A casa no Bairro Progresso, em Ibirama, ocupada pelos Neves, é bem diferente daquela onde a família vivia há três anos. No pátio, ficam a moto de Allan e o carro do pai, Osni, estacionando na garagem. Dentro do imóvel, espalhadas pelas paredes, estão as fotos de Emanuelle, de seis anos, a filha caçula. Apesar de mobiliada, a moradia apresenta um vazio. Falta uma pessoa, que não participou da mudança da antiga casa de dois andares na SC-421, no Bairro Ponto Chique. Foi lá que a filha do meio, Aline Ribeiro das Neves, 11, foi morta com uma bala perdida disparada por um policial federal em 8 de fevereiro de 2009.
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_ Hoje ela teria 15 anos. Ficamos pensando em como ela estaria, no cabelo, no jeito. Como será que ela seria?_ questiona-se a mãe Maria Eliane Ribeiro das Neves, 40.
Além da saudade pela ausência de Aline, a família encara a agonia causada pela Justiça, que mesmo depois de três anos do crime ainda não lhe deu uma resposta satisfatória. Com o computador no colo, diariamente Maria acessa o site do Tribunal de Justiça em busca de informações do processo que apura as responsabilidades pela morte da garota, e imagina o momento em que os suspeitos serão julgados:
– Complicado vai ser ficar cara a cara e enfrentar a pessoa que matou a minha filha.
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Apesar da mudança de endereço, Osni ainda trabalha no local onde Aline foi morta.
Todos os dias, quando chega à autoescola, no primeiro pavimento da construção onde morava, parece ver a filha descendo as escadas ao encontro dele, como ela costumava fazer. Sensações semelhantes se repetem diariamente na vida da família Neves. No começo do ano, quando Emanuelle foi conhecer a nova escola, a emoção tomou conta da mãe:
– Era o mesmo local onde a Aline estudava. A professora dela veio conversar comigo.
Até mesmo Manu, como Maria chama a filha mais nova, que tinha três anos na época do crime, sente os impactos da perda da irmã. Durante um passeio da escola, no ano passado, Manu correu para o colo da professora ao ver um policial na rua. Depois, perguntou à professora:
_ Você sabia que um policial matou minha irmã?
Apesar de ter procurado o Ministério Público no fim do ano passado e não ter recebido retorno do promotor responsável sobre o caso, Maria acredita que os responsáveis pela morte da Aline serão condenados. Promotora da 2ª Promotoria do Fórum de Ibirama, Chimelly Louise Marcon garante que receberá segunda-feira o processo criminal que investiga o caso. Segundo ela, depois de analisar os fatos e se não houver necessidade de novas apurações, serão feitas as alegações finais, prazo para que defesa e acusação entreguem documentos reunidos durante o processo para que o juiz defina se haverá júri popular para julgar os réus.
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– A família pode ter certeza de que estamos nos empenhando para agilizar o processo – afirma a promotora, que chegou à comarca há dois meses.
Todas 24 as testemunhas, inclusive as de outras cidades, arroladas ao processo já foram ouvidas. Provas também foram reunidas.