Comprar uma Kombi, largar o trabalho e pegar a estrada em boa companhia sem data para voltar: essa foi a decisão do casal de advogados Ana Lara Tondo, 29 anos, e Anderson Morais, 30, que sonham em ter o mundo como casa. Atualmente no Equador, os viajantes, que moravam em Florianópolis, estiveram em seis países nos últimos dois anos e pretendem chegar ao Alasca, nos Estados Unidos, ainda sem data definida.
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Em setembro de 2021, insatisfeitos com o mundo corporativo, os dois embarcaram na Kombi — apelidada de Kombi Manezinha — com destino a Ushuaia, no extremo sul da Argentina, sem dinheiro no bolso. Todo o recurso havia sido gasto durante o ano com a reforma do veículo, e o momento foi primordial para a tomada de decisão.
Em setembro daquele ano, saíram dos seus empregados e finalizaram a reforma da Kombi, quando enxergaram apenas uma única opção: seguir o sonho. Então embarcaram para a aventura junto com a cachorra de estimação, Fiona.
Para sustentar a viagem, a dupla, que já tinha um canal do YouTube, se dedica às redes sociais durante a aventura. Na época, eles somavam cerca de 50 mil seguidores na internet. Anteriormente a isso, a ideia de ir ao Alasca, no extremo norte das Américas, ainda não era o objetivo, mas se tornou o rumo principal quando os dois chegaram no último ponto do sul do continente, a Ruta J — última via terrestre do continente.
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— A gente saiu, se olhou e pensou: “E agora?”. Saímos sabendo que íamos até o Ushuaia, mas sem experiência nenhuma, e até lá tínhamos vários dias para viver, então foi um sentimento misto de liberdade e medo, porque íamos dormir no próprio carro a partir daí — conta Anderson.
— Os primeiros dias foram difíceis no sentido de mudança de chave, porque não estávamos mais fazendo uma viagem com data marcada, mas morando na estrada. Fazendo a viagem sem pressa, mas ao mesmo tempo com muitas coisas para pensar como energia, banho, comida e tudo isso juntando a vivência, o novo trabalho e o deslocamento — complementa Ana.

A primeira parada da viagem saindo de Florianópolis foi a 55 quilômetros da Capital, na Guarda do Embaú. Lá, o casal dormiu em frente à praia por dias e tomou o primeiro banho na “casa nova”. A água vinda do próprio veículo em um chuveiro colocado dentro da Kombi foi quem forneceu a primeira lavagem — situação que, hoje, faz parte da rotina dos dois. Depois da primeira pausa, o casal seguiu em direção as serras de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul para então chegar no Uruguai, onde conheceriam pela primeira vez outro país.
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— Foi muito engraçado porque não temos chuveiro fechado na Kombi e, no litoral, tomamos banho na rua mesmo, pegamos um balde e nos molhamos. Lembro que morremos de vergonha, mas agora já nos acostumamos. Aí chegamos no Uruguai e posteriormente na Argentina, onde passamos muito frio porque acabamos pegando o inverno — contam.
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Na chegada do primeiro destino da Kombi Manezinha, o veículo apresentou o problema principiante. Abaixo de neve e chuva congelada, sem peças ou mecânicos que entendessem do carro, Anderson precisou aprender como consertar o motor e resolver os problemas que teriam com o carro no decorrer da viagem. Foi quando tiveram que lidar também com os contratempos do frio, não sentido anteriormente no Brasil.
Mesmo com a tensão que o frio e a neve trouxeram à viagem, as paisagens compensaram os momentos de perrengues, segundo eles. Para escapar de uma possível hipotermia, tiveram que adaptar as janelas da Kombi, as isolando com alumínio, além de realizar a compra de novos cobertores.
— Não tem como dizer que foi super confortável, foi muito frio, principalmente na hora de tomar banho. Mas assim, a gente dorme em um lugar em um dia, e no outro já conhecemos novas paisagens. É uma experiência única, apesar de tudo continuávamos andando devagar para aproveitar cada momento — conta Ana, que é gaúcha.
