Entre casar e comprar uma bicicleta, elas ficam com a segunda opção. Para muitas mulheres, o casamento não representa mais um destino traçado e selado; elas querem, podem e já estão escolhendo outras formas de organizar a vida, sem incluir nos planos o conhecido pacote matrimonial: casa, comida, roupa e rotina compartilhada.

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Quando tinha 18 anos, Jenifer Rodrigues topou assumir oficialmente compromisso _ mãe solteira do pequeno Victor, a jovem sentiu a pressão dos pais e dos conhecidos para subir ao altar e cedeu. O casório teve direito a véu, grinalda, festa e uma semana de lua de mel. Depois da viagem, a relação durou apenas três dias.

– Quando voltamos e começou a rotina, percebi que não dava. Eu não queria passar o resto da minha vida acordando e dormindo com a mesma pessoa, tendo que dar satisfação de tudo e dividir até meus pensamentos. Separei – conta a gerente de vendas, que optou por não repetir a experiência.

Segundo a pesquisa O que quer a mulher brasileira?, feita pela antropóloga Miriam Goldenberg em abril deste ano, casos como o de Jenifer são cada vez mais comuns e têm a ver com os anseios femininos modernos. De acordo com o estudo, o principal desejo das mulheres atualmente é liberdade, seguida por independência e um salário maior.

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Para a psicóloga especialista em relacionamentos Mariana Yamada, o fato de a mulher se dedicar cada vez mais à carreira profissional influencia diretamente a questão do casamento.

– Antigamente a mulher devia abdicar de tudo para cuidar da casa, do marido e dos filhos. Hoje não. As mulheres são provedoras e a vida profissional é importante também para sua própria satisfação. Se não encontram uma pessoa com quem possam desenvolver uma relação equilibrada, a renúncia pelo casamento é uma opção.

Hoje, aos 34 anos e mãe de dois filhos, Jenifer namora há dois anos – embora hesite em rotular o relacionamento – e tem certeza de que a melhor forma de manter a relação saudável é não passar desta etapa, quando o casal só se encontra nos momentos em que a vontade aparece, sem cobranças. E sobre a aliança prateada que ostenta no dedo anelar da mão esquerda, ela revela:

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_ Quando me perguntam se sou casada, digo que sim. Só não explico que é comigo mesma…

Quando o casamento não é prioridade

Foto: Lucas Amorelli, Agência RBS

Na ficção popular, o casamento ainda é passo obrigatório para os namorados: todo final de novela termina com casais na igreja, enquanto das solteiras convictas se espera que cedam ao compromisso – questão recentemente abordada pela personagem Patrícia, de Amor à vida, que evitava se envolver com Michel após um casamento-relâmpago traumático.

Na vida real, a escolha por morar sozinha e levar uma vida sem marido tem se tornado mais natural. Fabiana Rosa, 34 anos, nunca casou – passou perto de receber o pedido, quando um de seus namorados chegou a comprar as alianças, mas o relacionamento terminou antes do noivado – e diz que não pretende abrir mão da vida que leva sem um bom motivo, mas não descarta a possibilidade.

– Estamos numa fase de mudança, diferente da geração das nossas mães e avós que aceitavam muita coisa porque precisavam da segurança do casamento. A gente não precisa, mas ainda é uma fase de adequação. Percebo que os próprios homens parecem um pouco perdidos quanto ao perfil da mulher hoje – comenta a bióloga, que trabalha como assessora de saneamento ambiental em uma empresa de Blumenau e está solteira há mais de um ano.

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Além do trabalho, Fabiana gosta de guardar tempo para se dedicar a outras atividades, como o curso de culinária e de fotografia, que terminou há poucas semanas. Por levar uma vida confortável financeiramente, com apartamento próprio e um emprego que lhe traz satisfação, ela diz que o casamento só seria possível se não tivesse que abrir mão de nada disso.

– Tenho amigos, gosto de sair com eles, ir a restaurantes e bares. Pra casar teria que ser alguém pra acrescentar na minha vida, que se encaixasse na vida que eu tenho.

A psicóloga Mariana Yamada explica que a mulher moderna está tomando consciência de que não precisa ceder aos seus próprios anseios para se adequar a um modelo desgastado de casamento.

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– Hoje casar por casar não garante nada em uma relação e as mulheres não precisam de um estado civil para se sentirem melhor. Muito pelo contrário, a mulher quer um homem compreensivo, parceiro, que assuma as mesmas responsabilidades quando se trata das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos. O casamento em si é secundário.