Liomar Goncalves, 59 anos, reúne poucos objetos – essenciais para viver o dia a dia – em uma barraca. A morada instalada em baixo de um ponto de ônibus, na avenida Santos Dumont, na zona Leste de Joinville, é tudo o que restou para a senhora depois que precisou deixar seu verdadeiro lar, em Guaratuba, às pressas.
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Uma das filhas de Lia – como é chamada pelos amigos – se envolveu com as drogas e, há alguns meses, a rotina da família começou a desabar. A casa no Litoral Paranaese foi tomada pelos traficantes, que bateram à porta da senhora cobrando uma dívida adquirida pela filha.
— Daí eles falaram assim: a Ariana está devendo para nós R$ 250 e eu disse, mas não tenho essa quantia, não tenho nem dez reais. Eles disseram: não me interessa. A senhora vai ter que sair, mas como vocês vão me pegar uma coisa que prefeitura me deu? Não adiantou, eles invadiram e eu tive que sair — conta Liomar, entre lágrimas, ao relembrar da história.
No dia em que os traficantes chegaram, ela não teve tempo de pegar nada que havia dentro da residência. Saiu somente com a roupa do corpo e uma sacola plástica com documentos. Depois de perder a casa, Lia conta que ficou sem rumo e tudo o que queria era um recomeço.
72 quilômetro a pé
Ela percorreu uma distância de aproximadamente 72 quilômetros a pé, de Guaratuba a Joinville, a procura de um novo lar. Após se instalar em Joinville, há cerca de um ano, Lia encontrou um companheiro. A nova chance – ainda que longe do ideal – proporcionou pelo menos um parceiro para dividir o caminho e diminuir a solidão.
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Enquanto o marido trabalha recolhendo materiais recicláveis, para receber de R$ 20 a R$ 30 por dia, a senhora permanece na barraca durante o dia para cuidar dos poucos objetos que o casal possui. Os dois contam com a solidariedade de vizinhos e pessoas que passam pela avenida Santos Dumont para conseguir sobreviver. Praticamente tudo o que eles têm hoje são frutos de doações.
— A comunidade aqui faz tudo por nós. A barraca eu ganhei, o colchão também. Ganhamos marmita, pão e café. Nesses dias de frio, eu ganhei até cobertor.
O aposentado Sebastião Reis é uma das pessoas que mora nas redondezas da barraca de Lia. Ele passa diariamente pelo local e se diz inconformado com a situação do casal.
— As primeiras passadas que eu fiz por aqui, eu observa que ela estava bem decaída, não tinha nada. Ultimamente ela tá bem acomodada, mas não é o ideal. O ideal é ter um abrigo… Ela precisa ter dignidade — desabafa Sebastião.
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À espera de um lar
A senhora também diz que já entrou em contato com a Secretaria de Assistência Social do município. O órgão informou para ela que seria disponibilizado um lugar para o casal ficar. Entretanto, o local para moradia ainda não foi cedido. Ainda assim, depois de tantas dificuldades e de ter pedido tudo, Lia não perde a esperança. Ela ainda sonha com um lar onde possa se reunir novamente com a família e, principalmente, com os cinco netos.
— Eu gostaria uma “meia aguinha” para poder trabalhar. Eu tendo uma casa, eu fecho ela e saio para catar recicláveis com meu marido, entende? — diz.