Quando voltam para casa depois de um dia de trabalho, a pergunta “como foi seu dia?” é dispensável para esses casais. Normalmente, eles estão a par de tudo que acontece na vida profissional do companheiro e da companheira por fazerem parte da mesma equipe ou da mesma empresa. Mas como manter a harmonia quando estão lado a lado 24 horas por dia? De acordo com os casais entrevistados para essa reportagem da + Estilo, bastam amor e um pouco de jogo de cintura para driblar a convivência diária e ter maturidade para saber separar o relacionamento profissional do pessoal.
Continua depois da publicidade
Unidos pela mesma paixão
Ele é um pouco bagunceiro. Ela, organizada. Ele é sonhador. Ela, pé no chão. Ele é calmo. Ela, explosiva. As diferenças, desde o início, marcam o relacionamento de Thiago da Silva Araujo, 30 anos, e Ana Camila Ronchi, 28 anos. Mas o forte do amor deles é mesmo a união: quando falam de trabalho, sonhos e filosofias de vida, seus corações batem no mesmo compasso.
Os dois se formaram em design gráfico, mas em faculdades e anos diferentes. A paixão que os une, no entanto, é outra: a fotografia.
Continua depois da publicidade
Foi por causa de um registro de Thiago que se conheceram, em 2009. Por meio de uma amiga em comum, Ana viu a imagem e elogiou o trabalho do rapaz. A amiga bancou o cupido e comentou com o jovem sobre os elogios. Os dois se adicionaram nas redes sociais e, dois dias depois, encontraram-se e engataram um romance que não teve mais fim.
Após o primeiro encontro, passaram a se ver pelo menos uma vez por semana. Ana, que é natural de Guaramirim, estava trabalhando em Jaraguá do Sul, e Thiago vivia em São Chico, até que ele saiu da casa dos pais e se mudou para Joinville. Para ficarem mais próximos, ela começou a procurar emprego aqui também. Quando encontrou, resolveram morar juntos.
Em 2011, após a venda da agência de publicidade da qual Thiago era sócio, muitos contatos de amigos e conhecidos solicitaram que ele fotografasse seus casamentos. Durante a semana, cada um tinha seu emprego. Nos fins de semana, começaram a fotografar juntos.
Continua depois da publicidade
Por trabalharem em casa, a rotina dos dois é um pouco incomum. Atendem aos clientes em domicílio e fotografam ao ar livre, deslocando-se à área rural da cidade ou a praias da região. Mas a maior parte do tempo é gasta com edição de imagens em frente ao computador. Isso exige muita disciplina: não podem dormir até tarde ou ficar trabalhando longas horas, por exemplo.
– O maior desafio é dividir as personas, os “empresários” e o “casal”. Às vezes nos pegamos falando de trabalho em momentos de descanso ou o contrário, e isso atrapalha – diz Thiago.
Para garantir o equilíbrio da relação, eles aproveitam as folgas para passear, viajar ou mesmo ficar em casa curtindo os gatos de estimação e a companhia um do outro.
Continua depois da publicidade
– Como nós namoramos a distância por um tempo, ficar juntos o tempo todo é sensacional! Como positivo, posso dizer que passar tanto tempo junto nos deixa seguros, podemos discutir decisões, compartilhar ideias e nos ajudar em momentos de angústia. O lado negativo é que às vezes precisamos de alguns momentos de introspecção e nem sempre o cônjuge percebe essa necessidade – afirma ele. Ana complementa:
– Quando você encontra uma pessoa com quem gosta de estar e possuem afinidades, passar 24 horas juntos não se torna enjoativo. Mesmo depois de cinco anos, somos muito apaixonados, ainda temos mil planos juntos.

O amor mora na mesa ao lado
Um amor que nasceu na faculdade de publicidade e propaganda, passou pela vida matrimonial e chegou à agência de comunicação Exit, em Joinville: é assim a história de Fernanda Sponchiado, 29 anos, e Igor Tiago Soares, 30 anos (foto acima). Ainda alunos, fizeram uma oficina de cinema juntos em 2004, mas só foram oficialmente apresentados por amigos em comum três anos mais tarde.
Continua depois da publicidade
Fernanda vivia sozinha, e Igor, com o pai. As visitas ao apartamento dela ficaram naturalmente mais frequentes e logo os dois se viram praticamente morando juntos. Em 2009, com ajuda do pai dela, reformaram a casa da família de Igor e o casal foi morar lá.
