A carta de um detento para o seu advogado deu rumo à investigação sobre os responsáveis pela morte da agente Deise Alves, 30 anos. A lista dos 12 indiciados pelo assassinato da agente penitenciária inclui criminosos da liderança da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC). Eles são apontados pela polícia como os mandantes do crime e poderão ir a júri popular se forem denunciados pelo Ministério Público.

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Segundo o delegado Rodrigo Green, responsável pelo inquérito, a correspondência apreendida na carceragem da Deic, com o preso Marciano de Carvalho, 19 anos, foi decisiva para esclarecer o caso.

Marciano foi preso quatro dias após a execução de Deise. Ele apresentava ferimento de tiro numa das pernas. Em depoimento, contou que teria sido alvejado na rua de casa, versão que nunca teve confirmação de testemunhas na região.

Green afirma que Marciano dizia na carta, endereçada ao seu advogado, que iria mudar de versão sobre o ferimento. Agora, resolveria contar que a lesão tinha sido provocada por ele mesmo num disparo, o que o delegado afirma que seria facilmente descoberto como algo inverídico pela perícia.

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Durante o processo, inquérito da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) concluiu que os criminosos orquestraram o crime de dentro de cadeias, especialmente a Penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis.

O objetivo dos fundadores e pensadores da facção era matar o então diretor, Carlos Alves, pela linha dura imposta contra os detentos e o corte de regalias. O plano deu errado e a mulher de Carlos, Deise Alves, que também é agente penitenciária, acabou sendo morta.

O delegado Rodrigo Green, responsável pelo inquérito, afirmou nesta segunda-feira que pelos depoimentos e cartas apreendidas ao longo dos dois meses, a polícia descobriu que, mesmo tendo errado o alvo, os presos conseguiram o objetivo, que era afastar Carlos do comando da prisão.

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O diretor deixou o cargo duas semanas após a morte, em meio a uma onda de atentados a ônibus e unidades policiais ocorridos após o assassinato e que também são tratados pela polícia como obra do PGC.

– A Deise foi morta por engano, mas eles queriam atingir o Carlos, tirá-lo da direção da penitenciária e conseguiram o objetivo – observa o delegado.

Dos 12 indiciados, 11 estão presos em prisões na Grande Florianópolis, Norte e Sul. O foragido é Rafael de Brito, o Schrek, que teria fugido para São Paulo após o crime.

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A Justiça ainda não se manifestou sobre o futuro do caso. Por enquanto, todos os 12 presos estão com prisão preventiva decretada. Na fase policial, todos negaram envolvimento. O DC não teve acesso aos presos nem aos nomes de seus advogados.

Dos líderes indiciados, há presos com mais de 30 anos de penas para cumprir. Por isso, há quem entenda no meio policial e prisional que a pena a ser aplicada pelo assassinato pouco mudaria a condição de cada um.

A maior punição, defendem alguns policiais, seria o isolamento no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

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Do planejamento à execução por engano

Como foi planejado o assassinato do diretor e que terminou com a morte de sua mulher:

Presos PGC e articuladores das ideologias da facção decidiram matar o então diretor da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, Carlos Alves.

Por cartas ou visitas, se comunicaram entre si e ordenaram a execução do diretor para os criminosos chamados disciplinas, que são os responsáveis em cumprir as ordens nas ruas.

Fabricio da Rosa teria arrumado a arma para o crime, uma pistola 9mm que ainda não foi apreendida.

Reuniram-se para executar o assassinato Marciano Carvalho dos Santos, Oldemar da Silva, o Mancha, e Rafael de Brito, o Schrek, o único foragido.

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Na noite de 26 de outubro, uma sexta-feira, os três seguiram o Megane preto de Alves até a sua casa, em uma moto e num carro. Quando o carro estacionou, na frente da casa de familiares, a agente Deise Alves, mulher do carro desceu e logo foi baleada.

O carro estava com película e por isso os atiradores não perceberam que não era Carlos quem estava dentro e a mataram por engano.

Deise ainda conseguiu reagir e acertou Marciano com um tiro na perna. O rapaz, quando foi preso, apresentava o ferimento.

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Fonte: Deic.

Os 12 indiciados pela Deic:

Marciano Carvalho dos Santos – teria sido quem atirou e matou a agente.

Rafael de Brito, o Schrek – teria participado da cena do crime.

Oldemar da Silva, o Mancha – teria participado da cena do crime.

Fabricio da Rosa – teria fornecido a arma, uma pistola 9 milímetros.

Adilio Ferreira, o Cartucho – mandante.

Evandro Sergio da Silva, o Nego Evandro – mandante.

Rudinei Ribeiro do Prado, o Derru – mandante.

Rene Augusto Rocha, o Cumpadre – mandante.

Jocenir Fagundes de Oliveira, o Bruce – mandante.

Sebastião Carvalho Walter, o Bastião ou Polaco – mandante.

Mario Antonio Laurindo, o Kiko Medalha – mandante.

Robson Vieira, o Robinho – mandante.