Um casal de mulheres foi agredido por um homem na tarde do último sábado (16), no Centro de Florianópolis. Segundo uma das vítimas, Sasha Côrtinaz, de 28 anos, as ameaças teriam começado em um ônibus de transporte coletivo por causa do volume de uma música e continuado em uma loja de conveniência, onde o homem teria batido no casal e na única pessoa que se colocou em defesa delas. Sasha e a namorada, Cami Del Poente, de 34 anos, tiveram cortes, hematomas e um dedo deslocado. O caso é investigado pela Polícia Civil.
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O casal e o homem estavam em um ônibus que ia da Lagoa da Conceição para o Terminal Integrado do Centro (Ticen). De acordo com Sasha, que é estudante de Letras, o suposto agressor, que teria cerca de 1,70 metro de altura e aproximadamente 40 anos, ouvia músicas em alto volume dentro do coletivo, que ainda estava estacionado no Terminal da Lagoa. Ela teria perguntando se ele continuaria escutando as músicas até o Centro. Nesse momento, o homem teria se revoltado e insultado Cami, namorada de Sasha.
Com a reação do homem, Sasha conta que ela e a namorada chamaram o segurança do terminal, que explicou ao passageiro que o som alto dentro do veículo é proibido por lei e pediu, então, que o volume fosse reduzido.
— Nesse momento aconteceu a primeira vez que ele humilhou a Cami, que foi quando ele falou pra ela, que ela tinha uma energia muito ruim e ele ia sair de perto. E ele se levantou e saiu andando para a frente do ônibus. E nesse momento todo o ônibus riu, ele ainda não tava cheio, tinham poucas pessoas, mas todas riram, foi bem humilhante — relata Sasha.
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Reportagem especial Vozes do Orgulho LGBTQIA+
O trajeto seguiu tranquilo até o Centro da Capital, quando na Avenida Mauro Ramos, o homem teria se levantado e começado a encarar e mandar beijos para a Cami, que respondeu com um gesto obsceno feito com as mãos.
— Aí ele começa a falar algumas coisas pra Cami, e solta que é pra ela aprender a ser mulher. “Tu vai aprender a ser mulher, virar gente”. Falou do cabelo dela, da roupa dela — lembra. — Nesse momento eu levantei e disse que homofobia era crime e que eu iria ligar para a polícia naquele momento, e peguei o celular.
Segundo a estudante, ele teria, então, se aproximado e começado empurrar e tentar dar chutes nelas, gritando uma série de ofensas para Cami. Sasha conta que ele teria repetido que ela não era mulher, que ela tinha que aprender a arrumar o cabelo. Ele teria falado que “era um manézinho da Barra”, se referindo a ser um nativo da Ilha, morador do bairro Barra da Lagoa.
Foi nesse momento, segundo Sasha, que o homem desceu do ônibus. Outro passageiro teria se indignado com as agressões e descido no mesmo ponto, seguindo o homem. Elas decidiram então ir atrás deles enquanto ligavam para a polícia.
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Eles teriam perseguido o suspeito por ruas do Centro, até perdê-lo de vista. O objetivo, de acordo com Sasha, seria saber onde o homem estava para que a polícia pudesse detê-lo.
Decidiram, então, descansar em uma loja de conveniência de um posto de gasolina no Centro. Nesse momento, Sasha reconheceu o suspeito, suado e com a camisa de time vestida do lado avesso, tentando sacar dinheiro em um caixa 24 horas. Quando o homem a percebeu no posto, ela teria gritado que iria chamar a polícia e correu para bloquear a porta da conveniência.
A vítima conta que ela, Cami e o passageiro do ônibus que as ajudava se colocaram entre o homem e a porta de saída para fora do posto, para evitar que ele fugisse. O suspeito teria, então, partido para cima de Cami. Os três brigaram para segurá-lo dentro do posto, e foi quando o casal de mulheres se feriu. Sasha teve cortes e quebrou um dos dedos das mãos. Cami teria sido jogada no chão e ficou com escoriações por todo o corpo.
Machucadas, as duas esperaram mais um tempo pela chegada da polícia e, depois, foram ao hospital.
De acordo com a Polícia Civil, um inquérito foi instaurado para apurar o caso. Segundo o delegado do caso, Luís Fuentes, o crime pode se enquadrar em LGBTfobia. O suspeito ainda não foi identificado.
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A reportagem entrou em contato com o posto de gasolina e com a empresa de transporte coletivo, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.
“Ninguém agiu, ninguém falou nada. A gente não teve amparo nenhum”
Sasha compartilhou o caso em uma publicação nas redes sociais e descreveu o sentimento após as agressões:
“A vontade é esquecer e fingir que nada aconteceu, mas não dá, aconteceu! Aconteceu e cada vez que precisamos levantar da cama, abrir uma garrafa d’água ou coisas simples de escrever, a dor nos lembra. As dores do corpo da Cami e os machucados em carne viva não a deixam esquecer. As dores do meu corpo, o dedo cortado e quebrado não me deixam esquecer”, relatou.
Em meio à descrição das violências que teriam ocorrido, ela lamentou a falta de amparo das testemunhas das agressões. Isso porque ela acreditava que, no meio de várias pessoas, o casal estaria mais protegido. De acordo com a estudante, exceto pelo passageiro do ônibus que as acompanhou desde o veículo até o hospital, ninguém as ajudou.
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— As pessoas LGBT estão acostumadas a sofrer violência diariamente. E de alguma forma bizarra, a gente se acostuma com isso — fala Sasha.
— Desde a primeira vez, que ele gritou pra Cami aprender a ser mulher até o momento que ele saiu correndo do ônibus, passou muito tempo, tempo suficiente paras pessoas fazerem qualquer coisa — lamenta.
A indiferença teria sido parecida no posto de gasolina, onde Sasha reclama de não ter ajuda das funcionárias dos posto para chamar a polícia.
— Ninguém agiu, ninguém falou nada. A gente não teve amparo nenhum — desabafa.
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