Em janeiro deste ano Aloisius Lauth, que havia sido aluno de Raulino Reitz no Seminário de Azambuja, em Brusque, esteve em Antônio Carlos à procura de vestígios do padre e botânico na cidade para escrever uma biografia do grande pesquisador. A dificuldade de Lauth em encontrar a casa onde Reitz vivera quando criança e pessoas que conhecessem a história do botânico chamou a atenção do secretário de educação e cultura de Antônio Carlos, Altamiro Kretzer.
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– Percebi que a memória do padre Raulino estava se perdendo, e algo precisava ser feito para reverter a situação.
No Museu do Imigrante, que fica no prédio da prefeitura, junto a peças que retratam a colonização alemã da cidade estão alguns objetos que pertenceram a Raulino Reitz: dois ternos, algumas fotografias e quadros, uma lembrança da primeira comunhão e o diploma de Doutor em Ciências pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Do outro lado da sala, os prêmios que recebeu como botânico e cidadão, entre eles o Prêmio Global 500, da Organização das Nações Unidas-ONU, concedido em 1990, criado para homenagear indivíduos e organizações que lutam pela defesa do meio ambiente, além de algumas fotografias que foram totalmente destruídas e são irrecuperáveis.
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Veja uma galeria de fotos com as marcas que Raulino Reitz deixou em Antônio Carlos
No fim de 2008 e início de 2009, o local foi inundado em uma enchente, e muitos objetos foram atingidos. Além de danificadas, as peças estão sujas e desorganizadas e não têm identificação. Não é possível saber o que pertenceu a Reitz e o que faz parte do acervo da imigração.
Promessa é inaugurar novo museu em novembro
Com o alerta gerado por Lauth, teve início uma saga em busca de um novo local e de um correto tratamento dos objetos. A prefeitura já encaminhou à Fundação Catarinense de Cultura (FCC) o projeto de reforma de uma casa, já propriedade da prefeitura e uma das residências mais antigas da região central da cidade, e aguardam a liberação dos recursos. A obra é estimada em R$ 80 a R$ 100 mil. Os recursos virão em parte da prefeitura, e em parte do governo do Estado.
Para cuidar da restauração e catalogação, a secretaria entrou em contato com os setores de museologia e arquivologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e com o Centro de Memória da Assembleia Legislativa do Estado, mas ainda não foi estabelecida nenhuma parceria. Os planos são de inaugurar o museu, que vai receber o nome de Raulino Reitz, no dia do aniversário da cidade, 6 de novembro.
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Além das peças que já estão com a prefeitura, espera-se recuperar pertences do botânico que estão com amigos e pessoas que trabalham com Reitz, entre documentos e correspondências, um diário pessoal e fotografias.
Padre dos gravatás
Padre e cientista, mas não só isso. Nascido em Antônio Carlos, Santa Catarina, Raulino Reitz foi um reconhecido pesquisador brasileiro no campo da botânica, com foco em bromélias e orquídeas, e acumulou prêmios nacionais e internacionais pelo seu trabalho. Em 1956 catalogou uma planta típica do Vale do Itajaí, que recebeu o nome de Raulinoa echinata em sua homenagem (é conhecida popularmente como cutia-de espinhos).
Por causa de sua pesquisa, ficou conhecido como padre dos gravatás, outro nome popular para as bromélias. Entre diversos outros feitos, escreveu livros sobre a flora catarinense e do sul do país, foi diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro de 1971 a 1975 e fundador da Fatma – Fundação de Amparo à Tecnologia e o Meio Ambiente de Santa Catarina.
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Quem o conheceu conta que Reitz era um pesquisador nato que amava sair a campo para colher amostras de plantas. Ele percorreu milhares de quilômetros em suas pesquisas. O padre estudou e lecionou no Seminário de Azambuja, em Brusque, e viveu em várias outras cidades do Estado. Sua última residência ficava em Itapema, litoral Norte.
O sobrinho Jaime Schimitz, que vive hoje em Antônio Carlos e que conviveu com ele até os seus últimos anos, se recorda de Reitz como um homem simples e que gostava muito de conversar com as pessoas e falar sobre tudo, principalmente das plantas.
– Me lembro de uma história em especial. Padre Raulino me contou que certa vez, na tentativa de salvar uma figueira doente em Brusque, alguns estudiosos americanos foram consultados. Eles responderam, simplesmente, que o maior entendedor do assunto havia nascido e morava ali mesmo em Santa Catarina. E me contou isso dando gargalhadas – lembra o sobrinho.
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Raulino Reitz morreu em Itajaí, em novembro de 1990, em decorrência de um infarto fulminante. Seu corpo está enterrado ao lado da igreja matriz de Antônio Carlos, a Igreja Sagrado Coração de Jesus.