Não há nada mais bacana do que sair à noite, principalmente quando se é jovem. Dançar nas pistas, encontrar amigos, beber e ver a banda predileta. Há quem transforme essa vida de badalações em profissão, e dados mostram que o entretenimento é uma das atividades que mais cresce no mundo.
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No entretenimento, há duas dimensões que devem ser analisadas: a questão econômica e a filosófica. A primeira está intimamente ligada ao negócio e deve ser encarada como entretenimento especializado, a segunda dimensão é a simbólica, o prazer, o gosto e a distração pessoal.
Durante quase 20 anos, fui produtora musical e acompanhei artistas por muitas casas de shows pelo Rio Grande do Sul, pelo Brasil e pela Europa. Mas, afinal, como são estes espaços noturnos e casa de shows espalhados pelo Brasil?
Sem dúvida, 90% destes lugares requerem uma fiscalização séria e rigorosa. Apenas 10% cumprem com as normas estabelecidas de segurança. As pessoas gastam muito com lazer, buscam distração e conforto.
Nota-se que a grande maioria dos proprietários das casas noturnas está preocupada em vender cervejas e lotar suas casas, pois assim se ganha mais dinheiro, como dizia Cazuza. A decoração, a lotação e as cervejas estão sempre na linha de frente.
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O que encontramos também são camarins insalubres e palcos com problemas no tamanho e na energia. Em um show em Erechim, Carlos Gerbase, então vocalista dos Replicantes, levou um choque ao descer as escadas do palco.
Outro grave problema são os seguranças despreparados e muitas vezes violentos, portando armas como cassetete, prontos para uma briga. Em Caxias do Sul, fomos recebidos por seguranças armados e com cachorros pitbulls. Já as saídas de emergência se restringem à porta de entrada e há muita dificuldade de locomoção.
Constatei isso num espaço bem badalado por jovens de classe média alta em Porto Alegre, localizado na região central da cidade, no ano passado. Estive num show e na segunda música fui embora, era uma festa com bebida free. Estavam ali jovens de 18 a 25 anos. Se a casa comportava 400 pessoas havia pelo menos 100 pessoas a mais. A locomoção era impossível, e só há uma entrada e uma saída que se localizam próximas às escadas, as portas são estreitas e ineficientes para o fluxo de pessoas. O caos estava instalado. A expressão sold out estava fora do dicionário.
É preciso urgentemente maior fiscalização e consciência dos proprietários, pois se faz necessário qualificar os espaços de diversão, com seguranças bem treinados e os acessos de entrada e saída quantificados. É importante ter um plano de contingência para assim estar preparado para situações de riscos.
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O que aconteceu em Santa Maria é a crônica de uma morte anunciada. Várias vidas foram perdidas por irresponsabilidades. As tragédias são feitas por sucessões de erros e por ignorar os princípios básicos de segurança quando se trabalha com o público.
A tragédia
O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.
Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.
A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.
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Veja onde aconteceu

A boate
Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes – além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.
Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio
A festa
Chamada de “Agromerados”, a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas “Gurizadas Fandangueira”, “Pimenta e seus Comparsas”, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.
