– Uma criança morder a outra na escolinha é normal, acontece o tempo todo. Mas ficamos imaginando o que estava acontecendo com um bebê de um ano e meio para ele dar 21 mordidas em outra, sem parar – avalia Mônica.
“Não podemos esquecer este caso”
Uma professora que se desligou da escola após o episódio, em testemunho ao processo, informou que não havia nenhum profissional cuidando do berçário naquele momento e que, mais tarde, a diretora orientou a equipe para que não contasse aos pais o que havia acontecido.
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Gabriel e Mônica ainda se perguntam como ninguém ouviu a menina chorar e gritar. Nos meses que se seguiram, a mãe precisou deixar o trabalho para cuidar da filha em casa. Ao entrar em nova escola, a menina levou um ano para adaptar-se e voltar a confiar nos professores e nos colegas. Ela passou por acompanhamento psicológico, mas ainda apresenta problemas de insegurança.
– É um trauma do qual ela irá se recuperar, mas não podemos esquecer este caso. Ele precisa ser um exemplo para as outras escolas, de que elas precisam seguir as regras, porque não pode haver este tipo de negligência em lugar nenhum – afirma Gabriel.
O processo civil foi a juizado em 22 de setembro de 2014 e, em fevereiro de 2015, a escola apresentou contestação, recebendo a resposta em março do mesmo ano. Desde então, o processo não teve nenhuma movimentação, fazendo com que em março de 2016 a representante da família requeresse que fosse marcada audiência de conciliação. Mesmo assim, o processo não teve nenhuma movimentação desde 19 de março de 2015.
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Em 2016, o centro de educação infantil foi vendido e, com isso, a penalidade cairá sobre os novos proprietários, caso a sentença determine que a instituição é culpada. Procurada por “A Notícia”, a atual proprietária informou que aguarda a sentença para tomar as providências necessárias.