Igor é arte-finalista e ilustrador na Exit. Sua história profissional na agência iniciou-se em 2004, bem antes da esposa. Ela chegou em 2011 e atua como diretora de arte e ilustradora. Pela experiência maior do marido, é a ele quem Fernanda recorre quando algo dá errado ou tem dúvidas. Todo o trabalho da jovem passa pelo marido.
– Quando vim trabalhar aqui, foi difícil aprender a separar as coisas. O Igor que eu conhecia não era o mesmo dentro da agência. Ele é muito engraçado e vive fazendo piadinhas, mas no trabalho tinha que se concentrar. Eu também precisava demonstrar minha identidade, até porque antes me conheciam como a mulher do Igor e não a Fernanda, diretora de arte. Mas com o tempo fomos aprendendo a conviver com essas diferenças de rotina e hoje é super de boa – revela Fernanda. Para Igor, a adaptação foi mais tranquila:
Continua depois da publicidade
– Apesar de que se eu virar a cabeça levemente para a esquerda verei a Fernanda, eu não tinha receio. Pois, como trabalhamos em áreas diferentes, o convívio não é tão intenso. Eu consigo separar facilmente a Fernanda do trabalho da Fernanda que é o meu amor.
Como não são o único casal da agência, os colegas estão mais do que familiarizados com a situação. As sócias da agência, inclusive, convivem diariamente com seus parceiros. Entre os prós de trabalhar juntos, o casal destaca a economia com transporte e a organização da rotina, além da proximidade, que para eles costuma funcionar como aliada.
– Na agência, ficamos mais distantes e nos tratamos com formalidade e amizade. Às vezes, a gente deixa escapar um “amor, vem aqui”, mas já percebemos na hora. Como estamos perto, rola sempre um bilhetinho, um chocolatinho, esses mimos que deixam a vida mais colorida – contam.
Continua depois da publicidade
– Quando discutimos por alguma besteira ou quando estamos chateados, fica complicado trabalhar juntos. Às vezes, você não quer ter contato com a pessoa por um tempo e isso acaba sendo engraçado. No começo, eu sentia um pouco de ciúme também, mas temos muito respeito um pelo outro e isso me deixa supertranquila. Para o Igor, acredito que é bem chato ter que ficar esperando eu me arrumar de manhã para trabalhar, afinal, pego carona com ele – diz Fernanda, aos risos.
Na agência ou em restaurantes nas proximidades, eles almoçam juntos diariamente. Assim, aproveitam para resolver pendências do cotidiano. Durante a noite, fazem atividades diferentes: Fernanda pratica pilates e desenha por boa parte do tempo; Igor joga futebol duas vezes por semana e anda de skate até três vezes. Nos fins de semana, aproveitam para visitar a família ou encontrar os amigos e tomar uma cervejinha. Apesar da rotina bastante próxima, eles garantem que não enjoam um do outro.

As vantagens de estar juntos
Dois mil e quatro foi o ano em que tudo começou. A Sul!Internet – empresa de Curitiba especializada em internet via rádio – abriu uma filial em Joinville e Sandra Beninca Nascimento, hoje com 36 anos, iniciou as atividades junto com a empresa em 1º de julho daquele ano. Formada em administração, ela ficou encarregada de encontrar alguém para preencher a vaga de telessuporte. Por intermédio de um primo, Ricardo Dayson Nascimento, atualmente com 37 anos, veio de Itajaí para Joinville para a entrevista com a gerente. Em dezembro de 2005, ele iniciou os trabalhos na empresa, fazendo atendimento por telefone. Depois, mudou de função e passou a trabalhar com o pai de Sandra, que também era funcionário lá.
Continua depois da publicidade
– Quando você trabalha muito, nem tem tempo para sair e conhecer alguém. A admiração por pessoas próximas, do seu convívio diário, se torna maior, portanto – acredita Ricardo.
A admiração pela chefe cresceu tanto que ele, apaixonado, deixava bombons na mesa dela, chamava o pai da moça de sogro… Em abril de 2006, ele mudou o comportamento, parou com todo o galanteio. Sandra ligou para Ricardo em um sábado e o chamou para ir ao cinema. Ele negou. Passaram-se uns dez minutos e Ricardo ligou de volta aceitando o convite.
Marcaram de se encontrar num shopping da cidade. Ele foi à livraria. Ela, provar roupa. Mas a moça ficou presa dentro de uma peça, o que fez com que se atrasassem para a sessão. Sem assentos juntos, assistiram ao filme cada um num canto da sala de cinema.
Continua depois da publicidade
Depois da sessão, Sandra o chamou para ir à casa dela. Lá aconteceu o primeiro beijo. Os próximos passos não demoraram a acontecer: noivaram dois meses depois e se casaram em janeiro de 2007. Hoje, o casal tem uma filha: Rafaela, de três anos.
