Foi um sim de olhos fechados com borboletas fazendo cócegas no estômago. O dia mais feliz da vida de Simone de Andrade Bernardo, 38 anos, foi quando Juarez Luiz Bernardo, 43 anos, disse sim. Da certeza nascida após uma noite sem dormir, Juarez e Simone decidiram ser pais. De filhos que a vida escolhesse dar ao casal. No dia do sim, há mais de três anos, Simone correu ao Fórum entregar a papelada declarando que juntos escolheram adotar uma criança.

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– Parecia que tínhamos acabado de ganhar um presente, mas que este presente ainda não tinha vindo – lembra Simone.

A primeira decisão ao entrar na fila para adoção da Comarca de Blumenau foi por uma criança de até dois anos. No grupo de apoio para quem escolhe adotar, perceberam que casais que decidiam receber crianças nessa idade demoravam anos para se transformar pais. Quando 2013 já ia quase pela metade resolveram ampliar as possibilidades. Mudaram. Juarez e Simone decidiram acolher uma criança de até cinco anos e que viesse com um irmão.

Às 16h20min de 4 de junho o telefone da loja onde trabalham tocou. A ligação vinha do poder judiciário do Oeste: um menino de cinco anos e uma menina de seis aguardavam uma família. Irmãos! De uma vez, em menos de 60 minutos, o casal precisava dizer se aceitava. De novo, Juarez e Simone disseram sim. Frio na barriga, ansiedade, amigos e família ligando para saber detalhes dos filhos a caminho, a noite mal dormida da espera por conhecer os rostos dos pequenos.

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No dia seguinte, a viagem de mais de quatro horas parecia não ter fim. Uma conversa com a juíza da comarca e o encontro. Lá estavam os pequeninos que mudariam a vida do casal por completo: Rayan, cinco anos, e a irmã, Rayane, de seis.

– Na hora que vi os dois senti uma dor muito forte no abdome. Não foi um parto, mas dizem que na emoção é como se fosse uma dor do parto – recorda Simone.

Ainda no Oeste, foram almoçar. Em torno da comida começaram a ser família. Depois de ultrapassar a burocracia do papel, os quatro seguiram para Blumenau. No caminho de volta, as primeiras conversas, risadas. Só que a chegada do amor faria uma viagem mais longa. Em três dias, Rayan e Rayane deixaram de lado o tratamento de tio e tia e passaram a chamar Juarez e Simone por pai e mãe. Mas levou tempo até que o encontrar de braços entre pais e filhos durante as brincadeiras fosse natural.

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Aos poucos, Rayan e Rayane entenderam que tinham para quem correr no meio da multidão: Juarez e Simone. A referência de carinho, de cuidado, de amor único no meio de qualquer mar de gente. Pronto. Três meses depois da viagem cheia de inseguranças rumo ao Vale do Itajaí os irmãos adotaram os novos pais. E as peças que pareciam diferentes montam juntas o mesmo quebra-cabeças.

– Quando me perguntam o que é preciso para adotar uma criança a resposta é uma só: amor incondicional. Porque nós estamos aqui, represando todo este amor. Eles nem sempre estão prontos para começar a receber. Então damos o amor sem esperar em troca. E o tempo vai tornar a relação natural até eles retribuírem em coisas pequenas, como eles virem pertinho da gente brincar ou dar um abraço – explica Juarez de forma que até faz amor parecer um quebra-cabeças simples.

Amor não nasce de repente. É sentimento que se constrói um pouco por dia. O de Juarez e Simone começou na adolescência, quando faziam o mesmo caminho da rua em que moravam para a escola. Depois de 19 anos do sim que disseram no altar, este amor se viu tamanho que alcançava mais gente. Chegou a Rayan e Rayane que moldaram um Natal diferente na vida dos pais.

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– Vai ser um Natal novo aqui: eles se encantaram com os pisca-piscas, com os enfeites e com o pinheiro que deixei eles montarem do jeito deles, sem corrigir. Já éramos felizes, agora, nossa felicidade está mais completa – conclui Simone.