Um dos principais desafios da família contemporânea é retomar seu papel frente às demandas da atualidade. Essa retomada implica a definição clara das hierarquias entre os diferentes membros da família – isto é, quem manda e quem obedece, quem cuida e quem é cuidado – e também das fronteiras nítidas, ou seja, aquilo que se pode e o que não se pode fazer. Esses aspectos foram se perdendo nas últimas décadas, afirma a psicóloga Adriana Wagner, do Núcleo de Pesquisa Dinâmica das Relações Familiares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e autora do livro recém-lançado Desafios Psicossociais da Família Contemporânea – Pesquisas e Reflexões (Editora Artmed).

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– A família ficou mais complexa, aumentou o número de demandas. Mas, independentemente da sua configuração, é fundamental que não se percam as suas funções e tarefas essenciais, como cuidar e proteger os filhos, uma necessidade vital para o desenvolvimento saudável das crianças – assinala.

Em entrevista ao caderno Meu Filho ZH, a autora dá um panorama geral sobre a necessidade de se repensar o núcleo familiar. Confira trechos:

Quais são os principais conflitos conjugais da atualidade?

Adriana Wagner – As temáticas que envolvem a sexualidade do casal, o dinheiro e a criação dos filhos ainda são as mais recorrentes na expressão dos conflitos, os quais aparecem sob forma de infidelidades, dificuldades no gerenciamento da economia familiar/individual e incongruências na educação da prole.

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Quais são os principais desafios da família contemporânea?

Adriana – A manutenção das hierarquias claras entre os membros da família, a definição de fronteiras nítidas nos diferentes papéis que cada um dos seus membros exerce em distintos momentos e a possibilidade de flexibilizar as regras frente às demandas atuais são alguns dos desafios mais importantes da família contemporânea.

Há distinção de classe social na questão da violência conjugal? De que maneira essa violência ocorre?

Adriana – A diferença mais evidente entre as distintas classes sociais é que nos níveis socioeconômicos mais elevados esse é um fato que não vira estatística, pois, normalmente, não há denúncia. Pode-se dizer que a violência familiar nesse âmbito social ocorre também, mas de maneira oculta.

Filhos de pais separados sofrem mais? Ou isso já está superado?

Adriana – Sem minimizar o sofrimento que causa qualquer ruptura, o que temos comprovado em nossas pesquisas, tanto com casais quanto com filhos de pais separados, é que um casamento com altos índices de insatisfação conjugal repercute de forma muito negativa nos filhos. Sendo assim, a separação conjugal tem sido relatada por muitos sujeitos envolvidos no processo como a solução de um problema. Está comprovado que o tipo de relação que os cônjuges estabelecem entre si se assemelha com a maneira que eles se relacionam com seus filhos. Nesse caso, já é passado pensar que casais insatisfeitos devem manter o seu relacionamento pelo bem dos seus filhos.

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Livro

Desafios Psicossociais da Família Contemporânea – Pesquisas e Reflexões

Adriana Wagner

Editora Artmed

208 páginas, R$ 52