Por cerca de três horas, Leandro Boldrini falou no julgamento pela morte do filho Bernardo Uglione Boldrini em Três Passos, no Rio Grande do Sul. Dirigindo-se com frequência aos jurados, o médico não chorou nenhuma vez. Pediu para falar de frente para o conselho de sentença.

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Com microfone na mão, gesticulou e chegou a se levantar algumas vezes. Ele atribuiu a culpa pela morte do menino, assassinado aos 11 anos, em abril de 2014, a madrasta do menino Graciele Ugulini e Edelvânia Wirganovicz, também rés no processo. Para o Ministério Público (MP), ele é o mentor do crime.

— Não sou egoísta ao ponto de dizer, "pobre de mim, estou preso, minha vida acabou". Não senhor. O que fizeram com o Bernardo não tem explicação. A vida a gente reconstrói depois. Deixa eu ir lá ver onde está meu filho, abraçar minha filha, em Santo Augusto. O meu caminho vai ser trilhado de volta em Três Passos, podem escrever isso. Ao final desse processo vocês vão ver quem assassinou e planejou. E eu digo quem foi: foi a Graciele e a Edelvânia! Eu não mandei matar o meu filho — disse com olhos fixos nos jurados.

Foi assim, virado para o conselho de sentença, composto por cinco homens e duas mulheres, que ele falou a maior parte do tempo. Vestindo camiseta branca e jeans, roupa idêntica à da sessão anterior, reconheceu que foi um pai ausente e disse que teria atitudes diferentes, se tivesse outra chance. Ao fim da sessão, disse aos jurados que a primeira coisa que pretende fazer, caso seja absolvido, é ir ao cemitério visitar o túmulo do filho.

— Quando tirarem essas algemas de mim, senhores jurados, a primeira coisa que eu vou fazer é me ajoelhar e rezar pelo meu filho — disse.

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Aos advogados responsáveis por sua defesa, Boldrini reconheceu que a relação entre Bernardo e a madrasta, Graciele, era conturbada. Chegou a dizer que os dois "se odiavam". Ainda assim, alegou que não desconfiava que a mulher pudesse chegar ao ponto de matar o filho.

— Jamais pensei que ela fosse fazer um troço desses. (…) Essa dor eu vou carregar para o resto da minha vida — afirmou.

O médico também atribuiu a Graciele a decisão de gravar vídeos de Bernardo. Ele alegou, no entanto, que a intenção era mostrar os vídeos a um psiquiatra, para saber quais medidas adotar.

Para a Promotoria, as imagens são a prova de que o menino era torturado psicologicamente. Boldrini disse que o filho queria ser médico, assim como ele, porque sabia que ele salvava vidas. Também argumentou que sempre quis ser julgado em Três Passos porque acredita que sua inocência será reconhecida.

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— Jamais eu ia fazer uma monstruosidade dessas, que é tirar a vida do meu filho. Amo meu filho até hoje. Amava ele — disse.

Boldrini disse mais de uma vez durante a sessão que faria as coisas diferentes, caso tivesse outra chance. Ao fim, limitou-se a dizer:

— Espero Justiça, excelência.

Boldrini pediu permissão à Justiça para que pudesse abraçar os irmãos. O encontro aconteceu dentro do Fórum. A juíza Sucilene avisou os jurados, no final do dia, que nesta quinta-feira os trabalhos devem ultrapassar às 19h. A intenção é dar início aos debates entre Ministério Público (MP) e defesas, para garantir que o julgamento seja encerrado na sexta-feira.

Questionamentos do Ministério Público

Durante o segundo momento em que foi interrogado no julgamento em Três Passos, o médico Leandro Boldrini foi indagado pelo Ministério Público (MP). Além do pai, também são réus no processo a madrasta do menino, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz.

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Boldirini confirmou que usava o medicamento midazolam nos exames realizados em pacientes. Essa substância foi encontrada pela perícia no corpo de Bernardo. Edelvânia disse em confissão à polícia que o menino foi dopado com dois comprimidos desse remédio e depois teve aplicada injeção letal na veia.

A juíza questionou Boldrini sobre o controle da receita. Ele disse que os blocos ficavam no consultório, assim como o carimbo.

— A Graciele tinha acesso — afirmou.

Durante os questionamentos, Boldrini disse que não entendeu o motivo pelo qual foi preso. Ele relatou ainda que indagou Graciele se ela tinha matado o menino e ela confirmou o crime.

— Não perdi o controle porque houve uma gritaria de policiais e me levaram lá para baixo — disse.

A primeira pergunta do promotor Bruno Bonamente para o réu foi sobre o relacionamento dele com Graciele. Boldrini garantiu que tentou melhorar a relação do filho com a madrasta e que levou o menino a um psiquiatra. O promotor insistiu na pergunta.

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— Era uma relação de respeito e, assim, uma relação familiar, de amizade, de compreensão um com o outro, de confiança. Isso que tenho para lhe dizer — disse.

O promotor questionou de que forma Bernardo se encaixava nessa família, com a chegada da madrasta e o nascimento da outra filha.

— O Bernardo já definia o que ele queria fazer. Estava crescendo, estava com 11 anos. (Bernardo) não era um estorvo, senhores jurados — argumentou.

*Por Letícia Mendes