Ricardo se formou em redes de computadores pelo Senai. Depois, cursou técnico em eletrônica pela Tupy. O trabalho dele, atualmente, é focado em empresas, enquanto o dela é focado em residências. Assim, ele deixou de ser seu subordinado direto.
– Quando você sai com os amigos de trabalho, acabam falando de trabalho. É a mesma coisa entre o casal. Hoje, conseguimos nos desligar mais da empresa. Mas é natural que a gente chegue nos ambientes olhando para o alto à procura de antenas de rádio (risos) – conta ele.
Continua depois da publicidade
Morar e trabalhar juntos, no entanto, pode ser uma vantagem. Ricardo diz que fica mais fácil entender quando o outro está de mau humor, por exemplo. Já Sandra diz que o casal se apoia mais.
– Às vezes, rolam divergências quando discutimos projetos. É complicado quando vem o marido para a reunião e não o colega de trabalho. E eu, às vezes, vou gerente para casa, querendo dar ordem, por isso o diálogo é tão importante. É assim no relacionamento e também na empresa, temos liberdade para falar.
Os dois trabalham no mesmo prédio, mas hoje a rotina ocorre em andares diferentes. Para que cada um tenha seu espaço, fazem alguns arranjos, como tirar férias separados.
Continua depois da publicidade
– É importante ter paciência e se dedicar muito. O que importa mesmo é você ter encontrado a pessoa certa. O que é mais fácil encontrar: um emprego ou o amor da sua vida? É uma questão de prioridades – avalia Ricardo.

A fórmula ideal
Para Jheniffer Bernardo, 26 anos, e Evandro Ledes, 35, o amor teve início no verão e perdura por muitas estações, há oito anos. Na época, ela fazia cursinho pré-vestibular com uma prima de Evandro. Conheceram-se na casa dela e logo Jheniffer fez amizade com as irmãs do rapaz. Foi num jantar com toda essa galera que rolou o primeiro beijo, um segredo que eles decidiram manter em nome da amizade.
Jheniffer começou a faculdade de química industrial e Evandro a buscava no fim das aulas. Assim, foram se conhecendo e se gostando cada vez mais. Evandro trabalhava numa assistência técnica de máquina copiadora, e ela procurava seu primeiro emprego. Como sempre gostou de ambiente de salões de beleza, Jheniffer pensou em procurar algo na área. Comentou com seu cabeleireiro que estava interessada em estudar o assunto e ele a convidou para ser sua assistente. Jheniffer desistiu da faculdade e encontrou uma nova paixão nas tesouras e secadores. Nesse meio tempo, ela e Evandro começaram a namorar.
Continua depois da publicidade
Quando ela já estava havia um mês trabalhando no salão, Evandro, descontente com seu trabalho, começou a auxiliar nos fins de semana e logo mudou de ramo também. Tinham apenas seis meses de relacionamento quando tudo isso aconteceu. No início era complicado, principalmente por causa dos ciúmes.
– Salão, muita mulher… Algumas mulheres davam em cima dele, mas o Evandro sempre teve uma postura muito profissional, cortava as investidas de uma maneira muito educada, deixando bem claro que me amava e estava ali para trabalhar. Esta foi a base mais importante do nosso relacionamento: o respeito e o carinho de um para o outro – conta Jheniffer.
Com oito meses de namoro, certos de que continuariam juntos, passaram a morar no mesmo lar. A jovem cabeleireira decidiu trabalhar em outro salão, pois precisava desse distanciamento para evolução profissional. Trabalharam separados por três anos, o que ela considera muito benéfico, pois deu maturidade ao relacionamento.
Continua depois da publicidade
Apesar de ser paranaense, Evandro morou a vida toda em São Paulo, onde Jheniffer nasceu e se criou. Ele tinha o sonho de morar no Sul, e quando a oportunidade surgiu, o casal não pensou duas vezes. Em 2011, mudaram-se para Joinville e voltaram a trabalhar juntos. Agora, há quase dois anos, eles dividem a rotina no Salão Márcio Vargas Cabeleireiro.
– Claro que estar com a pessoa 24 horas ao seu lado requer um pouco mais de cuidado no relacionamento. Saímos bastante para jantar, procuramos viajar sempre que podemos, Nos fins de semana curtimos um ao outro sem pensar no salão. Claro que isso dá trabalho, mas um ajuda o outro. E ter mudado de cidade também ajudou muito: casa nova, emprego novo, Estado novo, amigos novos…