A Polícia Civil de Joinville terminou a investigação sobre o caso envolvendo a campanha virtual criada para custear o tratamento do menino Jonatas Henrique Openkoski, de dois anos. Em inquérito entregue ao Ministério Público na sexta-feira (27), a delegada Georgia Bastos indicia os pais da criança, Renato e Aline, pelos crimes de estelionato e apropriação indébita. No relatório, ela ainda sugere a prisão preventiva de Renato. O casal arrecadou R$ 4 milhões e é suspeito de desviar o dinheiro para obter vantagens.

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Em março, a polícia apreendeu, na residência do casal, um carro de R$ 140 mil, joias e acessórios de luxo, aparelhos de TV e vídeo game, uma luneta, brinquedos e uma carabina utilizada para tiro esportivo avaliada em R$ 4 mil. Também houve pagamentos de pacotes de TV a cabo e planos de academia com recursos que saíram da conta divulgada pela campanha por Jonatas. No inquérito, a delegada afirma que uma viagem feita para Fernando de Noronha em dezembro do ano passado também foi paga com recursos retirados da conta do menino.

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A delegada também cita como exemplo a compra de móveis e equipamentos para o quarto do menino, ainda em 2017, quando testemunhas afirmaram que o casal pedia dinheiro em mãos – e não doações via transferência bancária. Renato e Aline alegavam que a conta da campanha estava bloqueada, o que só ocorreu efetivamente em janeiro deste ano. Com isso, não é possível verificar a forma de utilização das doações.

Pelo artigo 89, previsto no Estatuto da Pessoa com Deficiência, a vítima citada pela Polícia Civil é o menino, já que o crime apontado é de “apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão, benefícios, remuneração ou qualquer outro rendimento de pessoa com deficiência”.

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No relatório final, a delegada sugere que seja feito um leilão destes itens para que o dinheiro seja revertido novamente para o tratamento da criança. O pedido de prisão preventiva do pai também foi feito porque, para a Polícia Civil, Renato é o principal articulador das ações.

— Esta parece ser a única forma de pará-lo, porque ele continua usando vários artifícios para sensibilizar as pessoas e fazê-las continuar doando. No caso da mãe, como o bem-estar do menino é prioridade e entendemos que ela cuida bem do filho, pedi uma medida cautelar para proibir seu contato com os seguidores. Se o pedido de prisão não for aceito, essa é a sugestão para o pai também — afirma a delegada.

A Polícia Civil pede também o indiciamento por falso testemunho do médico Danny Cesar, que é amigo da família e havia afirmado em depoimento que presenteou o casal com R$ 10 mil, supostamente usados para pagar a viagem a Fernando de Noronha. O médico também aparecia em uma planilha de prestação de contas enviada ao judiciário pela família, com uma remuneração de R$ 5 mil por mês pelo trabalho como nutrólogo. À polícia, ele negou ter prestado este serviço.

Jonatas tem uma síndrome chamada de Atrofia Muscular Espinhal (AME) de tipo 1, a mais grave no quadro da doença. Em março de 2017, seus pais deram início a uma campanha com meta de R$ 3 milhões para custear um tratamento inovador que retardaria os efeitos da síndrome. O valor foi alcançado em dois meses.

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A reportagem do jornal A Notícia tentou contato com a advogada do casal, mas ela não retornou a ligação. O Ministério Público informou que o inquérito ainda não havia chegado à promotoria até o fim da tarde desta segunda-feira.