Se Papai Noel tivesse uma filial blumenauense da sua famosa fábrica, ele com certeza trabalharia nesta aqui. Em meio a muitos metros de tecidos, piscas-piscas, peças feitas artesanalmente em madeira, presépios, cabideiros, estrelas, perucas, chapéus e centenas de adereços, o Velhinho ouviria apenas o som da máquina de costura trabalhando freneticamente – e do rádio ligado tocando o sucesso sertanejo do momento. À vontade, perceberia que ali, naquele antigo casarão ao lado do Museu de Hábitos e Costumes, em pleno Centro Histórico da cidade, produzem-se sonhos e os cerca de 600 trajes usados nos desfiles do Magia de Natal.

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É uma tarde chuvosa de fim de outubro e na casa que faz as vezes de galpão, Naiá de Oliveira, Maria Geci e Atamir Góes se dividem em diferentes afazeres. Uma costura as fantasias para os grupos, a segunda é mestre em bordar os cordões de pisca-pisca nas roupas e Atamir, o artesão que cria delicadas peças em madeira – ou qualquer outro material disponível. Por meio dessas seis mãos nascem fantasias de fadas, anjos, cupcakes e tantos outros personagens que emocionam e inspiram o público que vai à Rua Alberto Stein compartilhar esse clima de encantamento e espera pela data que marca o nascimento de Jesus.

Casados, Maria e Atamir são funcionários da Associação Blumenauense de Turismo, Eventos e Cultura (Ablutec) e trabalham o ano todo em função do Magia de Natal. Depois que a festa termina, eles limpam, registram e organizam tudo o que foi usado. Analisam o que pode ser reaproveitado para o ano seguinte – e quase tudo é -, lavam à mão a maioria das roupas e acessórios. Enquanto cumprem o expediente, driblam o tempo e vivem em permanente clima de Natal.

– Eu adoro isso aqui. É como se fosse a nossa casa – conta Maria.

Mais tímido, Atamir fala pouco, mas não disfarça o orgulho das peças que vai inventando para acompanhar as roupas. Esse ano, por exemplo, sua obra preferida é um machado esculpido em madeira para o grupo dos lenhadores, uma das novas alas do desfile. Para ele, o importante é ter mil ideias na cabeça e um torno na mão.

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Temporários e apaixonados

Há cerca de três meses, Naiá se juntou à dupla. Falante e esbanjando uma empolgação de criança, ela conta que trabalha na montagem dos carros há 17 anos, ou melhor, natais. Pela primeira vez, o contrato temporário veio com a missão de costurar as fantasias, que são desenhadas pela artista Marion Bubeck.

– Ela manda os desenhos pelo WhatsApp e eu crio a partir dali. A gente fica horas mandando fotos, discutindo ideias. Eu amo essa época, por mim poderia ter Natal três, quatro vezes por ano – explica.

Na correria para cumprir os prazos – depois de finalizadas as fantasias, Naiá ainda vai trabalhar na decoração dos carros – ela requisita a ajuda das filhas para a algumas funções. Letícia, que acompanhava a mãe no dia em que a reportagem foi ao casarão, fala com prazer desse momento.

– Eu tinha uns 12 anos quando comecei a ajudar minha mãe. A gente acaba se envolvendo junto com ela e vivemos o Natal de um jeito diferente.

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Faltando menos de 10 dias para o desfile de estreia, o maior desafio agora é concluir os acabamentos – e lidar com a ansiedade de ver os grupos do Pró-Família entrando na rua.

– Os desfiles são uma loucura e uma emoção. Não tem nada melhor do que ver todo mundo feliz admirando uma coisa que você criou – reflete Maria, antes de pegar mais uma caixinha de pisca-pisca para costurar em um vestido.