Era para ser só mais uma viagem entre as tantas que Antônio Raglio Neto e Sheila Queiroz dos Reus já fizeram pelo Brasil a bordo do seu caminhão. Em seis anos de profissão, era a primeira vez em Santa Catarina. Porém, o “passeio” dos paulistas teve que ser interropido: os dois foram internados por 10 dias em um hospital de Ponte Serrada, no Oeste catarinense, após serem diagnosticados com a Covid-19.
Continua depois da publicidade
> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp
Nos últimos meses, o casal de Américo de Campos, interior de São Paulo, construiu sua história na estrada, junto com o cachorro, Teo. Sheila conta que há três meses ela e o marido estavam “sem casa”. Antes de Santa Catarina, eles haviam percorrido cidades no Norte e Nordeste.
— Nós temos um caminhão e sempre faziamos a área do Pará e do Maranhão. Foi quando surgiu a oportunidade de vir para Concórdia. Como não conhecíamos nada e queriamos conhecer tudo, paramos aqui — revela Sheila.
Porém, no caminho, começaram os sintomas. Em um primeiro momento, Antônio acreditou que tinha contraído dengue, principalmente depois de ver uma picada de mosquito no corpo.
Continua depois da publicidade
Mas, com os dias, as dores pioraram até que, na terça-feira da semana passada (29), o casal passou a se sentir mal no meio da estrada, há cerca de 15 km de Irani, também no Oeste. A solução foi pedir ajuda a quem passava pelo local.
— Nós estávamos na beira da estrada, sem roupa de frio porque viemos do Norte, onde fazia calor. Foi quando eu desci do caminhão, parei os carros na rodovia e pedi por ajuda — relembra Sheila.
Um dos motoristas se comoveu com a situação e chamou a equipe do Corpo de Bombeiros, que levou o casal ao hospital, em Ponte Serrada, onde permaneceu até esta sexta-feira (9).
— No momento eu fiquei desesperada. Não tínhamos noção do acolhimento e que seria desse jeito — diz, às lágrimas.
Continua depois da publicidade
> Confira a evolução da Covid-19 em Santa Catarina
E o caminhão?
Devido ao resgate, o caminhão teve que ficar abandonado e começou a receber multas por estar em local proibido. Pessoas da comunidade ajudaram a recolher o veículo, além de fazer os reparos necessários para que o casal pudesse continuar a viagem após a alta hospitalar. Até o Teo foi acolhido por um pet shop de Ponte Serrada enquanto os donos focavam na recuperação.
Para o médico Plínio Oliveira Filho, que acompanhou o tratamento do casal, a situação foi um combustível para o trabalho diário.
— Foi um atendimento bem diferente dos demais, envolveu bastante a equipe. São pessoas de longe, com dificuldades, em um território totalmente diferente do deles. Eram super simpáticas e alegres, dispostas a melhorar, que torceram junto com a gente. Como médicos, somos instruídos a estar próximos mas manter uma distância, para que o emocional não comprometa o tratamento do paciente, mas foi bem difícil nesse caso. Tentamos fazer o máximo para ajudar e foi muito gratificante — diz.
O carinho pelo casal de paulistas foi tanto que os dois receberam uma salva de palmas da equipe ao deixar o hospital nesta sexta-feira.
Continua depois da publicidade
Agora, recuperada, a família se prepara para a viagem de volta a São Paulo, que deve ocorrer no fim de semana. Ao todo, serão três dias de viagem, já que eles terão que parar para descanso durante o trajeto. Mas, mesmo com todo o esforço, a vontade de ver a família é que os ajudará no caminho de volta.
— Quando minha mãe soube que estávamos aqui, ela queria mandar uma ambulância para nos buscar. Mas vimos que aqui era bom e falamos que ficaríamos até o final [do tratamento]. Não conhecia o atendimento do Sul, mas foi 100% — comemora Antônio.
Leia também:
Blumenau tem maior número de novos casos diários de Covid-19 desde março
Paciente de Joinville recebe alta após 9 meses internado com Covid; veja vídeo
Variante Delta: saiba a eficácia das vacinas Astrazeneca, Coronavac, Janssen e Pfizer