Os últimos dias do ano de Edson Eduardo Leite, de 50 anos, estavam sendo como ele gostava: em meio à natureza. Nino, como era conhecido por amigos, aproveitou a sexta-feira, dia 30 de dezembro, ao lado da esposa Maria Aparecida Leite, a Cida, 52. Visitaram conhecidos em sítios e retornavam para a casa de um amigo em que passariam os dias de fim de ano, próximo às águas calmas do ribeirão Encano. O curso d?água é um conhecido reduto de lazer em Indaial, mas também refresca banhistas no trecho da Rua Belmiro Colzani, no bairro Progresso – via que liga a localidades menos desbravadas como Faxinal do Bepe.
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Foi neste trecho do ribeirão que os corpos de Edson e Maria Aparecida foram encontrados no início da tarde do dia seguinte, dentro de um automóvel Saveiro. Na noite de sexta-feira o casal passou por um pesque-pague – a cerca de oito quilômetros da Rua Bruno Schreiber – de propriedade de Willybert Wilbert, 61 anos, o Willy. Ele conta que por volta das 22h30min Edson e Maria Aparecida se despediram para retornar à casa em que estavam, a cerca de dois quilômetros dali. A noite havia sido de chuvas fortes na região e o nível do ribeirão havia subido rapidamente.
Na tarde do dia seguinte um vizinho de Willy limpava um bueiro da rua quando viu o automóvel preso no barranco do ribeirão, com os corpos do casal dentro. A suspeita dos vizinhos é de que eles teriam tentado atravessar um trecho mais baixo da Rua Belmiro Colzani, a 400 metros do local em que foram encontrados, mas teriam sido surpreendidos pelo nível elevado do ribeirão, que invadiu a estrada e teria levado o carro.
– Quando chove na nascente o nível do ribeirão sobe muito rápido. Acredito que houvesse até um metro e meio de água na parte mais baixa da estrada – lamenta Willy, que mora na região há 27 anos e não se lembra de outro caso semelhante no local.
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Willy mostra o local em que corpos foram encontrados por morador local no dia 31
No Instituto Médico Legal (IML), a causa das mortes foi apontada como afogamento e não havia marcas de violência nos corpos. A Polícia Civil confirma que em princípio não há indícios de morte violenta. A principal hipótese é a de que os dois morreram ao tentar passar pelo trecho tomado por água.
O proprietário de um mercado no bairro Progresso, Nelson Sborch, 64 anos, acompanhou a retirada dos corpos na tarde do sábado, último dia do ano, e conta que era amigo de Nino.
– Ele estava sempre aqui pela região – afirma.
Impasse sobre envio de guincho e lembranças da família
Após os corpos serem avistados pelo morador, no local em que a esposa de Willy mais tarde fixou flores em memória das vítimas, foram acionados o Corpo de Bombeiros, a Polícia Civil e o IML. Segundo o comerciante Nelson Sborch, os moradores esperaram das 15h até as 17h30min de sábado pela chegada de um guincho, que não teria sido encaminhado pelo Seterb. O carro só foi retirado com o auxílio de um jipe.
O chefe da guarda de trânsito, Jailson Rogério Cândido, alega que como o caso não se trata a princípio de um acidente de trânsito, a responsabilidade de retirada do veículo não seria da autarquia, mas sim da equipe de investigação. O delegado Bruno Effori, da Polícia Civil, contesta e afirma que a Polícia Civil não possui convênio com guinchos. Ele alega que todas as circunstâncias indicam que Edson estava dirigindo.
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Edson era torneiro e Maria Aparecida era aposentada, mas ainda trabalhava como costureira. Eles moravam no bairro da Glória, eram casados há mais de 30 anos e tinham dois filhos, uma mulher de 26 anos e um homem de 23, Edson Eduardo Leite Júnior. Ele lembra que almoçou com os pais no dia do acidente e que gostavam de se reunir com amigos em pesque-pagues.
– Minha mãe era maratonista, gostava bastante de correr e nesse período de férias eles saíam de manhã cedo, ela correndo e ele de bicicleta – recorda o filho, que ontem de manhã, ainda consternado, foi ao local do acidente.