02 e 03 de março de 2013:
Rio de Janeiro: em 1992, Copacabana fazia 100 anos. Em 90, comecei a pintar uma grande coleção de quadros para festejar o evento. Esta exposição percorreu várias capitais do Brasil e alguns países, EUA, França, Bélgica e Alemanha. Inspirado nos poemas, canções, contos e músicas, acabei me apaixonando por esta “mulher” e para ela escrevi várias cartas. Hoje, mostro algumas.
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Bonjour, Copacabana
Na noite passada sonhei outra vez com você.
Sonho bonito, colorido, parecia real.
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Eu era azul e você, o mar.
Você toda branca e eu suas areias.
Neste ano você faz 100 anos e eu fiz 50.
Não a conheci menina, não lamento por isso,
pois a quero mulher;
com histórias e memórias,
segura por ser madura,
com magias por ter segredos,
bela por ter vivido.
No sonho, deitei nas suas noites,
Beijei seus seios e dancei seu ritmo
No próximo verão irei lhe ser;
até lá, terei novos sonhos e você me dará outras tintas.
Você é viva-cor e eu, o seu pintor.
Na larga areia branca, cenograficamente a réplica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro para, no cair da tarde, um espetáculo de música clássica.
Silhueta das montanhas com curvas sensuais, lambidas pelas águas deste mar malicioso.
Janela do atelier: meus pincéis guardados em vasos lalique, debruçados na janela, tentando captar as cores desta cena.
Carta a Copacabana
Verão é verão, 40 graus talvez. Agora está toda Carnaval com alegria e suor. Eu, aqui, sou saudades. Estou inverno, dois graus negativos e um pouco resfriado. Gostaria de lhe escrever uma longa e deliciosa carta, sincera, na qual poderia me confessar de todo, contar desejos, falar segredos. Carta com palavras bonitas como: passamanes, fi láucia ou marsúpio, das quais, na verdade, nem sei direito o signifi cado, mas que dão elegância à linguagem. Porém, sem jeito com os verbos, a carta deixo pra lá. Pensei, então, numa doce poesia, com bastante melodia, na qual cantaria os sólidos castelos de sonhos que fi z das suas areias. Daria cores ao vento e música ao seu mar. Sem o poder da rima, apenas suspiro. Desajeitado, triste, fi quei sem maneira de exprimir este amor que já é minha religião. Durante o dia, penso em você sempre em forma de oração. À noite, comungo: como pão, bebo vinho. No primeiro gole, com respeito, mando um beijo a uma santa, depois embriagado mais de você do que do vinho, inspirado, sinto-a como mulher… e pinto um quadro.
Amor meu
Hoje acordei feliz feito um passarinho,
como um menino em seu último dia de escola,
ou melhor ainda, herdeiro no enterro da velha tia rica.
Por isso resolvi ir à sua grande festa.
Comprarei até mesmo uma camisa nova, talvez branca.
Os sapatos, usarei um velho par, bem macio, para que possa dançar a noite toda. Espero encontrá-la bem bonita, com um vestido de estampa viva e decote generoso. Enfeite-se com joias e balangandãs.
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Os cabelos, deixo-os soltos, que o vento lhes dará forma.
O perfume, que seja “saudades”, com algumas gotas de boas lembranças.
Nos lábios, passe batom, tal qual a minha paixão pela cor e sabor.
Não convide muita gente, de preferência ninguém, seremos só nós dois.
Com a música não me preocupo, você tem a melhor.
Chegarei cedo, pois você é a minha festa.
Se atrasar, não comece sem mim.
Caso não apareça, é porque nem convidado fui.