A catedral de Tubarão é mais que um templo religioso para a cidade. Depois da enchente de 1974, o local no Centro virou sinônimo de abrigo. Tanto que foi para lá que 600 pessoas, segundo o padre Eduardo Rocha, correram na madrugada de terça-feira (3). Muitos vieram de carona, outros nos próprios carros. Já Rosa Vieira da Silva, 75 anos, o marido e a nora, chegaram de ônibus.

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Resolveram deixar a casa depois que água ocupou quatro palmos e andar ali se tornou perigo para o casal que já passou das sete décadas de vida. Enquanto tentavam colocar em uma mochila alguns pertences conquistados, relembravam com angústia do passado e da morte da filha pequena quase 50 anos atrás.

Os dois viviam em Tubarão quando a água do rio invadiu as ruas quase 50 anos atrás. Moravam na casa em que resolveram iniciar a vida como casal e, por lá, tinham galinhas e um punhado de cacarecos, conta Rosa. Foi nesse lugar, o lar do casal, que eles tiveram a filha Angela.

A água da enchente invadiu a casa em questão de minutos. Rosa conseguiu pegar a filha e tentou buscar ajuda, mas se viu no meio de uma imensidão de rio. Ela nadou por minutos até encontrar um muro de arame que impedia o acesso ao outro lado da via. 

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Na subida, a força da água levou a bebê de sete meses.

Angela foi uma das quase 200 vítimas daquele horror de 1974 vivido em Tubarão.

Deitada em colchão nos fundos da catedral, Rosa diz que a madrugada de terça trouxe as memórias daquele dia de volta. Ela segurava firmemente as mãos do marido Antônio. Os dois não se desgrudavam nem na hora em que o almoço foi servido. O grude, explicou Rosa, era por gratidão.

Os dois, que tanto perderam com as chuvas, não suportariam perder um ao outro.

> Com trauma da enchente de 1974, moradores de Tubarão vivem tensão com a chuva

Abrigo na Catedral Diocesana, em Tubarão.
Abrigo na Catedral Diocesana, em Tubarão. (Foto: Tiago Ghizoni, Diário Catarinense)

Enchente em Tubarão

Tubarão passou a enfrentar uma enchente na noite desta quarta-feira (4) depois que o nível do rio que leva o nome da cidade transbordou. Ao todo, 723 moradores da cidade foram acolhidos em abrigos abertos pela prefeitura — entre eles Rosa e Antônio.

O nível das águas chegou a 7 metros às 4h da madrugada, se estabilizando e começando a baixar a partir da madrugada.

Ao todo, oito locais seguros foram colocados à disposição das comunidades na Vila Moema, Morrotes, Centro, Fabio Silva, Recife, Passagem, Centro e Cetuba.

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O que aconteceu em 1974?

A grande enchente de 1974 em Tubarão é considerada a maior tragédia climática de Santa Catarina. 

Ao todo, ao menos 199 pessoas morreram entre 24 e 27 de março daquele ano. Pancadas de chuva na madrugada surpreenderam os moradores, que acordaram com a água barrento invadindo as casas. 

O desespero tomou conta e a população saqueou mercados por falta de alimento. Até hoje a enchente é trauma no município.