— Era um misto de ter que lidar com a situação e ao mesmo tempo aproveitar a paisagem incrível que estávamos tendo ali — diz Anderson, que é manezinho.
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“Nos apaixonamos pela estrada e por tudo o que ela oferece”
Antes de embarcar na jornada, ainda em processo de decisão, Ana foi contra a compra da Kombi. Para ela, comprar um veículo antigo, de modelo 1986, para rodar o mundo parecia ser loucura do namorado, que conseguiu a convencer meses depois.

O veículo custou R$ 5,9 mil em Florianópolis — R$ 5 mil foi pago em dinheiro e o resto dividido em duas vezes no cartão, conforme relembram. Depois de reformada, o carro foi apelidado de Kombi Manezinha.
— Ela estava destruída quando pegamos, desde o motor, e não foi fácil reformá-la. Tivemos que fazer toda a casa dentro também, mas como queríamos viver de outra forma, em algo que nos fizessem bem e que fosse além da viagem, mas um autoconhecimento, fomos até o fim — relembram.
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Com a reforma, o canal do YouTube que antes era focado em mostrar as trilhas de Florianópolis se transformou em um diário de bordo para compartilhar a experiência escolhida, que, de acordo com eles, os leva para grandes choques culturais entre um país e outro.
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— Nos apaixonamos pela estrada e tudo o que ela nos oferece. Por exemplo, na Bolívia nos falaram que era muito perigoso ir, que teríamos que tomar muito cuidado, e foi o lugar mais receptivo que estivemos, de uma solidariedade e um povo incrível — contam.
Maior perrengue
Entre os maiores perrengues, com exceção do frio que a Argentina trouxe para a família no início da viagem, está a viagem ao Peru durante as manifestações que atingiam o país em dezembro de 2022, quando o presidente tentou dar um golpe de Estado — situação que não se consolidou.
Ana e Anderson passaram o Natal no país peruano junto com a família, que foi de avião até o local. Mas para chegarem até lá, tiveram que desviar diversas manifestações na estrada, o que os causou grande tensão no decorrer da viagem.
— Fomos conversando, entendendo. Eles estavam lá protestando por algo que fazia sentido para eles, então fomos devagarinho, descobrindo novos caminhos. Agora que chegamos no Equador, estamos mais aliviados — explicam.
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No dia a dia, os problemas básicos fazem parte da nova rotina do casal. A energia elétrica chega a partir de painéis solares, a água precisa ser reposta eventualmente e o banho, quando frio, acontece em pousadas, academias ou lugares fechados.
— É uma transformação de vida, e todo dia é uma aventura diferente com pessoas diferentes. Então a gente precisa enfrentar nossos próprios medos todos os dias. Vivemos 100% do YouTube hoje, o que é muito legal, porque vai além da viagem, lemos muito que somos inspiração, agora então a viagem não é só nossa, mas de todo mundo que nos acompanha — diz Anderson.
E depois do Alasca?
A experiência que os dois procuram durante a jornada vai além de conhecer lugares turísticos das cidades, mas viver dentro da cultura e entender a vivência de cada povo e cultura. Por isso, eles não têm pressa de chegar ao Alasca. O casal possui um cronograma de rota, mas decide a quantidade de dias e o que visitar depois de chegar nos locais.
A decisão de ir ao Alasca, por exemplo, foi feita apenas em Ushuaia. De cidade em cidade, conhecendo milhares de pessoas e passando por diversos perrengues de estrada, a Kombi Manezinha deve chegar ao Norte da América em julho de 2024.
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Depois, ainda sem planejamento, a única certeza que Ana e Anderson têm é que essa é a vida que querem viver. A ideia não é voltar para o Brasil, mas começar uma nova viagem em outros continentes.
— O bichinho da estrada nos picou, agora não queremos mais parar — diz.
Antes de chegar ao Panamá, a caminho do Alasca, o casal terá ainda que enviar a Kombi por container e ir de barco para sair da Colômbia. Depois de já ter passado pela Argentina, Bolívia, Peru, Brasil, Equador e Uruguai, os próximos destinos incluem Colômbia, México, Estados Unidos e Canadá.
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